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Colégios e cursos criam alojamentos para quem vai prestar vestibular

Elite, Pensi e PH são algumas das instituições de ensino que mantêm espaços com intensa rotina de estudos

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 5 dez 2016, 12h03 - Publicado em 18 jul 2015, 01h00
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  • Lucas Barbosa, 15 anos, acorda às 6h30. Às 8 horas, já terminou o café e está pronto para estudar até o meio-dia. Depois do almoço, toma o rumo do colégio, onde tem aulas até as 19. É assim de segunda a sexta — sábado é dia de simulado e no domingo ainda cabem aulas especiais. A essa rotina típica dos alunos de ponta na corrida para o vestibular, Lucas acrescenta um detalhe singular. Ele, ainda no 2º ano do ensino médio, faz parte de um grupo de 39 estudantes que mora em um casarão na Zona Norte e, da hora de levantar à hora de dormir, só pensa em três coisas: estudar, estudar e estudar. No endereço em Madureira funciona o Centro de Desenvolvimento de Alunos de Alta Performance (CDAAP), posto avançado do Colégio Elite nos preparativos para provas altamente concorridas, como as de acesso ao Instituto Militar de Engenharia (IME) e ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). A ideia de confinar a turma em um alojamento com câmeras de segurança e horários rígidos de quartel vem sendo testada por outras instituições. Desde fevereiro, um apartamento na Tijuca abriga quatro adolescentes, com as contas pagas pelo Colégio pH. Criado em 1987, hoje com dezessete unidades no Rio e em Niterói, o curso Pensi também tem seu Q.G.: um imóvel no mesmo bairro, com 31 jovens.

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    Nessas casas do saber, os moradores vivem entre livros e apostilas, cercados por elementos na decoração que podem incluir fórmulas químicas e equações matemáticas escritas pelas paredes. O foco no aprendizado, a possibilidade de troca de informação permanente e o tempo que se ganha com menos deslocamentos são algumas das vantagens apontadas. “O único trabalho deles aqui é com a instrução”, diz Sandro Davison, professor do curso Pensi. Lucas, do CDAAP, concorda. “Quando não estamos dormindo, estamos estudando”, conta. No reduto do Colégio Elite, o quarto hoje ocupado por dez moças ganhou o nome de Marie Curie (1867-1934), cientista polonesa que foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel. Os 29 rapazes da casa dividem cômodos como o quarto Newton, batizado em homenagem ao inglês Isaac Newton (1643-1727), o pai da ciência moderna, formulador da Lei da Gravidade.Uma estrutura complexa garante o sossego dos estudantes. No CDAAP, onde se concentra o grupo mais numeroso, a equipe dedicada aos alunos inclui cozinheira, nutricionista e psicólogo (veja mais números no quadro da pág. ao lado). Muitos cuidados são necessários para lidar com o inevitável desgaste de uma rotina intensa, com atividades que podem se estender por dezoito horas, e com imposições variadas, a exemplo do horário-limite de volta para casa (22 horas). No CDAAP, foram registradas quatro desistências em 2014 e, até agora, uma neste ano. Justificado pelo prêmio no fim da jornada (a vaga em cursos que praticamente garantem um bom emprego no futuro), o dia a dia puxado é visto com reservas por especialistas. Médicos da Associação Brasileira do Sono lembram que dormir pouco pode afetar a memória, bem como a capacidade de aprendizado e a atenção. Psicólogo especializado em concursos, Fernando José aponta outro problema: a falta de momentos de distração. “O lazer é importante, faz com que você empreste maior qualidade ao tempo que dedica ao estudo”, explica.

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    Entre o apoio (e a cobrança) dos professores e os alertas de médicos e psicólogos, a garotada não se intimida com o regime de confinamento. Devido ao aumento da procura, o número de moradores no apartamento do pH deve crescer no ano que vem. No Pensi, estão em busca de uma casa maior. Os jovens dispostos a tanto sacrifício têm de 15 a 19 anos e são, na maioria, cariocas. Eles miram o IME, que registrou 6?000 candidatos para 98 vagas em 2014, e o ITA, em cujo vestibular, no mesmo período, 7?800 estudantes brigaram por 170 cadeiras. A duração dos cursos de engenharia nas duas instituições é de cinco anos. “Há empresas que só contratam quem estudou nesses lugares”, revela Fernanda Decothe, 17 anos, habitante do casarão do Colégio Elite em Madureira. Leonardo Andrade, 17 anos, alimenta seu sonho desde antes de se tornar um dos quatro inquilinos do apê tijucano do Colégio pH. “Todo dia, há três anos, eu penso em passar para o ITA”, confessa. Diante de tanta determinação, a decisão de morar na escola não chega a ser um problema.

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