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A maravilha do Rio

Hoje querido pelo mundo inteiro, o Cristo Redentor faz 80 anos. Questionado no início, foi alvo até de deboches, mas se impôs como monumento e virou o maior símbolo da cidade e do país

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 5 jun 2017, 14h49 - Publicado em 4 out 2011, 11h41
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  • A estátua do Cristo Redentor é parte indissolúvel do Rio de Janeiro. Estranho seria se ela não estivesse lá. Como ficaria o Corcovado sem nada em cima, ele que parece um pedestal, erguido pela natureza? Sonhado desde o fim do século XIX, concebido no início dos anos 20, erguido ao longo daquela década e, finalmente, inaugurado em 12 de outubro de 1931, o monumento completa, nesta semana, 80 anos.

    Há quatro, foi elevado à categoria de uma das maravilhas do mundo moderno, ao lado de obras gigantes como a Muralha da China e a cidade histórica de Machu Picchu, no Peru, em uma eleição conduzida pela internet, com votos saídos dos quatro cantos do planeta. Deixando para trás a Estátua da Liberdade e a Torre Eiffel, o Cristo talvez esteja, agora, relaxado, pairando sobre a cidade e o país. Mas nem sempre teve essa admiração toda. É correto dizer que a vida não foi nada fácil para o Redentor.

    Desde antes de nascer, esse monumento com a imagem de Jesus, criado por vontade da Igreja Católica, provocou polêmica e reuniu detratores em um debate anterior a questões – que de fato surgiriam depois – sobre tamanho, forma, para onde e para quem estaria olhando. Questionava-se, em 1921, o próprio motivo da obra. Muitos a achavam inútil. Outros temiam que pudesse cair, que fosse algo perigoso para os passantes lá de baixo. Alguns, verdadeiros pioneiros da causa ecológica, denunciavam que ele descaracterizaria o contorno florestal da cidade. Mas o presidente Epitácio Pessoa, um dos últimos nomes da República Velha, disse não a tudo isso. E aprovou a ideia.

    Vista da estátua do Cristo
    Vista da estátua do Cristo ()
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    Surgiria, então, nova batelada de perguntas na caminhada do Cristo: como seriam suas feições, que roupa usaria, o que teria nas mãos? Um concurso público foi aberto, vencido pelo arquiteto e engenheiro carioca Heitor da Silva Costa. Mas o desenho inicial (Jesus segurando o mundo) acabaria modificado por pressões da sociedade e da Igreja. E, durante os novos estudos, talvez aí tenha vindo o pulo do gato: a imagem de Cristo teria, ela própria, um formato de cruz, podendo ser observada como tal a grande distância. Para isso, bastava abrir-lhe os braços.

    Sossego? Ainda não. O ponto agora era decidir que bairros mereceriam ter visão frontal da estátua. Isso provocou mais discussão nos meios eclesiásticos e entre os técnicos. Silva Costa decidiu que o rosto ficaria voltado para Botafogo, onde morava, pois dali o morro se apresentava mais ao comprido, de forma, segundo ele, mais bela. Isso posto, veio a obra em si, de dificílima execução – nesse particular, o Cristo foi as nossas pirâmides do Egito.

    Rosto e mãos seriam esculpidos num ateliê francês, os moldes atravessaram o Atlântico de navio e foram remontados em um sítio de São Gonçalo. O trem do Cosme Velho se mostrou fundamental naquela fase, subindo com cimento, ferro, madeira – e operários, às centenas, muitos dormindo lá em cima, em barracos improvisados. A 710 metros do chão, eles se equilibravam perigosamente em andaimes, furando o gnaisse do pico e colando ao monumento pedra-sabão por pedra-sabão, num desenho mágico. Mas aqui não cabe tristeza: nessa construção ninguém morreu.

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    Olhar da estátua de Cristo
    Olhar da estátua de Cristo ()
    Mão da estátua de Cristo
    Mão da estátua de Cristo ()
    Detalhes do revestimento da estátua do Cristo
    Detalhes do revestimento da estátua do Cristo ()
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    Dói é ver esse senhor, na maturidade de seus 80 anos, ainda tendo de acompanhar disputas sobre a paternidade de sua concepção e os direitos de usufruto de sua imagem famosa e pop. Parece que oito décadas podem ainda se passar antes que a Justiça determine quem, de fato, tem direito à honra de ser “o pai” do Cristo.

    Temas como esses, além de curiosidades sobre a estátua, depoimentos de oitenta visitantes e revelações sobre a luta nos tribunais estão reunidos nas reportagens desta edição especial de VEJA RIO. Aliás, temos de falar, trabalhamos numa redação privilegiada. Nossos repórteres se levantam das mesas e podem, de verdade, confirmar os versos famosos de Tom Jobim: “Da janela vê-se o Corcovado / o Redentor, que lindo”.

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