“Ela se tornou minha inimiga”. Assim Genevieve Boghici, de 83 anos, resumiu a situação que viveu nos últimos dois anos, desde que a própria filha, Sabine, de 45 anos, articulou um golpe milionário contra ela, que foi mantida em cárcere privado e teve quadros de autores renomados roubados por uma quadrilha da qual a filha fazia parte. “Estava com muito medo’, contou ela ao Fantástico, da TV Globo, neste domingo (14).
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Alegando não querer reviver a dor de toda a história, a viúva do colecionador Jean Boghici preferiu ler um texto que escreveu contando coisas que considerava importante dizer. “Não procurei mais cedo a Justiça, porque meu estado físico e emocional estava muito abalado, e eu estava também com muito medo. Não é fácil falar de filha, ainda mais numa situação dessa. Filha que foi criada com muito amor, com carinho e todo o conforto. E que, de repente, vira seu maior inimigo e pesadelo, lhe fazendo temer pela sua própria vida. Mas, graças a Deus, e aos meus amigos, a Justiça foi feita. Me sinto agora protegida e livre de uma situação que poderia ser macabra”, disse Genevieve.
Presa na última quarta (10), Sabine Boghici é atriz, modelo, cantora e militante da causa animal. Desde a adolescência, ela sofre de problemas psicológicos. São distúrbios como depressão, ansiedade e crises de pânico. Segundo a polícia, ela elaborou em 2020 um plano envolvendo uma suposta vidente e seus comparsas para roubar quadros, joias e dinheiro em espécie, num total que ultrapassa 700 milhões de reais. A história começou em uma rua no bairro de Copacabana, no Rio. Diana Stanesco, fingindo ser uma vidente, abordou Genevieve na rua e disse: “Sua filha tem uma doença incurável, ela vai morrer. Mas eu posso te ajudar. Por favor, me acompanhe até o meu apartamento’. Assustada, a idosa foi. E começava toda uma armação para ganhar a confiança da mãe de Sabine.
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A vítima foi levada para um apartamento em Ipanema, onde mora Rosa Stanesco, que se apresenta como a vidente “Mãe Valéria de Oxóssi”. Genevieve ficou impressionada porque a tal vidente sabia tudo da vida dela. Não por acaso, já que Sabine tinha um relacionamento amoroso com a golpista. Durante duas semanas, a mãe dela fez vários depósitos no valor total de quase 5 milhões de reais aos golpistas. A quadrilha continuou pedindo mais dinheiro, mas a vítima desconfiou e decidiu parar de fazer os pagamentos. Foi quando, segundo os advogados, a filha, Sabine, começou a ficar agressiva. “Ameaçava a mãe de morte. A mãe ficava sem comer. Era uma forma de coagir ela a fazer os pagamentos”, diz um dos advogados.
Depois de um ano e meio em cárcere privado, Genevieve conseguiu fugir de casa, pediu ajuda e denunciou a filha e a quadrilha. Na última quarta (10), policiais foram ao apartamento de Rosa cumprir mandado de prisão contra ela, seu filho e Sabine. Rosa Stanesco ainda tentou fugir pela janela, mas não conseguiu.
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A filha de Genevieve também travava uma intensa disputa judicial contra ela para obter o restante do patrimônio deixado por seu pai, o colecionador e marchand Jean Boghici, que morreu em 2015. Foram quatro ações, a primeira iniciada em agosto de 2021, meses depois de a idosa ter fugido do cárcere privado imposto por Sabine com a ajuda das falsas videntes Rosa Stanesco, Diana Rosa Stanesco, Jacqueline Stanescos, e ainda de Gabriel Nicolau e Slavko Vuletic. Em um dos processos, Sabine tentou demover a mãe da posição de inventariante da herança do pai. Em outro, tentou reaver um apartamento em Copacabana, e até os animais que seriam da família. Todas sem sucesso. Quase todos os golpistas foram presos na “Operação Sol Poente”, deflagrada na quarta (10), acusados de estelionato, roubo, extorsão, cárcere privado e associação criminosa. A polícia ainda procura Diana e Slavko, que estão foragidos. A defesa de Sabine Boghici alega que ela teria direito à parte dos quadros que, segundo a Polícia Civil, tomou da mãe em associação com a quadrilha. O patrimônio desviado pelos criminosos inclui dezesseis obras de arte, incluindo três quadros de Tarsila do Amaral – Sono, Sol Poente (que deu nome à operação policial) e Pont Neuf – que juntos somariam 700 milhões de reais.