Por três décadas, os moradores da Barra aguardaram ansiosos a chegada do metrô. A criação de uma linha conectada ao bairro, durante muito tempo, foi apontada como solução para os problemas de mobilidade na região. De fato, quem se desloca por ali já percebeu uma melhora considerável no tempo gasto no trânsito. O problema agora é outro. Para usarem a estação, perto do Elevado do Joá, muitos passageiros chegam de carro de pontos mais distantes da Zona Oeste e passaram a disputar as poucas vagas de estacionamento disponíveis no Jardim Oceânico. Bem cedo já está tudo lotado. Um considerável aumento no fluxo de veículos nas ruas internas e até pequenos engarrafamentos são outros transtornos mais recentes. Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Oceânico e Tijucamar (Amar), Luiz Igrejas foi se queixar à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) e ao secretário de Transportes, Fernando Mac Dowell. Ele também entrou com um pedido de regulamentação das vagas, mas até agora nada foi feito. “Briguei tanto para o metrô chegar aqui e me arrependo disso, porque provocou essa bagunça. Se o poder público não ajuda, a gente pede que pelo menos não atrapalhe”, reclama.
As alterações na rotina da área também estão atingindo diretamente os comerciantes locais. Se antes os clientes estacionavam em frente às lojas, muitos não têm mais onde parar. As vagas que eram utilizadas, em geral por curtos períodos, pelos frequentadores das galerias agora passam grande parte do dia ocupadas por quem deixa o carro por lá até a volta do trabalho. As consequências dessa mudança de comportamento já são sentidas por alguns lojistas, que viram o faturamento cair. “Meus clientes se queixam de que não têm onde estacionar e de que tiveram de dar três ou quatro voltas até encontrar uma vaga”, explica Riva Mandel, dona de uma loja de conserto de roupas no Shopping Armando Lombardi, a menos de 300 metros da estação. Procurada pela reportagem de VEJA RIO, a CET-Rio informou que estuda a possibilidade de implantação do sistema rotativo em algumas vias internas do bairro, apesar de já existirem cerca de 800 vagas públicas em um raio de 200 metros da estação. Outra reclamação comum de quem frequenta aquela parte do bairro diz respeito ao aumento da violência, especialmente de pequenos delitos. “A suspeita das autoridades é que a chegada do metrô tenha atraído mais criminosos devido ao crescimento da circulação por ruas menores e mais pacatas”, explica o delegado Marcus Neves, o novo titular da 16ª DP. Dados do Instituto de Segurança Pública sobre a área (Itanhangá, Barra da Tijuca e Joá) indicam um aumento de 129% nos casos de roubo de celular entre os meses de janeiro e abril, em comparação com o mesmo período de 2016.
Quem madruga para buscar uma vaga, no entanto, garante que o esforço vale a pena. Acostumado a gastar até duas horas por dia para chegar ao escritório, o gerente de produto Romario Melo passou a economizar tempo e dinheiro ao trocar o ônibus executivo pelo metrô. Diariamente, ele deixa sua casa, no Recreio, em direção a Ipanema. Todo o percurso agora leva quarenta minutos. “Tento vir antes das 9 horas, porque é mais fácil encontrar onde parar. Depois desse horário a situação fica bem mais complicada. Mesmo assim, se fosse de carro direto, gastaria mais tempo no trânsito e mais dinheiro com estacionamento e combustível”, comenta. De olho nessa demanda, há um projeto em curso para a criação de um estacionamento privado subterrâneo na Praça do Ó. O grupo Autoparker também está levantando um estacionamento vertical com espaço para 85 carros, a cerca de 100 metros da estação, que abre as portas no fim do mês. A empresa já tem mais de 400 interessados, dispostos a pagar diária de 25 reais ou mensalidade entre 650 e 900 reais. “A chegada do metrô abriu novas oportunidades de negócio na região. No pior cenário, estimamos um retorno do investimento em até três anos”, projeta o empresário Andres Romero, um dos sócios do empreendimento.