Carta ao leitor: a jornada dos heróis anônimos
A pandemia vai passar, em grande parte graças à abnegação dessa turma
É do antropólogo americano Joseph Campbell o conceito de “jornada do herói”, que enxerga nas narrativas mitológicas mais conhecidas, de Buda a Jesus Cristo, uma mesma estrutura básica. Campbell mostra, por exemplo, que importantes personagens de todos os tempos, antes de enfrentar a aventura de sua vida, têm uma rotina comum, trivial — como eu e você. A capa desta edição de VEJA RIO traz uma reportagem sobre os cidadãos que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus.
Dedicados a atividades essenciais, eles trocaram as recomendações de isolamento social por trabalho árduo, nas ruas, nos mercados e nos hospitais, para que a sociedade vença a pandemia. Na imensa aventura desses heróis contemporâneos, o risco é permanente, para eles e suas famílias. Profissional da saúde, Líbia Bellusci, 36 anos, mãe de um menino de 4, contraiu a Covid-19. Em entrevista ao jornalista Pedro Tinoco, ainda na quarentena, mas às vésperas de voltar ao front, desabafou: “As pessoas dizem que, quando isso acabar, vão querer ir à praia, viajar, festejar com os amigos. Nós, da enfermagem, só queremos estar vivos, mais nada”. A Líbia e seus colegas do front, médicos, cientistas, técnicos, policiais, garis, entregadores, entre outros heróis comuns, o nosso muito obrigado.
A pandemia vai passar, em grande parte graças à abnegação dessa turma. Enquanto isso, o Rio se adapta – outras matérias contam sobre o que os restaurantes estão fazendo para sobreviver aos salões fechados, o impacto da pandemia no ar que respiramos e até formas criativas de festejar, sem quebrar as necessárias regras de distanciamento social. Informação, caro leitor, pode ser um ótimo remédio.
*Fernanda Thedim, editora-chefe