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Em busca de ar puro, cariocas encontram na bicicleta a parceria perfeita

Entre junho e julho deste ano, venda das magrelas mais que dobrou em relação ao mesmo período de 2019. Lojistas celebram

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 18 set 2020, 15h17 - Publicado em 18 set 2020, 06h00
Lorena e Ana Balbino: filha e mãe adotaram o ciclismo durante a pandemia (Leo Lemos/Veja Rio)
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A busca por ar puro, abundante em espaços amplos e abertos, ascendeu junto à constatação de que, em um ambiente assim, as pessoas têm muito menos chance de ser infectadas pelo novo coronavírus do que em lugares fechados. Foi aí que a bicicleta, às vezes esquecida e até enferrujando na garagem, começou a ser cada vez mais usada como meio de transporte em cidades de todo o planeta – medida que a Organização Mundial da Saúde não só apoia como incentiva.

A OMS afirma que este é o modo de locomoção mais indicado no momento, por permitir o deslocamento preservando o distanciamento social, e ainda propiciar a prática de uma atividade física, muito bem-vinda quando ela anda em baixa em consequência da pandemia. Os cariocas, que contam com paisagens deslumbrantes para explorar sob duas rodas, naturalmente aderiram – e com um entusiasmo notável.

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Os números deixam claro que os ventos sopram a favor das bikes. Um levantamento da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas mostra que, entre 15 de junho e 15 de julho, a venda das magrelas mais que dobrou em comparação ao mesmo período de 2019.

O estoque de muitas lojas caiu a zero – uma surpresa para o período, que costuma ser de baixa para o setor. “A gente viveu um Natal fora de época”, festeja Marcello Toshio, gerente de marca da Decathlon, rede francesa com lojas na Barra da Tijuca e no Shopping Nova América, na Zona Norte. “O mercado brasileiro em geral não estava preparado para essa alta na demanda. Como muitas peças vêm da Ásia e a procura estourou no mundo todo, ficou difícil dar conta”, explica.

Não apenas as bicicletas, mas também acessórios – capacetes, luvas, luzes de sinalização – escassearam nas prateleiras. A plataforma Google Trends mostra que nunca os brasileiros digitaram tanto o termo “andar de bicicleta”. Nesse ranking, o Rio é o número 1 em buscas pelo tema, procura que vem crescendo mês a mês desde março, a ponto de bater o recorde da década.

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“Como escolher uma bicicleta?” é a pergunta que mais tem aparecido. Uma dúvida importante, já que há uma profusão de modelos para diferentes tipos de uso e bolsos. Bicicletas de alta performance para trilhas podem custar até 100 000 reais, a depender do calibre dos acessórios. As mais procuradas nestes tempos, porém, são chamadas “de entrada” e oscilam entre 1 000 e 2 000 reais. O ideal é usá-las para vencer distâncias não muito longas, seja para lazer nos fins de semana ou até para ir e vir do trabalho.

O ciclismo também foi abraçado como esporte por uma turma que se viu sem opção depois que academias foram fechadas e atividades físicas coletivas, suspensas. Aconteceu assim com Ana e Lorena Balbino, mãe e filha, de 55 e 34 anos. Elas começaram a acompanhar Lenita, 50 anos, irmã de Ana, que já fazia triatlo. Foram fisgadas no ato e passaram a pedalar em família, e com toda a disciplina. Acordam às 4 horas da manhã e, no escuro, dão início a um circuito de cerca de 30 quilômetros que inclui subidas até a Vista Chinesa e outros pontos do Parque Nacional da Tijuca.

“Sempre gostei de spinning na academia, mas nunca tinha pedalado ao ar livre. Poder estar em contato com a natureza e observar os detalhes da cidade é um privilégio. Estou mais feliz e bem disposta”, conta Lorena, a filha. “A pandemia passou na minha vida feito um furacão: tive Covid-19, perdi minha mãe por causa do vírus e me separei. A bicicleta foi uma forma de prestar mais atenção em mim e me preparar para essa nova vida”, desabafa Ana, a mãe, que é dermatologista e não pensa mais em parar de pedalar.

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A cidade colabora com as aspirações de cariocas como ela. Além da extensa malha de ciclovias, sua topografia, com montanhas que oferecem trilhas e mais trilhas, mesmo que curtas, trazem desafios e estímulo à prática. São 460 quilômetros de extensão (contabilizados ainda ciclofaixas e pistas e calçadões compartilhados), a terceira malha do país, atrás de São Paulo e Brasília.

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Evidentemente há obstáculos no caminho, como buracos, má conservação (cujo exemplo maior é o trecho Tim Maia, em São Conrado, com histórico de quatro desabamentos) e motoristas que não aprenderam a coexistir com ciclistas. Com tudo isso, o cartão-postal carioca ainda é para lá de convidativo.

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Sem falar nos benefícios das pedaladas para a saúde: a atividade aeróbica fortalece a imunidade e ajuda a função cardiovascular. Para coxas e panturrilhas, o efeito é semelhante ao da musculação. Os resultados podem ser verificados após dois meses de prática regular, de acordo com o médico Jomar Souza, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Um cuidado, porém, deve ser tomado. “Fazer antes um checkup. Quem teve Covid-19 ou conviveu com quem se infectou pode ter alguma sequela respiratória ou cardíaca”, atenta o médico.

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Estudos mostram que a bicicleta substitui bem percursos de até dez quilômetros, assumindo um papel importante como meio de transporte – o que, aliás, já ocorre em muitas cidades do mundo. “A bicicleta pode fazer inclusive com que as pessoas tenham mais acesso ao transporte público. Quem não mora perto do metrô complementa a viagem pedalando”, diz Suzana Kahn, professora de engenharia de transportes e vice-diretora da Coppe/UFRJ, que ressalta: “Mas é importante que haja estrutura de bicicletários e expansão do aluguel de bicicletas para todas as áreas da cidade”.

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A pesquisadora Juliana DeCastro, também da Coppe, lembra que não é só nas ciclovias que as magrelas devem estar: “No Código de Trânsito Brasileiro, a bicicleta é definida como um veículo como outro qualquer. O grande desafio é viabilizar ruas em que carros, ônibus, bikes e até patinetes convivam em harmonia, como ocorre nas metrópoles desenvolvidas”, afirma. Uma boa vizinhança que interessa não apenas àqueles que estão desbravando o Rio sobre duas rodas, mas a todos que almejam uma cidade melhor.

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Para passear na ciclovia, os mais indicados são os modelos urbanos, com pneus mais finos e bancos confortáveis. Atenção: a altura e o peso do condutor devem ser levados em consideração.

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modelo urbano
Modelo urbano: confortável para curtas distâncias (Btwin/Divulgação)

Como meio de transporte, o melhor é explorar a seção das bicicletas elétricas — há modelos a partir de 2 000 reais.

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Se o objetivo são longos trajetos no asfalto em boa velocidade, o mais recomendado é ter o assento elevado e o guidão virado para baixo.

aslfato velocidade
Velocidade: bicicletas boas para “correr” no asfalto têm assento elevado e guidão para baixo (Triban/Divulgação)
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Interessados em trilhas devem priorizar as mountain bikes, que possuem pneus mais grossos e guidão reto.

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Modelo ideal para subidas: bike com muitas marchas (KSW/Divulgação)

Quanto mais ladeiras pelo caminho, maior a utilidade das marchas — subidas exigem as mais leves.

 

 

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