Marcelo Crivella acabou de escapar de um impeachment, mas pode ter duas CPIs pela frente. Nesta sexta (13), dois vereadores entregaram à presidência da Câmara pedidos de instalação de comissões para investigar supostas facilidades oferecidas pelo prefeito a líderes evangélicos no último dia 4 em um evento no Palácio da Cidade.
Eram por volta de 17h quando o primeiro pedido foi protocolado na Palácio Pedro Ernesto. De autoria de Paulo Pinheiro (Psol), ele propõem como objeto de investigação as promessas feitas em relação ao sistema de marcação de cirurgias da prefeitura. No evento em questão, Crivella indicou a pastores a assessora Márcia Nunes como uma facilitadora no agendamento de procedimentos, o que poderia caracterizar o uso da máquina pública para privilegiar um grupo específico. A princípio, representantes da prefeitura afirmaram que a fila de operações era impossível de ser driblada. Mas uma reportagem publicada nessa semana pelo jornal O Globo revelou indícios do contrário.
De acordo com a matéria, um relatório do Tribunal de Contas do Município mostra que, no ano passado, algumas unidades informaram ter operado mais gente do que só os que estavam na fila. Um exemplo foi a Policlínica Guilherme da Silveira, localizada em Bangu, onde a diferença entre intervenções agendadas e realizadas ultrapassou 1100 pacientes. Para complicar ainda mais, em entrevista a um telejornal, a subsecretária municipal de Saúde Cláudia Lunardi admitiu que podem existir falhas em relação à questão. “O controle não é perfeito. Essa é a verdade”, disse ela.
Outra vereadora que protocolou um pedido de abertura de comissão foi Teresa Bergher (PSDB). Batizada de CPI da Márcia, essa investigação teria como objeto não apenas as benesses na área de saúde, mas também as supostas promessas do prefeito em relação ao trâmite mais rápido da isenção do IPTU para igrejas. As duas CPIs receberam assinaturas de apoio de 17 parlamentares e dependem agora de um exame formal por parte da presidência da casa para saírem do papel, o que deve acontecer apenas em agosto, quando acaba o recesso.
As novidades surgem um dia depois da Câmara decidir que não abriria um processo de impeachment contra Crivella por conta das mesmas acusações. Por 29 a 16, o não venceu e acentuou ainda mais a dependência do ocupante do Piranhão em relação ao parlamento. Comenta-se que a vitória custou muitos cargos e que, cada vez mais, faz sentido a metáfora que compara o prefeito à Rainha da Inglaterra e o vereador e secretário da Casa Civil Paulo Messina (MDB) a um primeiro-ministro. Representante dos interesses da Cinelândia junto ao gestor, Messina teria aumentado seu poder de influência nas decisões do município, enquanto aliados que trocaram de lado nos últimos dias e contribuíram para a confusão – como Rosa Fernandes (MDB) – saem enfraquecidos. “Eu acho que o Crivella não vai durar muito tempo”, aposta Paulo Pinheiro.
Longe dessa rede de intrigas, Crivella divulgou um vídeo no qual agradece ao plenário pela rejeição do pedido que “não tinha nenhuma base jurídica” e pede a união de seus aliados e algozes pelo bem da cidade. “Que nós possamos superar tudo isso que acaba de ser varrido para o lixo da história”, deseja ele. Amém.