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Com registros que duram até 24h, Snapchat cativa jovens e celebridades

O caráter efêmero das publicações — esse é o grande charme — lhes dá um grau de espontaneidade raro, que dificilmente se vê em outras redes sociais

Por Carla Knoplech e Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 12h21 - Publicado em 14 nov 2015, 00h01
Anna-Fischer
Anna-Fischer (Anna Fischer/Veja Rio/)
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Uma das campeãs entre as celebridades por reunir milhões de seguidores nas redes sociais, Bruna Marquezine pensa muito bem antes de postar algo em seus perfis. As fotos do Instagram, por exemplo, costumam retratar seus trabalhos, são milimetricamente posadas ou trazem a atriz em ângulos impecáveis. No Twitter não é diferente. Avessa a polêmicas, ela se restringe a comentar assuntos amenos em até 140 caracteres, e é também dessa forma polida que se comporta no Facebook. Mas há um lugar no universo digital em que Bruna se solta. Quando usa o Snapchat, um aplicativo de fotos e vídeos para smartphones, ela não mede o que fala e tem muito menos pudor de se filmar ou fotografar. Em julho, veiculou um vídeo surpreendente, quase escatológico, em que sua calopsita de estimação cutucava os espaços entre seus dentes atrás de restos de comida. A imagem do passarinho se fartando na boca da atriz foi vista por milhares de pessoas, mas, como é praxe no aplicativo, acabou desaparecendo dos registros, que simplesmente saem do ar depois de 24 horas. Ou seja, quem viu pôde rir à vontade. E quem não viu? Esquece, não vai ver nunca mais. Com Anitta também é assim. Os vídeos mostram a cantora jantando em quentinhas dentro das vans que a levam para os shows e registram desabafos sobre o lado pouco glamouroso da fama em meio a apresentações Brasil afora. “Depois que comecei a usar o Snapchat, as pessoas passaram a me conhecer melhor. Quem achava que eu era metida mudou de opinião e agora me vê como uma pessoa mais divertida”, conta a artista, que tem em média 290 000 visualizações para cada vídeo de dez segundos que publica no aplicativo.

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Criado em 2011 nos Estados Unidos, o Snapchat é o fenômeno da vez na internet. Com cerca de 200 milhões de usuários, foi idealizado como uma ferramenta voltada unicamente para celulares, em que os vídeos e fotos capturados com a câmera do aparelho são imediatamente compartilhados. O caráter efêmero das publicações — esse é o grande charme — lhes dá um grau de espontaneidade raro, que dificilmente se vê em outras redes sociais, mesmo aquelas que acumulam quantidade colossal de bobagens, como o Facebook e o Twitter. Outro traço é o apelo juvenil. Repleto de engenhocas como recursos gráficos, filtros e emojis (aquelas figurinhas que substituem palavras e expressões), tem um apelo irresistível para a meninada. A complexidade da operação também ajuda a manter afastadas as pessoas com pouca familiaridade com o mundo digital. Resultado: é o aplicativo com maior crescimento entre adolescentes e jovens adultos, uma preferência facilmente perceptível nas estatísticas. Tome-se o exemplo do Brasil. Pesquisas realizadas pela consultoria internacional GlobalWebIndex apontam que um contingente de 11 milhões de pessoas usa a ferramenta por aqui, o que equivale a um em cada dez internautas. No entanto, essa proporção muda quando se leva em conta a faixa etária de 16 a 19 anos. Nesse caso, chega a um entre quatro internautas. “O Snapchat tem apresentado uma evolução forte e consistente no Brasil, principalmente entre os jovens, um cenário muito parecido com o de outros países”, diz Felim McGarth, analista da GlobalWebIndex. 

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Com apelo juvenil e a logomarca de um simpático fantasminha, símbolo da efemeridade do conteúdo publicado, o Snapchat vai muito além da brincadeira inocente. Foi nele que surgiu uma das expressões mais provocantes da web, o “manda nudes”, um convite em que um usuário incita o outro a publicar fotos sem roupa. A prática tornou-se muito comum, impulsionada pelo caráter provisório dos vídeos, o que dava aos usuários a sensação de segurança de que a imagem sumiria e ninguém mais a veria, a não ser a pessoa a quem ela foi enviada. Isso durou até o momento em que os usuários descobriram formas de capturar as imagens (o chamado “dar um print”) e eternizar os flagrantes mais picantes. Tal recurso pôs a rede no radar de pais e educadores — e aumentou vertiginosamente sua popularidade entre a garotada. Atualmente, tais episódios são menos frequentes, mas o aplicativo ainda mantém o ar de transgressor. “O Snapchat virou basicamente um registro da vida cotidiana dos usuários, um diário digital em fotos e filminhos de dez segundos. Os mais velhos têm dificuldade de ver uma função em registros de situações banais, mas essa não é a lógica digital que orienta os jovens. Eles não buscam sentido, mas sim experimentação”, explica Bia Granja, cofundadora do Youpix, a maior plataforma de cultura de internet do Brasil. “Para mim, o Snapchat é diversão. É um lugar onde pego dicas de maquiagem e dou risada com os vídeos malucos da Kéfera Buchmann”, conta Joana Garzon, de 13 anos, fã assumida da atriz e escritora curitibana, fenômeno entre os adolescentes. Além de bisbilhotar a rotina da desbocada Kéfera, a garota também usa a ferramenta digital para trocar dezenas de mensagens diárias com as amigas Carolinna Bocayuva e Beatriz Cuozzo, com quem forma um grupo na rede social. “Só paro na hora da aula, e mesmo assim porque é proibido”, admite Beatriz.

Selmy-Yassuda
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Apontado pelos especialistas em internet como uma das redes sociais que mais crescem no mundo, o Snapchat viu a quantidade de usuários aumentar 57% entre 2014 e 2015 — no Brasil, a expansão foi de 120% no mesmo período. Em apenas seis meses, de maio a novembro, o número de visualizações diárias de vídeos no aplicativo passou de 2 bilhões para 6 bilhões, o que o aproxima do Facebook, no qual são vistos 8 bilhões de vídeos por dia. Tais credenciais transformam o programa em uma ferramenta indispensável para celebridades se comunicarem com os fãs. Atrizes como Carolina Dieckmann, Fernanda Souza, Thaila Ayala, Fernanda Paes Leme, o apresentador Luciano Huck e a cantora Preta Gil dividem diariamente detalhes do seu cotidiano com milhões de pessoas pela tela do celular. A escritora Thalita Rebouças utiliza os vídeos para falar diretamente com os jovens leitores de seus livros. Nos posts, narra trechos de capítulos dos seus próximos títulos, responde a dúvidas deixadas pelos fãs em seus outros perfis nas redes sociais e compartilha o processo criativo de suas histórias. Como ninguém é de ferro, também faz piadas e brinca com seu cachorro Lindão — um simpático espécime da raça coton de tulear. “Mudei minha relação com meus leitores, que sempre quiseram saber tudo o que eu fazia. Agora a comunicação é em tempo real”, explica a autora. “O problema é quando você para de postar. Aí reclamam, e muito.”Ao contrário do que acontece no Instagram e no Facebook, o Snapchat não exibe publicamente o número de seguidores de cada usuário nem a quantidade de visualizações de cada vídeo. Cabe ao dono da conta divulgar — ou não — seus dados.

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Tal peculiaridade, entretanto, está longe de limitar o potencial comercial do aplicativo. “A quantidade de prints de uma postagem com uma dica de maquiagem chega a 80 000”, afirma a cantora Preta Gil, que usa seu perfil para dar dicas de batons, esmaltes e outros produtos, boa parte deles da marca que leva seu nome. Grandes empresas sintonizadas com as novidades do marketing já se valem do recurso para alavancar suas vendas. Em uma iniciativa pioneira, a Coca-Cola escolheu o Brasil para lançar uma campanha publicitária do refrigerante Sprite feita exclusivamente para veiculação no Snapchat. Para isso, imprimiu nas latas da bebida uma espécie de chave codificada (o snapcode, um aparentado do QR code), para que os compradores acessassem vídeos protagonizados por skatistas, grafiteiros, rappers e funkeiros, como MC Guimê. Lançada há três semanas, a campanha teve 2,5 milhões de acessos apenas nos primeiros dias e virou assunto em publicações internacionais especializadas em publicidade. “O Snapchat é extremamente relevante para quem lida com jovens. É ali que eles estão conectados, um espaço completamente aberto à inovação”, afirma Marcelo Pascoa, diretor do núcleo voltado para tendências e criatividade da Coca-­Cola Brasil. Quem usa o Snapchat reconhece que o aplicativo é viciante — e pode se tornar um devorador de pacote de dados das contas telefônicas. Com isso, são comuns algumas situações inusitadas. “Já percebi que minhas postagens costumam ter uma audiência muito maior no começo do mês, quando o limite de dados das contas dos fãs ainda está alto. Conforme o tempo vai passando, a audiência cai. No fim do mês, ela vai lá para baixo”, explica Anitta. 

Ao lado de outros empreendimentos altamente inovadores da internet, como o Uber e o Airbnb, o Snapchat é considerado uma das grandes promessas do universo digital. Não à toa, os três fazem parte de um grupo de empresas que os especialistas em tecnologia apelidaram de unicórnios — uma analogia que se vale da figura do animal mitológico para definir firmas, recém-abertas, com poucas centenas de funcionários mas com valor de mercado que ultrapassa o bilhão de dólares. No caso do Snapchat, uma companhia com cerca de 300 funcionários, em Los Angeles, tal valor é de 15 bilhões de dólares, o equivalente a meia Petrobras, a maior empresa brasileira, com 80 000 empregados. Seu fundador, Evan Spiegel, de 25 anos, acaba de se instalar no posto de mais jovem bilionário do planeta. Arrogante, temperamental e desbocado, ele já esnobou seus principais concorrentes ao recusar propostas de aquisição feitas pelo Facebook (uma oferta de 3 bilhões de dólares, em 2013) e Google (4 bilhões de dólares, meses depois), isso numa época em que a empresa não faturava um único centavo. Uma conduta que se ajusta com perfeição à imagem de empresa-­adolescente, que cresceu publicando foto de gente pelada e hoje se transformou em um espaço onde os jovens — e alguns não tão novinhos assim — ficam à vontade para publicar o que lhes vem à cabeça.

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