Com uma enxurrada de investimentos na cidade, a realização dos Jogos Olímpicos é vista por muitos como o ponto-final de um grande ciclo de prosperidade e otimismo. Para outros, no entanto, o raciocínio é justamente o oposto. A estrutura montada para sediar o maior evento esportivo do planeta vai possibilitar que o Rio, de quebra, se transforme numa das principais capitais voltadas para o turismo de negócios do mundo. Assim que as luzes do Maracanã se apagarem na cerimônia de encerramento do evento, a cidade, sem dúvida, estará em outro patamar para receber congressos, feiras e seminários. Só a capacidade da rede hoteleira, com vários endereços estalando de novos, saltou, nos últimos seis anos, de 30 000 para 62 000 quartos. E não é apenas isso. Todos os novos endereços, inclusive o sofisticado Hotel Emiliano, que abrirá as portas no meio do ano, na orla de Copacabana, estão investindo em espaços corporativos. O Riocentro, a maior estrutura de convenções da América Latina, que abrigará as competições de boxe na Olimpíada, terá concluído uma megarreforma, que custou 450 milhões de reais. A expectativa é que, até 2018, só ali o número de eventos aumente de noventa para 150 ao ano. Se até pouco tempo atrás o turista que vinha ao Rio a trabalho não chegava a 30% do total de visitantes, espera-se que, no pós-Olimpíada, esse público represente mais que o dobro do movimento dos novos empreendimentos hoteleiros. “Conhecido mundialmente por suas belezas naturais, o Rio terá todas as condições para se tornar também uma das maiores referências como destino de negócios”, afirma Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio (Abih-RJ).
Apostar pesado no turismo corporativo não quer dizer, porém, que se está deixando de lado a vocação natural da cidade para o lazer e o entretenimento. Pelo contrário. É consenso entre especialistas da área que esse tipo de visitante pode alavancar o setor como um todo. Primeiro pelo fato de ele ser mais qualificado e, digamos, bem mais mão-aberta. O gasto médio diário de um turista de negócios estrangeiro na cidade é de 329 dólares, valor que cai para 81 dólares quando se trata de um turista de lazer. Também é sabido que, ao vir a trabalho para um dos destinos mais desejados do planeta, o viajante costuma ampliar a estada por mais alguns dias, voltar nas férias com a família e ainda indicar o local aos amigos. De acordo com os dados da Rio Convention & Visitors Bureau, órgão que tem o objetivo de projetar a cidade nessa área, foram realizados no Rio, em 2015, 302 eventos técnico-científicos, entre congressos, convenções, feiras e seminários, o que representou uma receita de 1,9 bilhão de dólares. Além da ampliação da rede hoteleira, as melhorias de infraestrutura e transporte impulsionadas pelos Jogos Olímpicos têm tudo para impactar diretamente o poder de atratividade do Rio. “Não há dúvida de que, com essas mudanças e um trabalho sério de captação, esses números vão crescer exponencialmente”, reforça Eric Boulanger, à frente da gerência de congressos e eventos da Rio Convention.
Até 2019, a meta da Secretaria Municipal de Turismo é que o Rio alcance a posição de principal destino de negócios da América do Sul. Hoje, de acordo com a International Congress and Convention Association (ICCA) — entidade responsável pelo maior banco de dados de eventos do mundo —, no subcontinente, a cidade fica atrás de Buenos Aires, Santiago do Chile e São Paulo. Entre as 400 metrópoles avaliadas nesse ranking, ostenta apenas o 35º lugar. Para reverter o cenário, a Barra da Tijuca terá um papel fundamental. O bairro, justamente por reunir a maior parte das instalações olímpicas, foi o que mais ganhou hotéis. Hoje, conta com 84 empreendimentos e 12 850 quartos. Para não correr o risco de ficar à míngua após os Jogos, diversos projetos priorizaram as áreas corporativas. A rede Windsor, por exemplo, inaugurou, em março, no bairro o Conventions & Expo Center, o maior complexo de eventos em hotel da América Latina, com 22 000 metros quadrados. O Trump Rio de Janeiro, o primeiro da rede do magnata americano a se instalar por aqui, que será inaugurado em julho na orla da Barra, também está investindo em generosos espaços para seminários e reuniões. Com o conceito de resort urbano, o Grand Hyatt, na Praia da Barra, que começou a funcionar no dia 28 com uma área de 42 000 metros quadrados e 436 quartos, é mais um exemplo. Dois salões e nove ambientes menores compõem sua estrutura de eventos. A leva de novos hotéis na Zona Sul segue pelo mesmo caminho. A versão carioca do Emiliano, grife paulista que hospeda nomes como Gisele Bündchen e que aqui se estabelecerá na Praia de Copacabana e terá doze andares e noventa quartos, estima que 65% do seu movimento venha dos turistas de negócios. “Teremos a exclusividade e a sofisticação que são a marca do hotel aliadas à agilidade necessária para esse hóspede”, diz Gustavo Filgueiras, sócio do empreendimento.
De fato, a conjunção de fatores da qual o Rio tem se beneficiado nos últimos anos ajudou a impulsionar o setor. Paralelamente à duplicação da capacidade hoteleira, a principal referência na área de feiras e congressos da cidade, o Riocentro, enfrenta a maior reforma da sua história. Inaugurado em 1977 e gerido desde 2006 pelo grupo francês GL Events, o local ganhou um hotel no ano passado, toda a sua área de eventos já possui refrigeração, e está em fase final de construção o sexto pavilhão, que será usado na Olimpíada para as lutas de boxe. Em forma de anfiteatro, o espaço terá capacidade para 5 500 pessoas. Simultaneamente, os arredores do complexo vêm recebendo melhorias, como a instalação de uma estação de BRT junto à entrada principal. Embora a maioria dos congressistas não use transporte público, isso conta pontos na hora de escolher uma cidade para a realização de um evento. “Hoje, temos potencial para concorrer com os maiores centros de convenções do mundo”, afirma Arthur Repsold, presidente da GL Events no Brasil. Alternativa perfeita para os momentos de baixa temporada, o turismo de negócios também recebeu um empurrãozinho da prefeitura. Em setembro passado, foi criada a Rio Eventos, entidade que tem o objetivo de consolidar um calendário pós-Jogos, com encontros corporativos e shows, entre outros. Estamos longe de cidades como Toronto, no Canadá, e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, que dão incentivo financeiro a entidades que desejam realizar grandes eventos por lá, mas por aqui já há um esforço para diminuir a burocracia na área. “Com essas mudanças e a visibilidade que teremos, a Olimpíada não é o fim mas o início de uma nova era para a gente”, completa Mário Filippo Júnior, no comando da Rio Eventos.