O Brasil está em crise. E a Brasil também — a avenida no caso, a maior desta cidade, sessenta quilômetros atravessando zonas Norte e Oeste. É fato que hoje todo carioca tem uma obra no meio do caminho. Quem passa pelo Centro sofre com a instalação do VLT. Quem vive na Zona Sul e na Barra pena com a construção da Linha 4 do metrô. Mas na Avenida Brasil a situação é mais dramática. Tudo por causa do Transbrasil, um BRT de 20 estações que vai ligar Caju a Deodoro. Trata-se de um trabalho importante, que será fundamental para os deslocamentos no Rio, mas que exibe efeitos colaterais duros de aguentar. Exemplo? Engarrafamentos aos domingos. É isso, você leu certo. No último dia 2, um caminhão perdeu o controle e acabou invadindo um dos canteiros que cismam em permanecer no local. Havia operários, e felizmente ninguém se feriu com gravidade.
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Essas dores de cabeça têm um preço, que todos pagamos mesmo sem perceber. Especialistas em trânsito e urbanismo apontam que bate os 3 bilhões de reais por ano o valor das perdas causadas pelos congestionamentos na via. Como as obras se iniciaram em novembro de 2014 e se estenderão até o primeiro semestre de 2017, não é errado dizer que 6 bilhões de reais devem ir para o espaço com as intervenções. O dinheiro evapora não só na forma de gasolina, mas em óleo e desgaste de pneus. E aqui vem o pior: “Cerca de 70% das perdas estão ligadas à produtividade”, afirma Marcus Quintela, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É que entra nessa conta o nervosismo de quem fica preso no carro, o que costuma gerar, quando finalmente chega ao trabalho, desempenho ruim. O índice bem que poderia ser chamado, com alguma ironia, de “custo Brasil”.
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Esse caos diário faz diversas vítimas além das “pessoas físicas”, especialmente firmas que trabalham com transporte de cargas e usam a avenida rumo ao porto. Nesse trajeto, os caminhões cruzam com interdições em bairros como Irajá, Penha, Ramos e Benfica. “Trechos que eram percorridos em trinta minutos hoje podem demorar até três horas”, diz Francesco Cupello, dono de uma transportadora. E, como veículos de carga de grande porte não podem circular nem pela Linha Vermelha, nem por certas ruas da Zona Norte, o desvio por caminhos alternativos é impossível. Qs ônibus intermunicipais e para outros estados também são afetados. Viações como 1001 e Útil têm a via como opção padrão para sair do Rio e, no trecho da Brasil entre a Rodovia Washington Luís e a Via Dutra, a interdição total da pista central faz com que seja difícil ultrapassar os dezessete quilômetros por hora. Isso equivale a um porco correndo.
O flagelo é abrangente, atrapalhando empresas, motoristas, viajantes, sejam cariocas ou não. Estudante de medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF), Caroline Oka precisa ir quase todo dia de Sulacap, onde mora, a Niterói. As recentes obras transformaram sua viagem, que era de uma hora, numa canseira que dura três vezes mais tempo. “Para evitar a monotonia, vou ouvindo música e navegando na internet”, conta. O calvário da universitária é compartilhado pela dentista Tainá Duarte, de Jacarepaguá, que trabalha em Itaguaí. Com o trânsito emperrado na Brasil, ela tomou uma decisão radical: tem preferido dar a volta na cidade, o que inclui passar por Transoeste e Estrada Rio-Santos, para evitar o estresse.
“Além de ir mais rapidamente, evito assaltos. Amigas minhas já foram abordadas por dependentes químicos na cracolândia do Parque União”, diz Tainá.
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Quem entende do assunto afirma que não há como escapar do transtorno das obras. Entretanto, é consenso que a realização simultânea de várias intervenções tem sido um fator complicador para o trânsito, e que o único jeito é sair de casa mais cedo. A expectativa da prefeitura é que o BRT receba 800 000 passageiros por dia, diminuindo significativamente o fluxo de carros no local. Mais do que um mero corredor de ônibus, o Transbrasil não deixa de ser uma esperança para a via que o abriga. Aberta após oito anos de obras, em 1947, a Avenida Brasil vive em decadência crônica há muito tempo. Hoje, a paisagem cinza ao redor é composta majoritariamente por favelas e galpões abandonados. Acredita-se que as intervenções possam, por exemplo, ajudar a ressuscitar alguns bairros da região, como Bonsucesso. A intenção é das melhores. mas a obra está custando um bocado.