Espancado até a morte por seguranças brancos do Carrefour de Porto Alegre na última quinta (19), João Alberto Freitas, cliente negro do supermercado, está longe de ser um caso isolado entre as filiais de todo o país. O rol de vítimas recentes de agressão por parte de seus funcionários inclui uma mulher negra, lésbica e dependente química que teria furtado bolinhos de bacalhau e asas de frango congeladas na unidade do Norte Shopping, no Rio. Levada por seguranças para uma salinha, ela foi espancada e violentada sexualmente com um pedaço de madeira que a obrigou a usar fraldas por um longo período. O defensor público Eduardo Newton acompanhou o caso, ocorrido em 2017, e contou a VEJA RIO o que se passou. Por motivos de segurança, a mulher não é identificada pela reportagem.
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“A audiência de custódia com esta presa foi a pior da minha vida, nos meus treze anos como defensor público. Estávamos numa sala em que o ambiente era totalmente masculino, com exceção desta presa e da juíza Cristiana Cordeiro. Eu e o estagiário saímos da sala por alguns momentos e, quando voltamos, estavam a Cristiana (juíza) e a presa, as duas com cara de choro. Ela estava de fralda, numa cadeira de rodas e não conseguia falar o que tinha acontecido. Era uma situação de fragilidade e humilhação. Ela pediu então para que sua companheira fosse ouvida. A juíza autorizou.
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Foi daí que soubemos que ela foi empalada (violentada) com um cabo de escova de cabelo naquela salinha para onde foi levada. O crime? Informalmente ela fala – digo informalmente porque a audiência de custódia não é para isso – que teria levado asa de frango e bolinho de bacalhau, mas os seguranças listaram muitas coisas na suposta tentativa de furto, o total do que teria sido levado dava quase 900 reais, segundo os funcionários.
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Ela estava tão machucada, com o corpo tão marcado das pancadas, que chegou na delegacia e o delegado a mandou direto para o hospital, se não me engano era o Salgado Filho, para só depois registrar o flagrante. Isso é muito raro de acontecer, geralmente fazem o flagrante e depois mandam para o IML. Neste processo ela foi absolvida sumariamente, o Ministério Público apelou e ainda está em trâmite.”
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Em nota divulgada depois do caso de João Alberto, o Carrefour declarou que iniciou rigorosa apuração interna sobre sua morte e que “nenhum tipo de violência e intolerância é admissível”.