No dia em que a pira olímpica for acesa, marcando o início da Olimpíada no Rio, todos os olhos do mundo se voltarão para os atletas que aqui tentarão a medalha de ouro. Do que pouca gente se dá conta é de que, longe dos holofotes, um verdadeiro exército vai trabalhar para que os 10 500 competidores aguardados se alimentem bem durante os dezessete dias de jogos — sem falar nas equipes técnicas de cada atleta e nos funcionários e colaboradores do evento. Trata-se de um desafio em uma escala jamais vista na cidade. Durante esse período, só na Vila Olímpica, a casa dos atletas durante as competições, serão servidas 60 000 refeições por dia. No fim, considerando os jogos paralímpicos, terá sido preparado um total de 2 milhões de refeições. É uma tarefa de enorme responsabilidade, levando em consideração que a alimentação e a dieta adotada no período que antecede as provas têm considerável peso sobre o desempenho dos competidores, entre eles estrelas como o velocista jamaicano Usain Bolt, dono de seis ouros olímpicos, e apostas brasileiras, como as seleções feminina e masculina de vôlei. “É um trabalho meticuloso, não só pela logística, mas também para atender a todas as exigências internacionais”, resume Flávia Albuquerque, diretora de qualidade e gerente de alimentos e bebidas da Vila Olímpica.
Sob seu comando, 2 300 pessoas farão funcionar uma estrutura que soma três restaurantes, sete lanchonetes, uma cozinha de 9 000 metros quadrados e um centro de distribuição, de onde virá toda a matéria-prima para a produção dos pratos. “Todos os fornecedores passam antes por um treinamento para se adequar às normas exigidas pelo Comitê Olímpico Internacional”, completa Flávia. Outro desafio é lidar com a imensa diversidade cultural das delegações, que virão de 206 países. Para isso, a nutricionista criou dez ilhas no refeitório principal (destinado aos esportistas e técnicos) e no secundário (para os funcionários, voluntários e colaboradores), divididas nas seguintes especialidades: brasileira, pizza e massa, sabores do mundo, asiática, halal (que segue os preceitos do Alcorão) e kosher (dos judeus). Essas últimas deverão ser certificadas por membros das respectivas religiões indicados pelo COI.
Oito cardápios se revezarão durante os Jogos. Resultado: serão cerca de 400 receitas servidas aos competidores no período. Na lista de iguarias locais estarão o churrasco, a tapioca e brigadeiro, itens que já foram levados pela chef Roberta Subrack para o cardápio da equipe brasileira em Londres 2012. Cada preparação apresentará uma ficha completa de suas peculiaridades nutricionais, tais como a presença ou não de glúten e lactose, o valor calórico e a quantidade de carboidratos, proteínas, gorduras e sódio, justamente para garantir que os atletas mantenham uma dieta equilibrada. Alinhada à preocupação do comitê organizador da Rio 2016 com sustentabilidade, a área de alimentação tomou cuidados especiais. Boa parte dos objetos usados nos restaurantes da Vila Olímpica, como copos e pratos, será feita de fibra de cana-de-açúcar ou de milho, que são materiais biodegradáveis. Além disso, está previsto um rígido tratamento de resíduos, com coleta seletiva de lixo orgânico e reciclável. Na alimentação dos atletas, assim como nas provas olímpicas, só alcança o pódio quem está atento a todos os detalhes.