No domingo (29), a partir das 10 horas, o carioca tem um encontro marcado com suas raízes. É que nessa data será inaugurada a Casa do Jongo, que servirá de sede para o Grupo Cultural Jongo da Serrinha, criado há cinquenta anos em Madureira. A festa terá lavagem da Rua Compositor Silas de Oliveira (onde fica o estabelecimento), com líderes de diversas religiões, café da manhã, rodas musicais e apresentação da orquestra de alunos da UFRJ. Tudo, é claro, ao som do jongo.
O imóvel, doado pela prefeitura do Rio em 2013, fica no pé do Morro da Serrinha, local de resistência do gênero musical. Afinal, foi lá que, na década de 60, Mestre Darcy do Jongo (1932-2001), ao ver que a batucada e as danças corriam o risco de desaparecer, convidou algumas jongueiras, como Vovó Teresa (1864-1979) e Djanira do Jongo (1934-1995), para passar seu conhecimento às novas gerações — até então, por tradição, o jongo podia ser dançado somente por idosos. Estava então formado o grupo Jongo da Serrinha, com a missão de perpetuar o misto de dança e cantigas (chamadas de pontos) nascido na África.
O jongo, ou caxambu, como também é conhecido, chegou ao Brasil por meio dos negros de origem bantu, trazidos como escravos para trabalhar nas fazendas do Vale da Paraíba, Minas Gerais e São Paulo. Nessa época, só tinham permissão para se manifestar nos dias dos santos católicos. Na prática, o jongo é constituído de dança de roda e de cantigas de frases curtas, entoadas por um solista, cujo refrão é respondido pelo restante do grupo. A natureza, a opressão e o cotidiano são alguns de seus temas.
Com a abolição da escravatura, os ex-cativos migraram para o Rio e, com o tempo, foram se instalando nos morros cariocas, como São Carlos, Salgueiro, Mangueira e Serrinha. A partir da década de 30, no entanto, a prática foi desaparecendo, e o único local a manter a tradição foi o Morro de Madureira. Foi graças aos jongueiros do bairro que o gênero sobreviveu e, em 2005, foi tombado como o primeiro bem imaterial do Estado do Rio de Janeiro.