Em uma sala com argolas, cordas e barras, um grupo de dez pessoas se alonga, corre e levanta peso simultaneamente, como se estivesse em um treinamento para ingressar nas Forças Armadas. No meio da garotada sarada, chamam atenção duas participantes cheias de gás. Maria Nilma Gomes tem 65 anos e sua colega Maria Fernanda Serra, 89. Para ambas, atividade física nada tem a ver com hidroginástica ou alongamentos. O negócio delas é o crossfit. Depois de cair nas graças de atletas e celebridades, a modalidade, que mescla exercícios de ginástica olímpica, levantamento de peso e atletismo, e já foi aplicada aos oficiais da Marinha americana, fisgou a terceira idade carioca – pelo menos os mais bem dispostos. “É cansativo mas divertido. Estou melhor do que a minha filha, que não faz nenhuma atividade, está gorducha e vive cheia de dores”, dispara a bem-humorada Maria Nilma, adepta há dois meses após vinte anos de sedentarismo.
Ao mesmo tempo e que confere fôlego aos jovens praticantes e ajuda a emagrecer, com a queima de até 800 calorias por hora, o treinamento auxilia os vovôs e as vovós a cumprir ou retomar tarefas rotineiras limitadas pela idade. Sentar-se, levantar-se da cama, agachar para amarrar o sapato e subir degraus, tudo isso fica mais fácil. Sem contar o bem que os exercícios fazem para a mente. “Os mais velhos costumam ficar esquecidos em casa, então é muito gostoso quando a gente bate um papo, fala besteira e troca experiências enquanto se exercita”, afirma, aos 63 anos, o ator Paulo César Rocha, aluno há um mês da academia Iron Box, na Barra, que pede apenas o atestado do cardiologista para liberar os praticantes da terceira idade para as aulas. O aumento da oferta de atividades para essa turma vem ao encontro de uma realidade fluminense: segundo dados do IBGE, o Rio é o estado com o maior porcentual de idosos no Brasil, com 16,1% da população acima dos 60 anos. Para o mercado fitness, trata-se de um grande filão a ser explorado.