Quatro da tarde de uma quarta-feira. Todo mundo, quase todo mundo, está estudando ou trabalhando nessa hora. No entanto, 700 senhores e senhoras, decerto aposentados, em sua maioria, lotam o Imperator (ou Centro Cultural João Nogueira), no Méier, a fim de se divertir. São tietes de Márcio Gomes, cantor que desde o início de 2014 vem enchendo a casa de espetáculos num horário inusitado, com repertório à moda antiga, interpretando — de paletó e lencinho colorido no bolso — as canções de forma empolada, esticando agudos e valorizando com gestos amplos o romantismo das letras de antanho. Faz o gênero vozeirão.
Seu show acontece uma vez por mês, com roteiro que costuma ter de Francisco Alves a Altemar Dutra, passando por Waldick Soriano. Só às vezes rolam “caçulinhas” como Djavan e Chico Buarque. O público participa de verdade — em vários momentos Márcio leva o microfone até os fãs, para cantarem juntos, e completa o ritual com beijos na mão das mulheres e abraços nos homens. Morador do Flamengo, 41 anos, pinta de galã de novela da década de 70, cabelo à prova de vento, cinco CDs gravados e uma aura que mistura Cauby Peixoto e Agnaldo Rayol, o cantor ainda não estourou nacionalmente. “O gênero sofre preconceito. Infelizmente, Márcio ainda não chamou a atenção do mercado, nem da crítica, mais interessada em cantores moderninhos que usam roupas de brechó”, dispara o produtor Rodrigo Faour, responsável por seu terceiro álbum, de 2011.Com ídolos como “Ângela Maria, aqui no Brasil, e a fadista Amália Rodrigues, lá de fora”, Márcio fará, nesta quarta-feira (21), no Imperator de sempre, uma homenagem a Orlando Silva, o “cantor das multidões”, num show extra. O próximo espetáculo mensal (numa quarta às 4 da tarde, claro) será em 4 de novembro, ali mesmo. E, certamente, com uma multidão de senhorinhas na plateia.