Deu um belo dia de praia, mas, entre 9 da manhã e 6 da tarde do sábado (14), 100 dos melhores profissionais de recursos humanos do Brasil estavam não nas areias, mas sim reunidos em escritórios do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de 2016. Tratava-se da primeira turma (de um grupo de 2 000 especialistas já recrutados) que se prepara para liderar, a partir da quarta-feira (25) e até o fim deste ano, um processo de seleção que vai escolher cerca de 70 000 voluntários para trabalhar no evento, entre os 250 000 que se inscreveram.
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Os próprios selecionadores também não estão recebendo salário. “E o nível de formação deles é altíssimo”, garante Flávia Fontes, gerente-geral do Programa de Voluntariado Rio 2016. O motivo para tanta gente bem empregada topar trabalhar de graça é, sem dúvida, a vontade de fazer parte do movimento olímpico, que tem como premissa a troca de experiências culturais. “Quero contribuir com meu know-how em gestão de pessoas nessa investida filantrópica, que vai me proporcionar um enorme ganho pessoal”, afirma Marcelo Souza, carioca de 37 anos, um dos selecionadores, funcionário da Petrobras.
Diferentemente dos processos tradicionais, as dinâmicas de grupo desse programa prometem proporcionar aos candidatos uma “experiência sensorial” para engajá-los no espírito olímpico. Centros de recrutamento estão sendo criados no Rio (Centro e Barra), em São Paulo e Belo Horizonte, todos em câmpus da Universidade Estácio, e haverá uma instalação móvel para outras capitais. Além disso, os candidatos estrangeiros serão entrevistados via teleconferência. A capacitação dessa massa de trabalhadores acontecerá a partir do início de 2016 — cada voluntário terá dezesseis horas de treinamento presencial, exceto o pessoal de fora do Rio, que fará uma parte do curso on-line.
O conteúdo da capacitação terá uma fase comum a todos os futuros voluntários, que aprofundará assuntos gerais sobre a Olimpíada e ensinará a prestar serviços com excelência, e uma parte operacional, específica para cada área de atuação. “Queremos que as pessoas saiam daqui melhores do que entraram”, diz Flávia. Além do pré-requisito básico de dispor de pelo menos dez dias para atuar na época dos Jogos, os selecionadores buscam características predeterminadas pelo comitê, como comprometimento, proatividade, adaptabilidade, gosto pelo trabalho em equipe, valorização da diversidade e da inclusão, gosto por servir e demonstração de “energia contagiante”. “Buscamos voluntários legítimos, flexíveis, com vontade de contribuir independentemente da área em que forem alocados. Pessoas que não assumem riscos e querem jornadas certinhas, ou que só desejam entrar nos estádios, não servem para nós”, diz Henrique Gonzalez, diretor de RH da Rio 2016.
O tamanho do desafio dos selecionadores é proporcional à sua empolgação. “Será uma oportunidade histórica”, acredita Francis Garcia, paulistana de 27 anos, hoje baseada no Rio e moradora da Tijuca, voluntária selecionadora, consultora da Ken Blanchard, rede global de treinamento de executivos. Entre os cariocas, a motivação para o trabalho nos Jogos Olímpicos parece menor do que se esperava inicialmente, ainda que o Rio tenha sido a capital com o maior número de inscrições. Apesar de a contratação não incluir auxílio com passagem e hospedagem, o número de inscritos de fora da cidade é superior à quantidade de cariocas: 67% são de outros lugares, 33% daqui. “Quem mora no Rio tem enfrentado dificuldades com as recentes obras, então é mais difícil enxergar o lado positivo e humanitário dos Jogos, algo que o pessoal de fora já está percebendo”, analisa a gerente-geral Flávia Fontes.