Primeiro Mundo, 2012. Olimpíada de Londres, solenidade de entrega da medalha de ouro à tenista Serena Williams. Hino americano nas caixas de som, emoção total diante da imprensa internacional, a bandeira dos Estados Unidos simplesmente se desprende do suporte e desaba no chão da arena lotada. Percalço com potencial de incidente diplomático, a falha deixou a equipe do cerimonial local sem ação. Quatro anos depois, porém, ela serve como lição para o comitê organizador dos Jogos de 2016. Cuidar de detalhes como a correta amarração dos pavilhões nos mastros está entre as muitas funções desempenhadas por profissionais já em ação. Em geral, as atribuições do pessoal de logística e planejamento exigem as mesmas doses de disciplina e precisão de um recordista dos 100 metros rasos. As provas dos bastidores, porém, não têm tanto charme nem levam ao pódio. Exemplo: que tal organizar a distribuição dos mais de 6 milhões de metros de papel higiênico destinados à região que inclui Maracanã, Maracanãzinho, Engenhão e Sambódromo? A medida, acredite, equivale a 340 vezes a distância vencida por um aventureiro ao subir e descer o Monte Everest.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem, hoje, 193 países-membros. No processo de aprovação das bandeiras de cada delegação a caminho da Olimpíada no Rio, representantes de 207 países foram convocados para definir seus respectivos símbolos pátrios. Haja pano e cuidado: 12 000 peças enfeitarão estádios e complexos da Rio 2016. Para atender a uma exigência do Camboja, por exemplo, dois modelos vão representar o país asiático em terra carioca. Assim, será possível que a imagem de um templo permaneça sempre na mesma posição, como determina a tradição, com o estandarte na vertical, pendurado, ou na horizontal, em um mastro. No Egito, a autorização só saiu depois que o tom correto do vermelho foi confirmado sob a luz do sol. “Temos de observar detalhes. Algumas imagens precisam ser espelhadas, outras têm várias versões, como é o caso da espanhola”, explica Valeska Magalhães, 45 anos, coordenadora de protocolo, uma das cinco responsáveis apenas pelas bandeiras.
Tem mais. A extensa lista de incumbências de Fernando Cotrim, 40 anos, diretor de logística da Rio 2016, inclui o armazenamento e o transporte de itens tão diferentes quanto cavalos, barcos e armas. No caso dos animais, estrelas do hipismo que chegam a custar 10 milhões de euros, o translado será feito em aviões adaptados e o desembarque, no Galeão, passará pela checagem de trinta órgãos. “É tudo muito rigoroso. As credenciais nos estábulos, em Deodoro, serão as mais restritas de todos os locais de prova”, explica Cotrim. Seu subordinado João Bellini, 34 anos, gerente de logística de eventos de rua, programa estratégias de bloqueio do público para o bom funcionamento das nove corridas disputadas pelas vias da cidade. Toda atenção é pouco. Vale lembrar que, em 2004, na Olimpíada de Atenas, o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima foi agarrado por um maluco e perdeu a chance de brigar pelo primeiro lugar — mesmo prejudicado, ganhou a medalha de bronze. Por aqui, vão ser espalhadas 35 000 grades de metal, carregadas, em 400 viagens, por vinte carretas. “A prova de ciclismo de estrada terá 260 quilômetros de área lacrada. Vamos precisar contar com a paciência da população”, avisa Bellini. Não menos importante, o descarte de lixo é estudado há dois anos. Serão instaladas 21 600 lixeiras, de dois modelos — um para recicláveis e o outro para os demais dejetos. “Firmamos uma parceria com 27 cooperativas de reciclagem”, diz Edison Sanromã, 41 anos, gerente de serviços de limpeza e descarte. Calcula-se que sejam produzidas 12 000 toneladas de lixo durante as competições. Curiosamente, todo esse trabalhão só será considerado bem-sucedido se, a partir da cerimônia de abertura, em 5 de agosto, não for notado por ninguém.
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