A sensação de que o tempo se esvai é constante nestes acelerados tempos modernos. Daí a crescente necessidade de fazer várias atividades — comer, se divertir, comprar — em um só lugar. Este anseio foi medido em pesquisa: 73% dos cariocas afirmam isso em levantamento da Associação Brasileira de Shopping Centers. Atentos aos novos hábitos, os templos do consumo na cidade vêm implementando mudanças. Basta uma voltinha nos corredores para perceber que os shoppings se tornaram centros de serviços, onde é possível resolver de tudo.
“Foi-se o tempo em que as pessoas ficavam olhando vitrine. O contato é feito previamente pelo WhatsApp e, quando o cliente chega, as roupas escolhidas já estão até no provador”, explica Henrique Baez, do Rio Design Leblon, que desde 2019 investe nos segmentos de beleza, bem-estar e gastronomia. Esse cardápio variado já ocupa 54% dos espaços. E vem dando resultados: com a inauguração em maio do japonês Gurumê, o segundo piso, até então dedicado a vestuário, registrou 30% a mais nas vendas.
Uma das feiras mais importantes do varejo internacional, promovida pela National Retail Federation (NRF), aponta justamente para a tendência de os pontos de venda se converterem em locais para experiências, já que é impossível competir com a conveniência do e-commerce. “Um shopping é, em essência, uma reunião de lojas independentes. Nesse sentido, as áreas comuns se adaptam para criar uma atmosfera atraente ao público”, ressalta Bianca Dramali, professora de pesquisa e comportamento do consumidor da ESPM Rio.
Apostando em serviços e arte, o Shopping Leblon estampou obras contemporâneas na fachada e nas paredes entre as duas escadas rolantes de acesso. Sob curadoria de Christiane Laclau, da Artmotiv, já passaram por lá exemplares de Antonio Bokel, Carolina Ponte e Pedro Varela. A decoração do Natal deste ano é assinada por Toz Viana. “Temos uma clientela exigente e tentamos antecipar o que as pessoas desejam encontrar”, conta a gerente de marketing Paula Magrath. “Não à toa, abrimos recentemente um piso com pet shop, loja de costura, academia, casa de câmbio, clínica médica e um posto da Polícia Federal”, lista ela.
Impulsionada pelo período pandêmico, a valorização de espaços ao ar livre e ambientes arejados também já foi incorporada pelos shoppings, cujos projetos arquitetônicos originais consistiam em caixas fechadas, com ar-condicionado e sem iluminação natural. No final de 2022, o Botafogo Praia Shopping inaugurou um terraço com o Brewteco, onde se formam longas filas quase todos os dias na porta, e bela vista para o Pão de Açúcar.
O cartão-postal, a propósito, pode agora ser admirado livremente pelas janelas de todos os andares do empreendimento, após uma longa reforma da fachada do prédio, inaugurado na década de 1940 para abrigar a loja de departamentos americana Sears. “Demoramos quase duas décadas para perceber que esse visual é nosso ativo mais valioso. A partir dessas mudanças, corremos atrás de lojas e restaurantes que os nossos frequentadores queriam, como a Farm e a pizzaria Mamma Jamma”, explica a superintendente Cecília Ligiéro. O investimento chega a 42 milhões de reais. Em menos de um ano, o fluxo de clientes aumentou 25% e as vendas expandiram 30%.
Com mais de quarenta anos de serviços prestados ao comércio da região, o RioSul também se voltou para restaurantes conceituados com o objetivo de agitar o shopping. O premiado Cantón, representante da comida chifa, mezzo peruana, mezzo chinesa, desembarcou ali há quatro meses, e o Irajá Redux, do chef Pedro de Artagão, abre as portas em dezembro, no primeiro piso. Um andar acima, a renovada praça de alimentação ganhou oito novas operações de fast food. São 10 milhões de reais canalizados para essas novidades.
“Na pandemia, disseram que os shoppings sucumbiriam, mas já recuperamos o fluxo de clientes registrado em 2019”, comemora o superintendente Gustavo Rodrigues. Para 2024, o RioSul abrigará duas exposições interativas (e instagramáveis) para o público adulto, nos moldes da mostra infantil Pegadas do Pequeno Príncipe, em cartaz até meados de dezembro. “Diante de tantas possibilidades de entretenimento, a compra se torna uma consequência”, ressalta Bianca Dramali. O público, pelo visto, quer comida, diversão e arte. E, quem sabe, umas sacolinhas a tiracolo.