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Esclarecer morte de Marielle é o 1º grande desafio da intervenção

Presença de militares no território fluminense há um mês não evitou ataque à autoridade constituída do Estado representada por parlamentar

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 15 mar 2018, 22h23 - Publicado em 15 mar 2018, 22h15
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    (Saulo Pereira Guimarães/Veja Rio)

    É tudo simbólico demais. Prestes a completar seu 1º mês, a intervenção federal não foi capaz de evitar um ataque ao Poder constituído como não se via há muito tempo no Rio. As mortes da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes aconteceram a 750 metros da prefeitura e do Hospital Central da PM. Se o senso comum é de que o Estado é ausente apenas nas comunidades e nas periferias, dessa vez, infelizmente, foi diferente. Em uma região da cidade que não é tida como conflagrada, a segurança pública falhou em defender uma representante eleita pelo povo para fazer parte do Estado. Por isso, a morte da parlamentar do PSOL foi mais que uma morte e sim um ataque à autoridade que a sociedade entrega ao Poder Público. Daqui para frente, a expectativa é que investigadores tomem o lugar dos manifestantes no noticiário sobre o assunto. E que um desfecho diferente daquele com o qual os cariocas já estão acostumados justifique o controle da segurança no Rio pelas forças federais nos últimos 28 dias, com a identificação dos autores e suas motivações e aplicação das devidas punições.

    A situação explica a reação intensa por parte das ruas. Desde o começo da manhã desta quinta (15), centenas de pessoas se reuniram na Cinelândia. No protesto da tarde, artistas do porte de Chico Buarque estavam presentes. Entre aqueles que acompanham as investigações do homicídio desde o começo, circulam as mais diferentes hipóteses. Elas vão desde um pouco provável assassinato por crime de ódio até uma morte encomendada por milicianos ou policiais corruptos descontentes com as denúncias de Marielle dos abusos cometidos em ações recentes da intervenção em Acari e outras localidades. “Dispararam nove vezes. Sabiam exatamente onde ela estava sentada no carro. Uma execução desse nível muda de patamar a escala da violência”, afirmou Carlos Minc, deputado estadual pelo PSB. “Coisas que antes só aconteciam no México, na Colômbia, agora estão acontecendo aqui”, afirmou Marcus Vinicíus Faustini, ativista social e criador da ong Agência Redes Para a Juventude. “É uma execução com um simbolismo muito grande, um crime contra a democracia”, resumiu Carlos Roberto Osório, deputado estadual pelo PSDB. Os atos em frente à Câmara Municipal e Assembleia Legislativa pareceram retratar essa percepção. Ao longo das primeiras oito horas de manifestação, os tumultos comuns nos últimos eventos do tipo na cidade não aconteceram. A principal causa de indignação era o crime e nada foi capaz de se sobrepôr a isso.

    Ninguém se arrisca a apontar o impacto da morte da vereadora nos rumos da ação que completa um mês no próximo sábado (17). “É muito difícil fazer uma análise profunda de futuro sem saber o planejamento e as estratégias”, explica José Júnior, fundador do Afroreggae. O único consenso é que o esclarecimento do crime vai influenciar diretamente na credibilidade dos futuros movimentos dos militares. “Agora, o essencial é apuração”, afirmou Chico Alencar, deputado federal pelo PSOL. “E só não apura se não quiser”, complementou ele, lembrando que grande parte das vias pelas quais Marielle e Anderson circularam antes da execução é monitorada por câmeras. “A polícia militar precisa dar respostas imediatas que façam cessar suspeitas sobre atuação de seus policiais. A polícia civil deve elucidar o crime de forma exemplar. E sobretudo o comando militar da intervenção federal deve respostas à sociedade”, defendeu em nota o Observatório da Intervenção, formado por especialistas em segurança pública e outros representantes da sociedade civil.

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