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Número de painéis solares no Rio é dez vezes maior do que há 4 anos

Apenas no primeiro semestre do ano, a cidade ganhou 800 painéis solares. Atrações turísticas como Museu do Amanhã e Maracanã também aderiram

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 18 set 2020, 15h16 - Publicado em 18 set 2020, 07h00
 (Getty Images/Reprodução)
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“Troquei a luz do dia pela luz da Light”, cantarolava o sambista Jorge Veiga em Café Soçaite, numa composição de 1955, a propósito do frenesi de festas da alta sociedade carioca que varavam a madrugada à base de muita luz elétrica.

Passado mais de meio século, uma parcela da humanidade caminha em direção inversa, trocando os serviços da concessionária pelas sustentáveis placas fotovoltaicas para produção de energia solar. A cidade ganhou, só no primeiro semestre, mais de 800 aparelhos do gênero (ou 3 000 painéis), suficientes para abastecer diariamente quase 20 000 pessoas. É dez vezes o número verificado em 2016.

Os dados, compilados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), mostram que a pandemia não só não freou o interesse por essa fonte de energia mais limpa como pode lhe servir de impulso. “Ao passar mais tempo em casa, as pessoas tendem a perceber que esse é um investimento que faz todo o sentido”, afirma Josiane Palomino, diretora de geração da companhia de energia Comerc.

Muitas razões contribuem para a ascensão da energia solar nos lares brasileiros. Uma delas é a alta do conceito de sustentabilidade, que embute a busca por alternativas menos poluentes. Outro chamariz é a queda no preço dos painéis: de 3 000 dólares (mais de 15 000 reais) em 2012 para um terço disso.

Em paralelo, a conta de luz dobrou ao longo da última década, o que vem estimulando muita gente a fazer as contas e ir atrás das tais placas. Para o carioca, um levantamento do Comerc, realizado em 25 capitais mais Brasília, traz boa notícia: graças à fartura de sol na maior arte do ano, em nenhuma outra parte do Brasil os painéis se pagam tão rápido.

A imagem mostra a fachada do Museu do Amanhã
Museu do Amanhã: placas de energia integradas ao projeto (Getty Images/Reprodução)
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Bastam cerca de três anos, contra mais de cinco em São Paulo. Para quem não pode ter uma placa em casa, há a geração compartilhada, modelo em que várias pessoas se unem para bancar uma planta que, quando entra em
operação, joga na rede energia que é abatida das contas dos sócios.

Cartões-postais do Rio começam a abraçar a tendência. No Museu do Amanhã e no Maracanã, as plaquinhas proporcionam uma conta de luz até 10% mais barata. “A demanda é para toda e qualquer área do estádio onde há necessidade de energia elétrica”, explica Severino Braga, CEO do Maracanã.

Outro ponto turístico sustentável é o AquaRio, que abriga o maior conjunto fotovoltaico de todo o estado. Posicionados no telhado do edifício, 2 000 painéis ocupam a área de um campo de futebol, gerando economia mensal de 124 000 reais. “É a energia solar que mantém vivos os nossos tubarões”, conta Fernando Sousa, diretor institucional e de sustentabilidade do Grupo Cataratas, à frente do aquário.

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Em novembro, a cooperativa Revolusolar inaugura uma usina cuja produção atenderá trinta famílias da Associação de Moradores do Morro da Babilônia – iniciativa finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra, promovido pela ONU. “Nossa intenção é espalhar painéis solares pela comunidade inteira”, afirma Eduardo Avila, diretor executivo da cooperativa.

Rio De Janeiro : Illustration
Morro da Babilônia: em outubro a comunidade ganhará uma usina (Getty Images/Reprodução)

Localizada entre os bairros de Copacabana, Botafogo e Urca, a favela é uma espécie de comunidade modelo nesse quesito, com vários moradores vivendo da energia solar e se beneficiando da economia gerada por ela. A Escola Tia Percília, por exemplo, economiza 6 000 reais por ano desde que a Revolusolar pôs as placas em seu telhado,
em 2018. Outro beneficiado pelo esforço da cooperativa foi o Estrelas da Babilônia, misto de pousada e restaurante que possui doze painéis.

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A conta de luz foi reduzida de 1 000 para 400 reais, mesmo com o crescimento do negócio no período. “A sensação de que não trabalho mais só para pagar boleto da Light é maravilhosa”, desabafa a dona, Bibiana González. É preciso encarar a transição energética, por assim dizer, como um investimento. Um conjunto de placas para uma casa não sai por menos de 15 000 reais. O processo de instalação e validação dos créditos gerados por elas demora e pode render dor de cabeça se não for feito por uma empresa confiável.

Em alguns casos, os telhados precisam ter a estrutura reforçada para aguentar o peso das placas. Depois de tudo pronto, ainda é necessário fazer inspeções anuais e limpeza regular para que os painéis rendam 100% (serviços que a Light não presta para pequenos geradores de energia). Por ser uma tecnologia nova, há menos eletricistas capacitados e os reparos têm custo mais elevado. A imensa maioria dos que fazem a opção, porém, costuma achar que vale a pena e lembra: um mesmo painel pode funcionar e gerar economia por até quarenta anos.

Muitas outras cidades do mundo estão atentas à energia solar. Em Seul, na Coreia do Sul, um projeto prevê a instalação de placas fotovoltaicas em todos os prédios públicos e em mais 1 milhão de residências até 2022. No ano passado, a Disney abriu em Hong Kong um resort com 4 500 painéis solares que atendem quase 2 000 pessoas por dia. Mesmo locais menos iluminados embarcaram na onda, como aconteceu em Bronderslev, na Dinamarca. Com a presença do sol em apenas 20% dos dias do ano, a cidadezinha montou um sistema hidráulico com turbina, lentes e espelhos com capacidade de gerar luz até de noite.

No Brasil, a expectativa de retomada da economia e a esperada elevação da tarifa de energia nos próximos meses devem manter em alta o interesse por energia solar. “Ela deve passar pelo mesmo movimento que os celulares, antes um privilégio para poucos, mas que hoje superam o número de habitantes no país”, aposta Guilherme Susteras, coordenador do grupo de trabalho da Absolar. O meio ambiente agradece.

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