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A última sessão

Bem localizados mas obsoletos e em grave crise, os cines Leblon e Odeon buscam soluções para não ter de fechar de vez as portas

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 12h53 - Publicado em 18 jun 2014, 13h20
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  • Reunido no saguão de visual retrô do Cine Leblon, um grupo de 150 pessoas, entre elas a atriz Luana Piovani, protestava na noite de sexta (6) contra o fechamento da sala. A mobilização havia se espraiado pelas redes sociais desde que o grupo de exibidores Severiano Ribeiro, proprietário do imóvel, anunciou o encerramento das atividades daquele ponto até o fim do ano. Como justificativa para medida tão radical, a empresa alega que o negócio se tornou insustentável. Pouco antes, uma notícia da mesma natureza desapontou os cariocas. Em crise sem precedentes, o Grupo Estação decidiu fechar as portas do Odeon. Era o último remanescente ainda em atividade na Cinelândia, região que simbolizou como nenhuma outra a pujança do mercado cinematográfico carioca. A gota d?água foi o fim do contrato com a Petrobras, que viabilizava a operação. “O Rio era uma das poucas metrópoles do mundo que ainda contavam com cinemas de rua, mas isso está mudando”, diz Paulo Sérgio Almeida, diretor do site Filme B, especializado no mercado nacional.

    O carinho que de maneira geral o carioca nutre pelos cinemas de rua não se reflete, no entanto, na bilheteria. Tanto é que só dezoito dessas salas resistem na cidade. Para elas, as dificuldades começaram no limiar dos anos 90, quando chegaram os complexos multiplex, cujo modelo de negócio era o oposto. Eles concentram recintos reduzidos, em média com 150 lugares, sempre em formato stadium e equipados com poltronas altamente confortáveis, de onde se tem visão privilegiada da tela mesmo que um pivô de basquete se abolete no assento da frente. Dispõem também de equipamentos de projeção de última geração. Não é só. Instalados em centros comerciais, esses complexos têm acesso e estacionamento em total segurança, algo nem sempre garantido no mundo exterior. Não foi por acaso que o Cine Leblon iniciou sua decadência em 2007, após a inauguração do Shopping Leblon, que proporcionou ao bairro quatro modernos cinemas. Outro baque veio com a abertura, no fim de 2010, do Lagoon, centro de entretenimento que ampliou o leque de ofertas com seis novas salas. Estacionado no tempo, o Cine Leblon viu minguar seus espectadores. Há sessões que atraem apenas vinte pessoas, o que não chega a 4% da capacidade total da sala 1, com seus 615 assentos.

    Embora o panorama seja sombrio como um filme estrelado por Béla Lugosi, as partes envolvidas buscam reverter a situação. Como solução para seu endereço no Leblon, o Grupo Severiano Ribeiro propõe um vasto quebra-­quebra no local, que ganharia três novas salas com os projetores mais modernos do mercado e uma livraria de 900 metros quadrados. A fachada ficaria mantida, mas no terreno seria erguido um prédio comercial de cinco pavimentos, filé do empreendimento no bairro que tem o metro quadrado mais valorizado do Rio. “É uma forma de viabilizar a continuação daquele espaço com atividades culturais”, afirma Luiz Henrique Baez, diretor de patrimônio da empresa exibidora. A proposta teve a aprovação da Secretaria Municipal de Cultura e da associação de moradores do bairro, mas foi rejeitada pelo órgão que zela pelo patrimônio da cidade, por se referir a um endereço tombado. “O cinema traz movimento e é benéfico para todo o comércio”, diz Evelyn Rosenzweig, presidente da AmaLeblon. Com o apoio da classe artística e dos moradores à iniciativa, o Grupo Severiano Ribeiro deve reapresentar o projeto para uma nova avaliação do poder público.

    Com longo histórico de admiração à sétima arte, o Rio foi pioneiro na indústria desse setor. Em 1896, numa sala alugada na Rua do Ouvidor, foi realizada a primeira projeção no país. A cidade viveria os tempos áureos entre as décadas de 30 e 60, cujo emblema principal foi a Cinelândia. Ali marcou época o Odeon, que em 2016 comemora seu centenário e nos últimos tempos tinha como ápice a realização do festival de Cinema do Rio. Mas, no momento, seu destino é incerto. Atolado em uma dívida de mais de 30 milhões de reais, o Estação desistiu de manter a sala em funcionamento. Em mensagem lacônica por e-mail, o grupo informa que ainda busca patrocinadores para financiar a revitalização do ponto. Em meio às indefinições, entrou na história a Riofilmes, autarquia municipal de distribuição de filmes, que tenta viabilizar a locação do espaço. Numa outra frente, as empresas exibidoras reivindicam a isenção total de IPTU para os cinemas de rua que cumprem a cota porcentual de títulos nacionais. Essa proposta será levada à Câmara dos Vereadores depois do recesso parlamentar, em agosto. Está difícil, mas um final feliz ainda é possível.

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