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Com a palavra, os candidatos

Na reta final da campanha eleitoral, VEJA RIO convida dez cariocas que atuam em áreas como saúde, educação, trânsito e cultura para formular perguntas aos quatro principais postulantes ao cargo de prefeito

Por Caio Barretto Briso e Sofia Cerqueira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h22 - Publicado em 3 out 2012, 18h41
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prefeito-01.jpg (Redação Veja rio/)
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Assim que assumir o cargo, no dia 1º de janeiro, o prefeito do Rio de Janeiro, reeleito ou eleito, terá um desafio hercúleo pela frente. Além de administrar a segunda maior metrópole do país, com todos os seus problemas e dificuldades, precisará deixar a cidade pronta para abrigar, em um intervalo de apenas dois anos, os eventos esportivos de maior visibilidade do mundo, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Trata-se de um momento único, capaz de mudar para sempre a vida dos cariocas, que sonham receber ao fim de seu mandato uma infraestrutura urbana renovada e ampliada. No domingo 7 de outubro, 4,7 milhões de eleitores irão às urnas escolher o responsável por conduzir a etapa mais importante desse gigantesco processo de transformação. Oito candidatos concorrem ao posto ? o atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB), Marcelo Freixo (PSOL), Rodrigo Maia (DEM), Otavio Leite (PSDB), Aspásia Camargo (PV), Fernando Siqueira (PPL), Cyro Garcia (PSTU) e Antonio Carlos Freitas (PCO). Com o objetivo de conhecer as ideias dos quatro candidatos com maiores chances na disputa, segundo as pesquisas eleitorais, VEJA RIO convidou dez cariocas a formular perguntas relacionadas a suas áreas de atuação. As questões foram então encaminhadas aos políticos com melhor performance nas intenções de voto, segundo levantamento do Ibope divulgado no último dia 25 e registrado na Justiça Eleitoral sob o protocolo RJ-00124/2012. Baseada em tal critério, a reportagem ouviu as propostas de Paes (com 52% da preferência dos eleitores), Freixo (17%), Maia (4%) e Leite (3%) para a solução de problemas relacionados a saúde, educação e transportes, entre outros. Os demais candidatos são apresentados no fim da reportagem.

Da mesma forma que reúne atributos únicos que justificam sua escolha como sede do Campeonato Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos, o Rio padece de mazelas crônicas, típicas do crescimento desenfreado. O município ficou em último lugar entre as capitais brasileiras ao ter avaliados seus serviços de saúde ligados à rede SUS, de acordo com relatório divulgado em março pelo Ministério da Saúde. A expansão econômica e o aumento da frota de automóveis tornaram o trânsito caótico. Diariamente, circulam nas ruas 265 carros novos, 100 a mais do que há cinco anos. No transporte coletivo, as milícias armadas dos bairros da Zona Oeste controlam com mão de ferro o sistema de vans. Sede da última conferência da ONU sobre meio ambiente, a Rio+20, a capital enfrenta sérias deficiências de saneamento básico. As lagoas da Barra da Tijuca, em cujas margens serão erguidas as instalações olímpicas, recebem, por exemplo, despejo de esgoto in natura até mesmo onde existe rede de coleta disponível. Se não bastasse tudo isso, a prefeitura terá ainda um apertado cronograma de obras para cumprir antes de quatro anos, com margem zero para alterações ou improvisos. Como se vê, o atual ou o novo ocupante do amplo gabinete localizado no 13º andar do Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova, terá muito que fazer. Bom voto.

Perfil

Eduardo da Costa Paes

Partido: PMDB

Idade: 42 anos

Família: Casado, dois filhos

Formação: Bacharel em direito pela PUC-Rio

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Cargos públicos Começou como subprefeito da Barra e Jacarepaguá no primeiro governo César Maia (1993-1997). Foi vereador, duas vezes deputado federal e ocupou os cargos de secretário municipal de Meio Ambiente e secretário estadual de Turismo, Esporte e Lazer. É prefeito desde janeiro de 2009

Marcelo Ribeiro Freixo

Partido: PSOL

Idade: 45 anos

Família: Casado, dois filhos

Formação: Bacharel em história pela UFF

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Cargos públicos Deputado estadual, ganhou notoriedade em 2008, quando presidiu a CPI das Milícias, que indiciou 225 envolvidos. Em 2010, foi o segundo parlamentar mais votado da Alerj, na qual preside a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania

Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia

Partido: DEM

Idade: 42 anos

Família: Casado, três filhas

Formação: Superior incompleto (economia)

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Cargos públicos Secretário de governo da prefeitura do Rio aos 26 anos de idade

(em 1996, na gestão de Luiz Paulo Conde) Foi eleito deputado federal em 1998 e reeleito mais três vezes

Otavio Santos Silva Leite

Partido: PSDB

Idade: 51 anos

Família: Casado, dois filhos

Formação: Bacharel em direito pela Uerj

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Cargos públicos Eleito três vezes vereador (1992-2001), foi deputado estadual e está no seu segundo mandato como deputado federal. Foi vice-prefeito na gestão de Cesar Maia, em 2005 e 2006

Saúde

O projeto que utiliza Organizações Sociais para gerir unidades públicas de saúde divide opiniões no Rio, apesar de funcionar bem em São Paulo. Caso eleito, o senhor pretende manter o sistema?

Paulo Niemeyer, neurocirurgião

Paes: Sim. As Organizações Sociais têm se mostrado uma bela experiência. Como a lei prevê, o programa só é adotado em novos centros de atendimento da prefeitura, como UPAs, Clínicas da Família e hospitais recém-inaugurados. As unidades antigas continuam com o modelo estatutário. As OS dão mais agilidade e rapidez à contratação e têm mais flexibilidade para cobrar resultados do profissional. Ele tem todos os direitos trabalhistas e, caso não apresente desempenho satisfatório, poderá ser dispensado a qualquer momento. Com essa nova forma de contratação, só nos últimos quatro anos ampliamos o número de unidades de saúde de 180 para 280.

Freixo: Não. Basta ter investimento, transparência e controle para que o serviço público funcione com qualidade. Hoje há médico concursado ganhando 1?700 reais e outro contratado por OS com salário de 8?000 reais no mesmo lugar. Isso não dá certo em lugar nenhum do mundo. É preciso garantir um plano de cargos e salários para os profissionais concursados da saúde.

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Maia: Não. O sistema de OS no Rio de Janeiro vai consumir neste ano mais de 1,5 bilhão de reais, ou seja, tudo o que é arrecadado com o IPTU. Ainda assim, não conheço um carioca que dependa da saúde pública e esteja satisfeito. Não acredito que o setor privado tenha as mesmas condições que os gestores públicos na área da saúde. É preciso investir em tecnologia e valorizar os profissionais da área, em vez de apostar nesse modelo tão criticado.

Leite: Não concordo com o programa, inspirado em um projeto semelhante implantado em São Paulo. Há uma clara diferença entre os dois. Lá, as Organizações Sociais tiveram a retaguarda de hospitais como Sírio-Libanês e Albert Einstein e de faculdades de medicina. Aqui, foram feitos arremedos e ajustes na correria, organizados quase numa mesa de botequim. Dados do Tribunal de Contas do Município revelam que, na prestação de contas, a gestão já não tem dado certo. O orçamento da saúde é de 4 bilhões de reais e 1 bilhão está indo para as OS.

Educação

Em dez anos, todas as escolas municipais deverão oferecer ensino integral, segundo lei aprovada na Câmara. A ideia é boa, mas o custo de implantação será alto. Como o senhor pretende fazer isso?

Simon Schwatzman, professor do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets/Uerj)

Paes: Começamos a estruturar esse novo modelo nesta gestão, que tem hoje mais de 100?000 alunos em horário integral. A meta é atingir 240?000 até 2016, o que representa 40% do total. Esse programa implicará a contratação de mais professores, mas não será necessário construir tantas escolas como se imagina. Salas lotadas não são uma realidade em todo o município e, aliada a isso, há a questão demográfica, pois o número de alunos tem caído ano a ano. Paralelamente à implantação gradual do ensino integral, vamos investir nos Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs), para crianças de até 6 anos. Nós oferecemos 30?000 vagas neste governo e vamos criar o mesmo número no próximo.

Freixo: Em primeiro lugar, o Rio não investe nem os 25% em educação como determina a lei. A prefeitura utiliza o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Fundeb) para chegar a esse porcentual. O problema das escolas municipais é que elas não têm autonomia pedagógica. Os projetos são todos de cima para baixo. Além disso, estar na escola o dia inteiro não significa que o aluno terá uma boa educação ? é preciso discutir o modelo de ensino que queremos ter.

Maia: Acredito que a educação integral é o caminho correto. O Rio tem 100% das matrículas no ensino fundamental, ao contrário de outras cidades. Existem bons exemplos espalhados pelo mundo de educação integral com atividades extracurriculares. Há soluções que se valem de equipamentos públicos e também privados, uma alternativa inteligente que diminui o custo de implantação do projeto. A criança não fica na escola o dia inteiro. Em uma parte do horário ela pratica esporte numa vila olímpica ou faz aulas de teatro ou de dança. É uma parceria com a sociedade que pretendemos implantar.

Leite: O horário integral é uma boa ideia, que deve ser obstinadamente perseguida. As aulas complementares não precisam acontecer necessariamente no prédio da escola. Nós pretendemos firmar parcerias com clubes, associações e instituições culturais. Nesses espaços acontecerá a jornada ampliada, com aulas de esportes, atividades culturais e apoio escolar. Essa é uma solução enquanto não se amplia a rede. Ao mesmo tempo, pretendemos combater o analfabetismo funcional. Vamos pôr duas professoras nas salas de alfabetização.

Impostos

Mais da metade dos imóveis do Rio está isenta do pagamento de IPTU. O senhor pretende reduzir esse número?

Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco

Paes: Vamos manter o IPTU do jeito que está. Ao todo, cerca de 40% dos imóveis da cidade tiveram isenções concedidas ao longo da história ou pelo fato de estarem em áreas muito carentes. Não vou criar nem aumentar nenhum imposto. A prefeitura está muito bem de finanças. A nota fiscal carioca, por exemplo, ampliou muito a nossa arrecadação. Em quatro anos dobramos o orçamento do município de 10,6 bilhões para 22 bilhões de reais.

Freixo: Muita gente não paga o IPTU pelo simples fato de a prefeitura não atualizar o valor do imóvel. Há muitas moradias que poderiam ser enquadradas como contribuintes, mas não são. É evidente que esse realinhamento dos valores dos imóveis precisa ser feito. O carioca paga impostos demais, mas o IPTU não pode arrecadar tão pouco. A arrecadação do IPTU do Rio hoje corresponde à metade da receita do ISS.

Maia: Não. O carro-chefe tributário das grandes cidades passou a ser o ISS. Na situação atual, de expansão da economia, não vejo necessidade de reorganizar os tributos. Essa questão do IPTU já está mais que consolidada, mesmo tendo sido instituída por uma lei aprovada em período eleitoral, que concedeu milhares de isenções.

Leite: Não é aceitável impor maior carga tributária ao contribuinte. Acho essa discussão sobre os dados do IPTU válida e não vou me furtar a tê-la. Mas um tributo tem de ser aplicado de acordo com a capacidade de contribuição dos cidadãos. Não vou aumentar o IPTU. Só vou rever casos isolados se ficar provado que há distorção. Por outro lado, poderemos ter alguns benefícios fiscais, em determinados setores, com o objetivo de atrair empresas.

Transporte

Sabe-se que o setor de vans é uma das fontes de renda das milícias. Mas é também um serviço que atende boa parte da população. Como resolver esse dilema?

Paulo Storani, especialista em segurança e pesquisador da Universidade Cândido Mendes

Paes: Em razão de anos de ausência de um serviço de transporte de qualidade, as vans atendem hoje muito mais gente do que deveriam. À medida que implantamos os BRTs e o bilhete único, conseguimos reduzir a dependência desse transporte. Com a Transoeste em operação, por exemplo, esse serviço diminuiu bastante em Santa Cruz. A nossa ideia é fazer com que as vans sejam um serviço complementar, alimentando os eixos principais, feitos por BRTs, trem e metrô. Para isso, vamos fazer licitação individual e integrar o serviço ao bilhete único.

Freixo: A licença tem de ser individual, e não por cooperativa, para enfraquecer o poder das milícias. É preciso ainda trabalhar com a Secretaria Estadual de Segurança Pública para fiscalizar os trajetos e não permitir que os motoristas sejam extorquidos. E planejar o transporte público do Rio para que as vans sejam complementares a outras opções, aceitando inclusive o bilhete único. Para isso, temos de refazer a licitação dos ônibus, para que o sistema funcione a contento. Ou seja, é necessário novo planejamento do transporte coletivo.

Maia: A polícia tem de resolver a questão das milícias. No meu governo, a licença será individual, e não por cooperativa. Se eu for eleito, vou chamar a Polícia Federal para tratar disso, porque as polícias estaduais não deram jeito. Pelo contrário, já há mais de 300 milícias no Rio. As vans atendem por dia 1,5 milhão de cariocas. Elas só passaram a existir pela incompetência das empresas de ônibus. Em alguns horários, não existe ônibus, só van. Todo o sistema precisa ser reorganizado.

Leite: Pretendo fazer licitação individualizada e com percursos predefinidos. A ideia é que esse transporte se restrinja a lugares afastados, aos quais as linhas convencionais e os BRTs não chegam. As vans devem alimentar os eixos principais, onde já há metrô, trem e ônibus. Para organizar o sistema, pretendo implantar o bilhete único. Mas é inaceitável que as vans continuem a circular em grandes distâncias.

Trânsito

O BRT Transbrasil está orçado em 1,3 bilhão de reais. Não seria melhor investir essa quantia em trens e no metrô, em parceria com o governo estadual?

Fernando MacDowell, engenheiro especialista em transportes

Paes: O BRT é fundamental para acabar com o caos na Avenida Brasil. Ele não compete com o sistema de trem e metrô, é complementar. Com 32 quilômetros e 28 estações, ele ligará Deodoro ao centro da cidade, onde se integrará ao sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT). A previsão é que sejam transportadas 900?000 pessoas por dia e o sistema reduza o número de ônibus no Centro. Com a construção até 2016 das quatro linhas de BRT (Transbrasil, Transoeste, Transolímpica e Transcarioca) mais a ampliação do metrô, a quantidade de cariocas que utilizam transporte de alta capacidade saltará de 18% para 63%.

Freixo: Concordo plenamente. Transporte de massa não é rodoviário, é ferroviário. No mundo inteiro é assim. Era fundamental, por exemplo, que se investisse na Linha 4 original do metrô, que passaria pelo Jardim Botânico, e não no prolongamento da Linha 1, entre Ipanema e a Gávea. Em várias cidades do mundo, mesmo com o metrô sendo estadual, a prefeitura investe em novas linhas e estações.

Maia: O sistema é concorrente ao trem e à Linha 2 do metrô. Eu, quando for eleito prefeito, pedirei à presidente Dilma que a verba federal destinada ao projeto seja utilizada para melhorar a qualidade da linha entre Botafogo e Pavuna e o ramal de trem de Santa Cruz. Com o valor da contrapartida municipal, pretendo colaborar com a expansão da rede do metrô. Os ônibus transportam, na melhor das hipóteses, 10% dos passageiros que usariam o metrô ou o trem.

Leite: Boa parte dos recursos necessários ao BRT da Avenida Brasil será destinada a desapropriações. Tenho uma proposta mais sensata. Eu usaria essa verba, em parceria com a Supervia, para ampliar o número de trens. Ou seja, mais oferta de transporte sobre trilhos e menos intervalos entre as composições. Outro dia fiz o trajeto Santa Cruz-Central e constatei o tempo absurdo que o cidadão perde. É algo desumano.

Urbanismo

Apenas uma pequena parte do Caju, próxima à rodoviária, foi contemplada pelo projeto de revitalização da Zona Portuária. O que fazer para que o bairro não seja um ponto de degradação em meio a uma região valorizada?

Maurício Nóbrega, arquiteto

Paes: Embora não tenha sido incluída no projeto do Porto Maravilha, a área do Caju vem recebendo investimentos de infraestrutura. O bairro tem uma área residencial e outra de apoio ao porto. Nós já fizemos um novo acesso à parte portuária com o objetivo de diminuir o impacto dos caminhões na região. Acreditamos que aquele bairro vai ser beneficiado pela revitalização. Temos projetos também de levar mais habitações para lá.

Freixo: Não faz o menor sentido deixar o Caju de fora. Será um contraste muito grande com o restante da Zona Portuária que pode agravar os problemas sociais do bairro. Sou favorável ao Porto Maravilha, mas acho que o projeto precisa ser rediscutido. Não concordo, por exemplo, com a construção de torres de cinquenta andares. Acabou de ser aprovado um termo aditivo, uma mudança contratual, que retirou 100 milhões de reais de investimentos na área mais pobre da região, que abrange o Morro do Pinto, para a construção do Museu do Amanhã.

Maia: É preciso resolver uma questão antiga no Caju: a quantidade imensa de caminhões que circulam por ali, por causa do porto. Eles infernizam a vida dos moradores e degradam muito o bairro. É preciso dar escoamento a esse tráfego e também organizar a logística desses veículos. É um bairro importante que está muito próximo dos grandes investimentos, numa área crucial da cidade, e por isso não pode ser ignorado.

Leite: No âmbito geral, sou a favor do Porto Maravilha, mas não concordo com a derrubada da Avenida Perimetral. Acho que investir 1,5 bilhão de reais para fazer um túnel e engarrafar as pessoas no subsolo, enquanto há outras tantas prioridades na cidade, é uma insensatez. Acredito também que é preciso incluir o Caju no projeto de alguma forma. Eu estimularia o desenvolvimento das habitações populares na área. Entre outras medidas, elevaria o gabarito na região.

Cidade

O que precisa ser feito para alavancar o projeto das UPPs Sociais nas favelas pacificadas?

Ignácio Cano, sociólogo e membro do Laboratório de Análise da Violência (Uerj)

Paes: A ideia é fortalecer cada vez mais o trabalho que já vem sendo feito. A prefeitura conta com um grupo destinado a acompanhar o trabalho das UPPs, com mais de 1 bilhão de reais investidos em infraestrutura e melhoria de serviços nessas áreas. Nós entramos com ordenamento do trânsito, recolhimento regular de lixo, iluminação pública, contenção de encostas, implantação de Clínicas da Família, projetos sociais e fomentação do comércio.

Freixo: O único investimento que a prefeitura está fazendo nas UPPs é complementar o salário dos policiais com 500 reais por mês. Acho que seria importante firmar convênios com as universidades e trabalhar para que esses policiais tivessem outra formação. Além disso, cabe à prefeitura uma parte fundamental do projeto de pacificação: trabalhar junto com os moradores para identificar as reais necessidades e desejos daquele lugar e garantir às comunidades maior soberania nas decisões. Hoje, a UPP é feita só pela polícia.

Maia: A prefeitura já tem equipamentos dentro de todas essas comunidades, como escolas e postos de saúde. É preciso realizar projetos paralelos. Em Bogotá, vimos um bom exemplo: as casas de justiça e cidadania. Ali há advogados, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais e serviços à disposição da sociedade. A ideia é ajudar essas comunidades. Nós construímos dez vilas olímpicas dentro ou perto da comunidade quando meu pai era prefeito. Minha proposta é dobrar o número de vilas olímpicas.

Leite: Não basta só o trabalho da UPP Social, é preciso incentivar as atividades econômicas e o microempreendedor na comunidade. O que liberta não é apenas a qualidade do espaço público, mas o emprego, a geração de renda. A prefeitura poderia ajudar efetivamente, por exemplo, comprando uniformes escolares, de garis e da Guarda Municipal que fossem produzidos nessas áreas pacificadas.

Saneamento

Temos problemas de saneamento básico em várias regiões, como o despejo de esgoto nas lagoas da Barra. O senhor é a favor da municipalização da Cedae? Se não, compromete-se a investir na área e a cobrar do governo estadual a solução desse velho problema?

Delair Dumbrosck, presidente da Câmara Comunitária da Barra

Paes: Acredito que é possível melhorar muito ao assumir parcialmente as tarefas da Cedae, como já fizemos na Zona Oeste. Lá, a prefeitura fez uma concessão com um contrato de interdependência. A Cedae fornece água e o município, por meio de uma empresa privada, cuida do esgoto. Hoje, só 5% são tratados. Até 2016, serão 40%. Eu gostaria de repetir o modelo na região de Jacarepaguá.

Freixo: Defendo a criação de uma Secretaria Municipal de Saneamento Ambiental. Na área mais pobre da Zona Oeste, apenas 45% do esgoto é recolhido e só 4% são tratados. Estudamos com grupos técnicos da UFRJ propostas ousadas e ao mesmo tempo viáveis. Por exemplo: em cada favela do Rio, onde os problemas de saneamento são muito graves, é possível ter um biodigestor em que esgoto e lixo orgânico poderiam ser usados para gerar energia.

Maia: Defendo a municipalização da Cedae, mas mesmo que ela não ocorra acredito que a prefeitura precisa ser um parceiro forte da empresa. Isso tem de ser resolvido no menor tempo possível. Será uma vergonha nacional chegar a 2016 com a situação que temos hoje. Para isso, defendo o subsídio cruzado. Funciona assim: o lucro que a prefeitura tem com os tributos da Zona Sul é revertido em investimentos em outras áreas, como no sanea­mento básico da Zona Oeste.

Leite: O que é possível ser feito na área de saneamento é estreitar a relação com a Cedae e estabelecer um plano diretor definitivo para salvar as lagoas da Barra e Jacarepaguá e as praias da cidade. Esse estudo determinaria os investimentos necessários até 2016 e a contribuição anual das esferas municipal, estadual e federal.

Cultura

Além de já ter custado 560 milhões de reais, a Cidade das Artes exigirá um empenho de 48,4 milhões nos próximos dois anos só com manutenção. O que o senhor pretende fazer para que aquele lugar deixe de ser um monumento ao desperdício?

Miguel Falabella, ator

Paes: Ao assumir, em 2008, decidi fazer uma auditoria, e concluímos que boa parte do equipamento havia sido inaugurada sem estar concluída. Foram mais três anos de obras. Agora estamos licitando a empresa que fará a manutenção e cuidará da programação. Também buscarei parcerias junto à iniciativa privada para trazer conteúdo de qualidade. Mas já sabemos que não é um equipamento autossustentável. Ainda vamos ter de gastar muito dinheiro público ali. Só para acender as luzes, acionar o elevador e botar papel higiênico nos banheiros, a Cidade das Artes custa 24 milhões por ano.

Freixo: Tem de haver parceria com a iniciativa privada, principalmente por causa do elevado custo, com total transparência e controle do poder público ? inclusive promovendo espetáculos que possam incentivar o acesso das pessoas que moram nas áreas mais pobres daquela região. Algo semelhante ao que o Theatro Municipal faz, com muito sucesso, aos domingos, com o ingresso a 1 real.

Maia: Eu não sei o que significa caro ou barato. O Imperator, no Meier, custa à prefeitura 1 milhão de reais por mês, e é 10% da Cidade da Música. O Maracanã vai custar uma fortuna, quase 1 bilhão de reais. Será que o Rio não merece um equipamento com a qualidade da Cidade da Música? Acredito que o setor privado, da mesma forma que patrocina outros equipamentos, como a Arena HSBC, se interessará pelo espaço.

Leite: Vou fazer uma licitação internacional e quem ganhar terá o direito de gerir o espaço por 25 anos ou mais. Esse empenho de 48,4 milhões, que ao longo de quatro anos representa quase 100 milhões, ficará a cargo de quem vencer a concorrência. Esses recursos, que deixaríamos de gastar, seriam aplicados na construção de pequenos centros culturais populares nas zonas Norte e Oeste. A política de cultura não pode ser meramente de espetáculo. Quero oferecer oportunidades para o desenvolvimento de aptidões e talentos.

Carnaval

Neste governo, foi aberta licitação para escolher um novo gestor do Carnaval carioca. Ninguém apareceu e a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) continua à frente dos desfiles. O senhor pretende fazer uma nova concorrência ou mudar a estrutura da organização da festa?

Haroldo Costa, produtor cultural

Paes: Pretendo fazer uma nova concorrência, mas acho difícil aparecer alguém. Já fizemos três tentativas e não houve interessados. O que a gente fez neste governo foi interromper o repasse de verba do município para a Liesa, que por sua vez a distribuía às escolas. Hoje a Liga organiza os desfiles e a prefeitura apenas dá apoio. Com o novo sistema, o dinheiro da bilheteria fica com a Liesa e nós emprestamos o Sambódromo. Não cobramos o uso do espaço por entender que o Carnaval é uma festa importante para a cidade.

Freixo: Esse tema é muito relevante. É preciso mudar a estrutura da festa. Quem tem de tomar conta do Carnaval é a Secretaria de Cultura, não a Riotur. A secretaria deve controlar a venda de ingressos. Não tem cabimento, em um espetáculo dessa proporção, que os ingressos sejam vendidos exclusivamente em dinheiro. Não se pode comprar com cartão de crédito, não se pode reservar pela internet, só por fax. Isso é inacreditável. Tem de haver prestação de contas do dinheiro público. O modelo precisa ser repensado.

Maia: Não. A Liesa apareceu quando ocorreu um conflito com a antiga TV Manchete. Quais eram os termos? Todas as escolas de samba cederam o direito de imagem à liga. Então, há uma questão legal. Ela tem os direitos de imagem e o Carnaval passou a ser rentável, tornando-se um grande espetáculo em suas mãos. Se existem problemas com alguns presidentes de escola, é a polícia que tem de resolver. O que eu conheço, e isso posso dizer, é que o Carnaval tem uma boa gestão. Mas, sem dúvida, é preciso dar mais transparência à festa, até para a sociedade poder cobrar.

Leite: Acho necessário fazer uma nova licitação. No contrato, além de organizar os desfiles, o novo gestor do Carnaval teria a tarefa de transformar a Cidade do Samba num polo de atração de turistas, com shows e apresentações permanentes. Também estaria entre as atribuições a realização de um Carnaval fora de época no Sambódromo, em julho, o que atrairia mais visitantes para a cidade e geraria renda.

Os demais candidatos

Quem são os outros quatro concorrentes à prefeitura

Aspásia Camargo (PV)

Professora da Uerj e pesquisadora da Fundação Getulio Vargas, foi secretária-geral do Ministério do Meio Ambiente, presidente do Ipea e secretária estadual de Cultura. Elegeu-se vereadora e deputada estadual. Defende a proposta de que o município assuma a despoluição da Baía de Guanabara.

Intenção de voto: 1%

Fernando Siqueira (PPL)

Especialista em petróleo,

foi presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras. Teve atuação destacada no episódio do vazamento de óleo causado pela Chevron, em março. É contra as organizações sociais na área de saúde e defende a municipalização do Metrô.

Intenção de voto: 1%

Cyro Garcia (PSTU)

Disputa pela terceira vez a prefeitura do Rio. Participou da fundação do PSTU, em 1994, após sair do PT. Presidiu o Sindicato dos Bancários e foi deputado federal em 1993 por dez meses ? na ocasião, era suplente de Jamil Haddad. Defende, entre outras coisas, o fim das UPPs.

Intenção de voto: menos de 1%

Antonio Carlos Silva (PCO)

Professor nascido em Petrópolis, é redator do jornal Causa Operária, publicado pelo seu partido. Fundador do Coletivo de Negros João Cândido, milita em defesa da cultura afrodescendente. Defende o piso de 4?000 reais para os professores da rede municipal.

Intenção de voto: menos de 1%

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