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Ensaios dos blocos se espalham por praças, bares e casas de shows

É uma chance para o público curtir e se aproximar deles, que, depois de dois anos sem desfilar, prometem fazer um Carnaval intenso em 2023

Por Kamille Viola
19 jan 2023, 19h00
Vai começar: 445 desfiles de blocos oficiais estão previstos em 2023 -
Vai começar: 445 desfiles de blocos oficiais estão previstos em 2023 - (Fernando Maia/Riotur)
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Mal virou o ano, e muita gente no Rio só pensa naquilo: o Carnaval de rua. A ansiedade se justifica. Para os foliões e seus blocos foram dois angustiantes anos sem desfilar — em fevereiro do ano passado, alguns ainda chegaram a sair, mas os oficiais (ao todo serão 445 desfiles neste ano) tomaram a decisão de silenciar em meio a uma nova onda de coronavírus. Agora, com o início antecipado da farra momesca, em 8 de janeiro, quando dezenas deles sacudiram o asfalto, a folia se instaurou de vez na cidade. E a melhor forma de ir fazendo o esquenta e saber o que os artistas andam preparando é assistir aos ensaios dos blocos, que se espalham por praças, bares e casas de show, a maioria aberto ao público e gratuito. Presidente da Sebastiana, associação que reúne catorze agremiações, Rita Fernandes define a atual temporada pré-carnavalesca como a “primavera dos blocos”: “O Carnaval do Rio já começou e será muito intenso, com o resgate daquela alegria espontânea. Em 2022, mesmo com o desejo de voltar à rua, não tinha clima. Agora tem”, celebra.

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Além de funcionar como vitrine para os blocos, o esquenta serve também de termômetro para os organizadores, que testam ali a reação do público ao repertório e fazem os necessários ajustes. “É uma boa oportunidade de medir se o que estamos planejando é realmente bacana”, avalia Yago Simões, o Mestre Yago, diretor de concorridos blocos como Simpatia É Quase Amor e Suvaco do Cristo, entre outros, e mestre de bateria do Balanço Zona Sul, que estreia em 2023. Para o público, é uma opção de diversão gratuita — embora existam ensaios pagos, como os do Cordão do Boitatá, na sede do Bola Preta. Em espaços fechados, eles aumentam o consumo no bar. Ao ar livre, atraem ambulantes e ajudam a revitalizar lugares com pouco movimento, incentivando a população a ocupar festivamente as ruas. “Vejo com muita alegria o que tem acontecido no Rio, as várias brass bands, orquestras, grupos se formando e tomando seu lugar de direito, que é a rua”, afirma Alexandre Garnizé.

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A programação não para. A Sebastiana realiza o evento Esquentando os Tamborins na sede do Bola Preta, com três atrações por noite durante três dias no fim de janeiro — na lista, agremiações como Carmelitas, Barbas, Fogo e Paixão, Imprensa que Eu Gamo e Simpatia É Quase Amor. Para os blocos, essa prévia é uma ótima chance de exibir o trabalho a mais foliões e para além dos desfiles oficiais. “É um momento de eu mostrar meu conhecimento e de levar uma cultura de um estado para o outro”, diz o pernambucano Alexandre Garnizé, fundador do Tambores de Olokun, grupo percussivo e de dança inspirado no maracatu, que há uma década ensaia no Aterro aos domingos. Isso atrai a curiosidade de uma turma que, não raro, decide engatar nas oficinas dos blocos. No caso do Olokun, no início, em 2012, eram cerca de vinte batuqueiros. Hoje são 115, além de 280 dançarinos, entre homens e mulheres. O público gira em torno de 5 000, 6 000 foliões por dia.

Registros do domingo (8): abertura não oficial do Carnaval de rua -
Registros do domingo (8): abertura não oficial do Carnaval de rua – (Fotos Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Até o início dos anos 2000, os blocos contavam, em geral, com baterias formadas por músicos profissionais, frequentemente ligados a escolas de samba. Mas isso foi mudando. Em um primeiro momento, com as oficinas do Monobloco e, na década seguinte, com as da Orquestra Voadora. Um dos fundadores do Vem Cá, Minha Flor, formado em 2015, Edu Machado observa que, a partir das aulas da orquestra, muitas pessoas começaram a criar seus próprios blocos, e eles se multiplicaram. “No nosso bloco, por exemplo, todos os seis integrantes da linha de frente fizeram a oficina deles. Hoje há dois Carnavais: o dessas agremiações mais antigas, como o Céu na Terra, o Boitatá, o Carmelitas, e esse que é feito por uma galera amadora, o que não quer dizer que seja pior”, distingue. Para Rita Fernandes, o folião é cada vez mais peça ativa na folia, e não mero espectador. “É isso que faz toda a diferença na virada do Carnaval”, comenta. Um modelo, aliás, que acabou por inspirar cidades Brasil afora.

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Apesar de ter havido no princípio um estrondoso crescimento do Carnaval de rua carioca, há alguns anos o número estacionou. A cidade já chegou a registrar impressionantes 700 blocos — hoje estima-se que sejam entre 500 e 600, contando oficiais e não oficiais. Isso é resultado de uma constante renovação da folia. Atualmente, as fanfarras, que unem percussão e sopro, são o formato mais comum entre os grupos estreantes, também um efeito da Orquestra Voadora. “É mais fácil hoje você encontrar uma pessoa — pelo menos ali pela Glória, Catete e Flamengo — com um trompete, um saxofone, do que com um violão ou uma guitarra”, ressalta Edu Machado. Normalmente, a maneira de ingressar nos blocos é aderindo às oficinas, que são pagas. Mas, no caso do Vem Cá, Minha Flor, quem souber tocar um instrumento e quiser se juntar à turma é só chegar nos ensaios às quartas, sempre na Praça Paris, na Glória. Alguns consideram que as oficinas acabam funcionando como uma espécie de abadá, uma credencial de acesso aos blocos, já que, às vezes, o tempo para aprender um instrumento é curto. “Um bloco de Carnaval é uma manifestação muito bonita e sua qualidade musical tem de ser preservada”, enfatiza Yago Simões.

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O que parece ser um consenso entre os que fazem o Carnaval de rua carioca acontecer é que, a despeito da importância que conquistou nas últimas décadas, ajudando a sacolejar o turismo e a economia da cidade (embora até então não haja números oficiais do dinheiro gerado), ainda falta um olhar mais atento do poder público para ele. Yago Simões defende, por exemplo, a criação de espaços onde os blocos possam ser vistos ao longo do ano, como já ocorre nas quadras das escolas de samba e na Cidade do Samba. “Falta um local para abrigar esses blocos, não só para ensaiar, mas até para fazer eventos diferentes, como exposições. Um turista que desembarca na cidade fora de época e quer conhecer o Carnaval de rua não tem aonde ir”, pontua. Outra ideia é obter apoio para tocar uma programação ao ar livre para além da temporada momesca, como um festival dos blocos no Aterro. “Na abertura oficial dos blocos, não teve vandalismo, não teve briga, e não havia no entorno vaga em um único restaurante para almoçar. Poderíamos fazer mais coisas assim, mas precisamos de apoio”, insiste Yago, empenhado em desengavetar suas ideias. Tomara que dê samba.

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Agenda de Ensaios
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Amigos da Onça
Amigos da Onça: ensaios acontecem há cinco anos e trazem convidados – (Fernando Maia/Riotur)

> Amigos da Onça. Criado em 2016, traz integrantes com fantasias inspiradas no animal, entre músicos e dançarinas. O repertório passa pelo pop, groove, salsa, rock, reggae, samba, marchinhas, carimbó, axés e pagodes dos anos 90. Sacadura 154. Rua Sacadura Cabral, 154, Saúde. Terças, 20h/4h. Até 14/2. Grátis a R$ 50,00 pelo https://www.sympla.com.br.

Orquestra Voadora
Orquestra Voadora: grupo inspirou a formação de outros blocos – (Fernando Maia/Riotur)

> Orquestra Voadora. A brass band surgiu em 2008, e sua mistura de sopros e percussão deu início a uma nova era no Carnaval de rua carioca. O grupo une clássicos da música mundial e composições próprias, numa mistura de rock, pop, funk, maracatu e afrobeat. Praça Marechal Âncora, Centro. 22 e 28/1 e 5 e 12/2, 15h. Grátis pelo https://www.sympla.com.br.

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> Balanço Zona Sul. Fundado em 2018 como uma banda-show, o bloco faz sua estreia nas ruas em 2023. Passa por ritmos como pop, axé, pagode baiano, forró, frevo, xote, baião, samba-enredo, marchinha, piseiro e funk. TLT Bar. R. Visconde de Silva, 14, Botafogo. Quintas, 20h/22h. Domingos, 11h/14h. Até 19/2. Grátis.

> Carmelitas. O bloco de Santa Teresa, com músicas tradicionais de Carnaval, foi criado a partir da lenda de que, todo ano, uma freira pula o muro do convento das Carmelitas para curtir a folia. Daí os integrantes se fantasiarem de freira, para que a fujona possa se disfarçar na multidão. Espaço Casarão Firmino. Rua da Relação, 19, Centro. 4/2, 18h/22h. Grátis. Praça Tiradentes, Centro. 11/2, 18h/22h. Grátis.

> Desliga da Justiça. Com um repertório que passeia por hits de samba, axé e MPB, o bloco fundado em 2009 reúne foliões fantasiados de heróis, vilões e outros personagens do universo da fantasia, como personagens de desenho animado. São Quim Botequim. Avenida Churchill, 60, Castelo. Sábados de janeiro, 17h. Grátis.

Cordão do Boitatá
Cordão do Boitatá: antes do Carnaval, bloco se reúne no Bola Preta – (Tata Barreto/Riotur)

> Cordão do Boitatá. O bloco foi criado em 1996 e fez seu primeiro desfile no Carnaval seguinte. Formado por músicos profissionais, passeia por marchinhas, sambas, maxixes, jongos e afoxés, celebrando a tradição do Carnaval. Sede do Cordão da Bola Preta. Rua da Relação, 3, Centro. 23 e 30/1 e 6/2, 20h. R$ 35,00.

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> Que Merda É Essa?!. Com o nome inspirado em um bloco de Olinda, o público fez seu primeiro desfile no Carnaval de 1995 com a ideia de reunir músicos, cantores e compositores amadores. Desfila com samba próprio. Bar Paz e Amor. Rua Garcia D’Ávila, 173, Ipanema. 4 e 11/2, 18h/22h. Grátis.

Tambores de Olokun
Tambores de Olokun: grupo faz seu esquenta aos domingos no Aterro – (Cássio Luiz/Divulgação)

> Tambores de Olokun. O grupo surgiu em 2012, unindo percussão e dança, inspirado no maracatu de baque virado de Pernambuco. As cores são o azul e o branco, em homenagem ao orixá que batiza o bloco. Aterro do Flamengo, em frente à passarela do Bar Belmonte. Domingos, 15h30 (concentração) e 16h (desfile). Até 4/2. Grátis.

> Sorvetada do Gigantes da Lira. Pioneiro entre os blocos infantis, o cordão foi criado em 1999 e apresenta marchinhas e sambas-enredos, além de brincadeiras com palhaços. A Sorvetada existe desde 2011 para promover a venda da camiseta do bloco, e quem compra ganha um picolé. Feira da Rua General Glicério, Laranjeiras. 21/1, 11h. Grátis.

> Blocos da Sebastiana. A associação, que reúne dez agremiações, vai começar o esquenta com três noites de ensaios. Dia 24 tem Que Merda É Essa?!, 442 e Carmelitas. Tá Pirando, Pirado, Pirou!, Barbas e Superbacana se apresentam no dia 25, e Fogo e Paixão, Imprensa que Eu Gamo e Simpatia É Quase Amor no dia 26. Sede do Cordão da Bola Preta. Rua da Relação, 3, Centro. 24, 25 e 26/1, 18h30. Grátis com 1 kg de alimento não perecível.

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Vem Cá, Minha Flor
Vem Cá, Minha Flor: ensaios acontecem na Praça Paris – (Bruno Weller/Divulgação)

> Vem Cá, Minha Flor. O bloco foi fundado com instrumentos de sopro e percussão. O repertório está em constante transformação, trazendo uma mistura de axé, samba-reggae dos 80 e 90, funk antigo, forró, marchinhas e hits do rock e pop. Praça Paris, Glória. Quartas, 19h30/22h. Até 15/2. Em caso de chuva, os ensaios acontecem nos pilotis do MAM. Grátis.

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