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Economista egressa de Harvard assume o Instituto de Segurança Pública

Economista com passagem pela universidade americana assume as estatísticas sobre criminalidade no Rio

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 5 dez 2016, 12h00 - Publicado em 8 ago 2015, 01h00
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  • Encravado entre os bairros da Tijuca e do Rio Comprido, o Morro do Turano viveu anos sob o domínio do tráfico. A rotina de medo imposta pelo crime atingia em cheio moradores da favela e dos arredores, regularmente acordados pelas rajadas de tiros de fuzil disparadas pelos bandidos. O ápice da insegurança foi registrado em 1994, quando a taxa de homicídios dolosos atingiu o recorde na cidade: 73 assassinatos por 100 000 habitantes (no ano passado, o índice não chegou a um quarto dessa proporção). As noites insones passadas nas vizinhanças foram tão assustadoras para a economista Joana Monteiro, então uma adolescente de 15 anos, que tiveram impacto decisivo em suas escolhas profissionais. Formada pela UFRJ, com mestrado e doutorado pela PUC, Joana passou três anos como pesquisadora no Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, a mais prestigiada instituição universitária dos Estados Unidos. Ali, analisou o impacto dos conflitos do tráfico de drogas sobre as escolas municipais cariocas. Ao voltar para o Rio, entrou para o time de pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV). É justamente essa bagagem acadêmica que Joana traz para seu mais recente desafio, a direção-geral do Instituto de Segurança Pública (ISP) — órgão do governo do estado que calcula e divulga os índices de criminalidade no Rio. “De alguma forma, minhas pesquisas sempre estiveram relacionadas às políticas públicas. Agora tenho a chance de pô-las em prática”, diz a economista, 36 anos.

    Trabalho não falta. Criado em 1999, o ISP concentra os dados dos registros de ocorrência das 166 delegacias do estado e publica mensalmente a incidência de 39 tipos de delito, de roubo de celular a estupro, por exemplo. As estatísticas têm a função de dar uma resposta à sociedade e embasar o trabalho de segurança pública. Joana assumiu o instituto em janeiro com a missão de fortalecer a análise dessas informações e, com isso, imprimir mais eficiência ao trabalho policial. Uma de suas primeiras iniciativas foi a criação de um sistema de alerta nas áreas de UPP, com relatórios pontuados por bandeiras (verde, amarela, vermelha). Esse levantamento aponta as regiões que inspiram cuidados, requerem uma ação imediata ou dispensam uma intervenção no momento. A pesquisadora também está intensificando os estudos relacionados ao tráfico de drogas e fazendo uma análise específica sobre o envolvimento de menores em delitos no Rio. Entre os planos mais ambiciosos da nova gestão está o desenvolvimento de um software de mapeamento automático, que possibilitará que os policiais acessem de um celular os números do ISP, atualizados diariamente. Ou seja, o agente poderá saber o tipo de crime e a frequência com que ele ocorre no local em que está, em tempo real. Estreitar o contato com todos os órgãos de segurança, por meio de reuniões sistemáticas com representantes das polícias militar e civil e dos conselhos comunitários de segurança, ainda faz parte do plano de ação da economista. “É impressionante o resultado que a gente tem visto com o trabalho dela. A Joana tem apresentado produtos que permitem que a polícia trabalhe de forma cada vez mais racional”, ressalta o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.

    A cidade de Nova York, para a nova presidente do ISP, é a maior referência de onde o uso intensivo de dados para mapear a criminalidade e analisar sua dinâmica surtiu um grande efeito. A metrópole, que nos anos 90 era uma das mais perigosas do mundo, viu seus índices de criminalidade cair 80% duas décadas depois. Por aqui, embora a taxa de assassinatos no mês de junho tenha sido motivo de comemoração — 272 homicídios dolosos no estado, o menor índice em 24 anos —, os números estão longe do ideal. Só em 2014 foram registrados 4 942 homicídios no estado e 1 246 na cidade, números que ainda deixam o Rio num patamar compatível com o de uma guerra civil, de acordo com organismos internacionais. Paralelamente a isso, as taxas de roubo a transeunte crescem na capital: foram 19 878 no primeiro semestre de 2014 ante 20 139 no mesmo período deste ano. Joana, que é casada com um bioquímico e tem dois filhos, sabe que seu trabalho não é fácil. Como muitas instituições, o ISP lida com uma equipe reduzida (45 profissionais) e recursos exíguos, que compõem um orçamento anual de 2 milhões de reais, na maior parte gasto com pessoal. No entanto, os números da instituição são cruciais para o combate ao banditismo de maneira racional e eficiente. 

     

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