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O construtor que irá erguer a Vila dos Atletas

Aos 90 anos, o empresário Carlos de Carvalho prepara sua grande tacada para os Jogos de 2016

Por Daniel Hessel Teich
Atualizado em 2 jun 2017, 13h06 - Publicado em 4 jun 2014, 19h24
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  • Empresário tarimbado, Carlos Fernando de Carvalho é pouco afeito ao misticismo. Mas não se furta a enveredar por esse território ao falar sobre o empreendimento que ergue nas margens da Lagoa de Jacarepaguá. “Quando o Roberto Medina escolheu esse lugar para o primeiro Rock in Rio, disse que tinha uma energia incrível”, recorda enquanto passa ao lado da estrutura geodésica que foi palco do festival há mais de duas décadas (hoje uma ruína enferrujada nos fundos do terreno). De fato, é bom contar com a boa vontade do além para conduzir a tarefa a que ele se propôs: construir e depois vender um bairro com 31 torres de apartamentos até janeiro de 2016. Aos 90 anos de idade, completados na semana passada, Carvalho é o homem que está por trás da Vila dos Atletas, o complexo de sete condomínios que abrigarão 18?000 esportistas durante as Olimpíadas, ao lado do Riocentro. “Em condições normais, levaria mais de dez anos para fazer um projeto semelhante. Obviamente, é uma chance que eu não poderia perder”, conta o nonagenário, proprietário da construtora e imobiliária Carvalho Hosken.

    Além do apetite para oportunidades, Carvalho é dono de uma notável disposição para o risco. Um negócio do porte da Vila dos Atletas foge completamente dos parâmetros habituais, seja pelo tamanho, prazo ou volume de recursos exigidos. Batizada oficialmente como Ilha Pura Empreendimentos, a empresa que construirá os prédios é uma sociedade entre a Carvalho Hosken e a Odebrecht. Dono do terreno de 820 000 metros quadrados onde os prédios ficarão, ele possui de metade da operação. Seu sócio é um gigante e ele acredita ter tomado precauções que reduzem sua exposição. Mas quem se aventurou por esse caminho no passado, se deu mal. A construtora Agenco, por exemplo, naufraugou ao erguer a Vila do Pan em 2007 e hoje, insolvente, enfrenta mais de 800 processos na justiça. “Carlos de Carvalho é um empresário inovador e visionário, que sempre pensou em projetos à frente de seu tempo. A principal garantia do empreendimento é justamente o histórico de sucesso da Carvalho Hosken e da Odebrecht”, diz Antonio Pessoa, diretor-superintendente da Odebrecht Realizações Imobiliárias.

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    Quem visita o canteiro de obras se espanta com o rapidez da construção. Nos gabinetes e escritórios onde se tomam as decisões entretanto, o ritmo é bem mais lento. Por meses, discutiu-se, por exemplo, quem pagaria a conta dos alugueis dos imóveis no período entre o fim dos Jogos Paralímpicos, em setembro de 2016, e a entrega aos compradores, em junho de 2017, prazo necessário para conversão dos apartamentos ao uso residencial. Recentemente, acertou-se que o Comitê Rio 2016 arcaria com a despesa. Da mesma forma, o contrato com a Caixa Econômica Federal, no valor de 2,2 bilhões de reais, foi assinado apenas no último dia 30. Para não comprometer o cronograma, as duas construtoras aplicaram 300 milhões de reais cada uma nas obras antes mesmo do financiamento ser fechado.

    A pressa não é apenas para construir, mas também para vender. A partir do segundo semestre, os interessados poderão adquirir unidades de dois a quatro quartos do Ilha Pura por valores entre 700?000 a 1,4 milhão de reais. Colecionador de obras de arte e antiguidades, Carvalho fez questão de que tudo fosse bem chique. “Não queria nada com cara de conjunto habitacional. Isso vai ser uma região de empreendimentos de luxo”, prevê. Com quatro filhos (dois envolvidos na administração da construtora), seis netos e duas bisnetas, Carvalho toma todas as grandes decisões e dá a última palavra na empresa. Para ele, o complexo é estratégico, pois trará visibilidade para uma região onde possui aproximadamente 2 milhões de metros quadrados em terrenos. Entre eles estão, por exemplo, as áreas onde ficarão os centros de mídia e transmissão de imagens de TV dos jogos e um hotel cinco estrelas, ao lado do Parque Olímpico. Paralelamente, Carvalho ainda participará de um consórcio para erguer parte da infraestrutura do complexo esportivo, ao lado de Odebrecht e Andrade Gutierrez, o Rio Mais. “Tenho me beneficiado de ondas muito favoráveis e não vou perder a oportunidade de continuar surfando”, diz o empresário. Com quase um século de vida, Carvalho está longe de desprezar bons negócios.

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