Fascinado pela capoeira desde garoto, o niteroiense Carlo Alexandre Teixeira começou a praticar o esporte aos 15 anos, após assistir a uma apresentação em um teatro. Hoje, com 48, ele é um dos responsáveis por resgatar a cultura negra no Cais do Valongo, um dos lugares mais emblemáticos da história da escravidão brasileira — o antigo porto do Rio serviu de entrada para mais de 500 000 africanos no país, antes de ser aterrado pelo prefeito Pereira Passos, em 1911. Formado em fisioterapia, Carlo fez mestrado na Inglaterra, onde fundou, em 2004, o projeto Kabula, responsável por atividades de intercâmbio cultural entre diversos países. Por meio dessa iniciativa, ele chegou a apresentar a arte marcial brasileira ao público de lá. Em 2011, após idas e vindas entre Londres e o Rio, decidiu voltar de vez e se dedicar à capoeira. “Cheguei no ano em que estavam sendo descobertas as relíquias arqueológicas do Valongo na Zona Portuária. Fui conhecer o local e pensei em montar uma roda ali”, lembra Mestre Carlão, como é conhecido. Surgia assim o projeto O Porto Importa — Memórias do Cais do Valongo, que, desde junho de 2012, promove apresentações públicas de capoeira no lugar.
“Todo o projeto teve origem na rua, por meio da ocupação do espaço público e do resgate da memória”
Os encontros são precedidos pela Roda dos Saberes, série de conferências sobre identidade e manifestações culturais africanas. Cada evento reúne cerca de 200 pessoas, incluindo estudantes, turistas e moradores da região. Desde o início do projeto, já houve 25 palestras. Em fevereiro do ano passado, a importância da iniciativa foi reconhecida pelo Prêmio Porto Maravilha Cultural, oferecido pela prefeitura do Rio. Todo o conteúdo gerado nos encontros acaba de ser publicado em um livro com as histórias contadas nas rodas. O projeto rendeu ainda uma exposição fotográfica com imagens de Maria Buzanovsky, em cartaz no Museu de Arte do Rio, e um filme de entrevistas com os pesquisadores participantes. Com esse material em mãos, Carlo pretende realizar oficinas em escolas públicas da cidade para difundir a história da região. “Vamos doar os livros, exibir o filme e fazer apresentações de capoeira para que os alunos tenham contato com toda essa cultura”, explica. “O que mais me orgulha é que o projeto teve origem na rua, por meio da ocupação do espaço público e do resgate da memória.”