O navio São Luiz, que atingiu a Ponte Rio-Niterói nesta segunda (14), é apenas um no verdadeiro cemitério de embarcações que se tornou a Baía de Guanabara, assombrando a segurança não só de quem navega por ali, mas de quem vive no entorno, sujeito a vazamentos das mais variadas e desconhecidas cargas, e trafega na ponte. O acidente com a embarcação, que está à deriva no local desde abril de 2016, causou o fechamento da via que liga os dois municípios por cerca de três horas e deu um nó no trânsito durante a noite.
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De acordo com o ecologista e fundador do Movimento Baía Viva, Sérgio Ricardo, um levantamento feito em 2002, chamado de plano de gestão costeira da Baía de Guanabara, constatou a existência de cerca de 200 a 250 embarcações afundadas ou abandonadas na baía. Os locais mais críticos seriam as regiões do Gradim, no município de São Gonçalo; o trecho entre o canal de São Fernando, em Niterói, até o Porto do Rio; a ponta do Caju, na Zona Portuária do Rio; o canal do Cunha; e no entorno da Ilha do Governador, Zona Norte.
Um estudo realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) apontou que pelo menos 60 embarcações estão abandonadas e afundadas somente na região do canal de São Lourenço, em Niterói. “Não se sabe afirmar na totalidade qual o número de embarcações abandonadas e afundadas, exatamente porque não existe, até hoje, um inventário dessas embarcações, que deveria apresentar não apenas a localização, mas uma informação sobre a situação de risco dessas embarcações”, denuncia Sérgio Ricardo.
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O lixo náutico representa vários riscos à Baía de Guanabara. “Elas estão vazando a risco de desastre. Qual é produto que elas podem lançar no mar? Que medida de segurança estão sendo adotadas? Nada disso existe porque não existe esse inventário que deveria ser elaborado conjuntamente pela Capitania dos Portos, Ibama e o Instituto Estadual do Ambiente, o Inea. Além disso, não existe na Baía de Guanabara um plano de descomissionamento ou de remoção dessas embarcações que estão abandonadas ou afundadas”, explica o ambientalista. Segundo ele, o fato de algumas dessas embarcações estarem afundadas há cerca de trinta anos, pelo menos, e grande parte delas, cerca de 30% a 40%, serem de madeira, certamente provocou vazamentos de óleo e de outras substâncias químicas que acabam contaminando a vida marinha.
O Instituto Estadual do Ambiente informou que o controle das embarcações ancoradas na Baía de Guanabara e abandonadas é atribuição da Marinha do Brasil. O Inea reiterou que sua atuação ocorre em caso de acidentes envolvendo derramamento de óleo ou de produtos nocivos, que resultem em dano ambiental. O Ibama e a Marinha não se pronunciaram.