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Duro de matar

Por que o mosquito da dengue, ano após ano, continua a atormentar os cariocas

Por Letícia Pimenta e Felipe Carneiro
Atualizado em 5 dez 2016, 15h37 - Publicado em 2 Maio 2012, 19h08
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dengue-02.jpg (Redação Veja rio/)
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Há 26 anos, no verão de 1986, o Rio de Janeiro enfrentou sua primeira epidemia de dengue. Desde então, a expectativa pela chegada da estação preferida dos cariocas vem acompanhada do temor de uma nova manifestação da doença, favorecida pelo clima úmido e quente característico dessa época do ano. De lá para cá, outras três epidemias atormentaram os moradores da cidade, em 1992, 2002 e 2008, esta última com mais de 100?000 notificações e 158 mortes. Na terça-feira passada (24), já em pleno outono, a prefeitura tornou público o quinto surto de dengue, pela proliferação do Aedes aegypti. A capital registrou mais de 300 casos da doença para cada grupo de 100?000 habitantes. Entre 1° de janeiro e 21 de abril foram contabilizados 50?016 vítimas do mosquito e doze óbitos.

Comparada com a letalidade da epidemia de quatro anos atrás, a atual, felizmente, é bem mais baixa. Isso pode ser creditado a dois fatores: o melhor preparo do sistema de saúde e o fato de o vírus da dengue do tipo 4, encontrado em mais de 80% das amostras coletadas para análise, não circular há mais de trinta anos no Rio. “Os primeiros pacientes apresentaram pouca quantidade desse sorotipo no sangue. Mas há o risco de a situação piorar no próximo verão, com o vírus mais bem adaptado à região”, alerta Silvia Cavalcanti, professora de virologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Outra particularidade de agora é que o surto da doença ocorreu tardiamente. Em geral, os picos coincidem com o auge do verão. A estiagem é a explicação para o atraso. Fevereiro apresentou o habitual clima quente, porém seco. Os temporais de março tampouco vieram. Como o ovo do inseto pode passar até um ano à espera das condições ideais para eclodir, a população de novos mosquitos deu um salto somente quando as chuvas voltaram a cair, em abril. Devido a essas condições, o ciclo da epidemia será menor que o normal, pois as baixas temperaturas devem em breve chegar aqui e arrefecer o surto.

As tentativas de exterminar o inseto, também transmissor da febre amarela, remontam ao início do século XX. O sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) criou as primeiras brigadas de mata-mosquitos, que percorriam a cidade para limpar ralos, bueiros, telhados e calhas. Recorreu-se a uma estratégia linha-dura para remover os focos. Os cerca de 5?000 agentes chegavam a ponto de ameaçar com armas de fogo os moradores que se recusavam a abrir sua casa ou a tomar a vacina. Na época, os órgãos de saúde também tinham à disposição um poderoso inseticida, o DDT, hoje proibido por ser cancerígeno. Tais medidas provaram-se eficazes. A febre amarela urbana foi erradicada. O mosquito minguou na década de 50 e só ressurgiu mais de trinta anos depois, com a dengue. “Esse antigo conceito de política sanitária não existe mais. A cidade hoje é muito mais complexa e populosa”, compara Hans Dohmann, secretário municipal de Saúde. Enquanto os cientistas desenvolvem uma vacina eficaz contra todos os sorotipos da doença, algo ainda sem previsão de chegar ao mercado, resta ao carioca fazer a sua parte, evitando depósitos de água parada. E torcer pela ajuda providencial de São Pedro.

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