No campo da política, os dois candidatos mais bem colocados na corrida ao Senado pelo Rio adotaram táticas semelhantes na reta final de campanha. A estratégia é ir com tudo para cima do eleitor. Com o vigor de um ex-atacante, Romário (PSB), que tem 44% das intenções de voto segundo o Ibope, mantém uma rotina diária de pelo menos cinco compromissos, entre caminhadas, carreatas e reuniões com simpatizantes. O ex-prefeito Cesar Maia (DEM), com 21% das intenções de voto, mesmo limitado por um problema crônico de coluna, cumpre ao menos três agendas de corpo a corpo por dia, apertando a mão de todo mundo — uma quantidade de cumprimentos que pode ultrapassar, segundo ele, 80 000 fluminenses. Mas as similaridades entre os dois adversários terminam aí. Romário, bad boy transformado em deputado federal, enfrenta sua segunda eleição. De lançador de factoides a ermitão, após três gestões na prefeitura (1993-1996, 2001-2004 e 2005-2008), Cesar Maia experimenta seu nono teste nas urnas. “Nenhum candidato é tão bem preparado para o Senado como eu. Não são cinco anos de vida pública, são 48”, ressalta. “Apesar de não ter a bagagem de outros candidatos, tenho os atributos de bom político. Cobro, fiscalizo, denuncio”, dribla o ex-craque.
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Com apenas uma vaga no Senado em jogo, a disputa promete ser acirrada até o apito final. O atacante, campeão mundial em 1994, sempre teve uma trajetória polêmica fora dos campos. Além dos gols que o transformaram no terceiro maior artilheiro da seleção brasileira, Romário, hoje com 48 anos, traz no currículo um histórico de confusões. Casado três vezes e pai de seis filhos, chegou a ser preso por não pagar pensão alimentícia e é réu, ou foi pelo menos citado, em meia centena de processos. Os imbróglios vão de problemas com a Receita a confusões em condomínios. Após o nascimento da filha Ivy, que está com 9 anos e tem síndrome de Down, tornou-se defensor ferrenho dos direitos dos portadores de necessidades especiais. “Minha inspiração para entrar na política foi ela”, diz o jogador aposentado.
Por sua vez, o ex-prefeito “maluquinho” (como era chamado carinhosamente) tenta recuperar o protagonismo político do passado. Licenciado da função de vereador, Maia, de 69 anos, defende com afinco dois projetos muito criticados de sua administração. Diz que a Cidade das Crianças, em Santa Cruz, hoje em péssimo estado, teve um custo irrisório e alega que a faraônica Cidade das Artes, na Barra, que consumiu 560 milhões de reais, é um dos cinco melhores equipamentos do gênero no mundo. “A intenção foi resgatar a importância cultural do Rio. A Cidade das Artes não foi obra para uma eleição, mas para as próximas gerações”, argumenta.
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É sabido no meio político que o voto para o Senado só é decidido na última hora — o eleitor, em geral, concentra as atenções nas disputas presidencial e estadual. Isso explica por que os candidatos se empenham em disputar voto a voto até as vésperas das eleições. Outra peculiaridade é o fato de a maioria da população não saber exatamente qual é a função de um senador. Entre as atribuições do cargo, com mandato de oito anos, estão: fiscalizar os atos da Presidência da República, definir o limite de endividamento dos estados e municípios e defender os interesses de sua região. Com uma campanha orçada em 784 000 reais, Romário tem entre seus principais projetos tornar crime a divulgação de material íntimo, como fotos e vídeos, e proibir a cobrança de taxa extra de alunos com algum tipo de deficiência nas escolas. Cesar Maia, que até agora conseguiu captar 2,5 milhões de reais, pretende jogar em todas as posições. Seu material de campanha ostenta um leque com 25 bandeiras, entre elas a reforma tributária e política, a defesa do servidor público e a luta para garantir os royalties do petróleo para o Estado do Rio. “Para ser senador é preciso conhecer a fundo as questões antes de subir na tribuna”, prega ele. O ex-boleiro rebate: “Política não se faz sozinho. Serei bem assessorado e vou me aprimorar”. Os eleitores vão decidir o placar final. ■