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Escolas cariocas se adaptam às ferramentas digitais — e o ensino agradece

Se antes videogame, celulares e redes sociais eram vistos como vilões, no cenário pós-pandemia essas invenções são adotadas cada vez mais nas salas de aula

Por Paula Autran
Atualizado em 17 set 2021, 11h05 - Publicado em 17 set 2021, 06h00
Computadores em sala: integrados à rotina da Escola Nova -
Escola Nova: máscaras voltaram a ser recomendadas. (Leo Lemos/Divulgação)
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Desde que a pandemia afastou os alunos das salas de aula, os colégios cariocas correram na busca por soluções criativas e capazes de dar conta do ensino remoto, com todo mundo em casa. Pois a turma que agora retorna às carteiras aterrissa em uma escola diferente — modificada, como tantos outros setores, pela necessidade de se adaptar às pressas a um cotidiano vivido a distância.

Ipads, notebooks, smartphones e até óculos de realidade virtual ingressaram como nunca na rotina, mas no balaio pós-Covid há mais: TikTok, videogames, podcasts — tudo isso entrou em algum grau no dia a dia acadêmico sob o impulso das edtechs, startups que usam de tecnologia para abrir novas janelas para a aquisição do saber.

“Não temos mais como pensar no estudante como mero espectador, e as ferramentas digitais se aproximam da realidade deles”, observa a diretora do Colégio Veiga de Almeida, Luinha Magaldi. “Apesar de todo o impacto, saímos ganhando, tanto quem quer ensinar como quem precisa aprender”, ela faz o balanço.

O mercado de edtechs anda em plena ascensão no Rio, com cifras que em nada lembram as de uma crise econômica: em 2020, o número delas cresceu 26% (59% foram criadas nos últimos cinco anos) e 64% registraram subida no faturamento após o início da pandemia, de acordo com um mapeamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) e do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb).

E ao que tudo indica a maré seguirá em elevação, sobretudo porque a estrutura do ensino médio passará por mudanças já a partir de 2022 — e elas, de novo, apontam para o digital. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BNCC), o tempo de formação dos alunos será ampliado para 3 000 horas e 20% do conteúdo poderá ser aplicado on-line.

Além disso, o currículo passará por uma flexibilização, com novas disciplinas, outro nicho que as edtechs estão rapidamente ocupando. “Entendemos, com a pandemia, que não temos de lutar contra essas novidades, mas usá-las a nosso favor”, avalia a diretora Mariana Guaraná, da Escola Nova.

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Como em outros colégios da cidade, cientes de que a criança precisa deter ferramentas básicas para se virar no mundo que se digitaliza, na grade do ensino fundamental da Escola Nova constam matérias como tecnologia da informação e da comunicação, justamente com o objetivo de aprofundar o conhecimento nas novas tecnologias.

Mas agora, eis a novidade, elas estão integradas às salas de aula. Depois do retorno ao ensino presencial, cerca de 150 notebooks saíram do laboratório e foram incorporados às disciplinas tradicionais, para lhes conferir outras perspectivas — assim como o próprio celular, ele também adotado em prol do aprendizado.

No Mopi, com unidades na Tijuca e no Itanhangá, parte das avaliações passou a ser remota. “Nos despimos do conceito de cola. A prova em casa trouxe a possibilidade de avaliações mais densas, com pesquisas que estimulam o aluno a criar de forma autoral”, explica o coordenador pedagógico Luiz Rafael Silva.

Um objeto que pode soar futurístico se junta às inovações pedagógicas: os óculos de realidade virtual, que outro dia conduziram crianças do 3º ano do fundamental por um passeio em Marte, experiência em que investigaram em 3D evidências de diferentes tipos de gases, presença de água e a relação desses elementos com a sobrevivência dos seres vivos em uma lição cheia de entusiasmo.

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arte Educação

Mesmo colégios tradicionais, como o Santo Inácio, que acaba de completar 118 anos, estão movidos pela necessidade de reinventar o jeito de fazer as coisas. Em sala, os estudantes são estimulados a selar uma união que parece improvável — do ensino com as redes sociais.

No 9º ano e no 1º do ensino médio, a turma trouxe à vida personagens como Dom Casmurro, direto do clássico de Machado de Assis para os dias de hoje, com perfis no Instagram e no Twitter, que trocam mensagens entre si adequadas a suas características e ao enredo.

Já a garotada do 6º ano lida com Gigi Blogueirinha, agente pedagógica criada por uma professora de história: ela, que perde seguidores por fazer posts recheados de erros, surge em questões de prova, que precisam ser devidamente corrigidas pela criançada.

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Tamanha demanda por novas formas de ensinar, amparadas na tecnologia, fez com que empresas como a Santillana, holding de negócios educacionais, dessem um salto de 503% no consumo de seus conteúdos, adotados pelo dobro de usuários em 2020, em relação a 2019. Suas plataformas estão disponíveis hoje para 27,3 milhões de alunos — 225 000 deles de 600 escolas particulares cariocas.

O que se via até bem pouco tempo atrás no ensino digital era a exata e nada criativa transposição do modo presencial para o remoto — o que felizmente está mudando. “Com a progressiva volta às aulas nas escolas, é preciso utilizar todos os recursos do ecossistema digital para melhorar a experiência de aprendizagem”, reforça Marcia Carvalho, diretora de projetos e produtos da Santillana.

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Tanta sede por tecnologia deu ainda mais gás a um setor que já vinha crescendo antes do novo coronavírus. Presente em 33 instituições do Rio e atendendo 5 400 estudantes no município, a edtech Edify Education conseguiu auxiliar as escolas na implementação do ensino de inglês a distância, desenvolvendo planos de aula no ambiente on-line.

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Um dos programas bilíngues contabilizou, no último ano, 55% de aumento na audiência. Com todo esse impulso, o Rio vem se aproximando de uma realidade que não é virtual, com o perdão do trocadilho, há alguns anos em países como a China — lá, algumas escolas possuem um sistema de gerenciamento comportamental, em que câmeras posicionadas no quadro-negro monitoram o nível de atenção em sala.

Chamado de smart eye (olho inteligente, em tradução livre), o mecanismo identifica as expressões faciais e analisa se os alunos estão engajados ou distraídos — nesse último caso, o professor é avisado.

Com a expansão da vida no universo digital, escolas como a Eleva começam a abordar questões que definitivamente entraram no rol dos alunos, como a etiqueta na internet e os riscos associados ao uso das redes. “Fizemos palestras sobre limites e controles de acesso para ajudar a orientar os pais, que não são nativos digitais”, explica Vincent Bonnet, gerente de produto do grupo.

“A tecnologia pode ser uma grande aliada em vários aspectos da trajetória estudantil, como identificar aqueles que têm dificuldades, por exemplo. Mas ela não resolve tudo e precisamos estar alertas para o lado negativo, como o vício na tela”, acrescenta.

Ele revela que crianças muito pequenas desaprenderam até a usar a tesoura no período em casa. Por isso, a escola chegou a enviar um kit com itens como barbante e papelão, para estimular trabalhos manuais. O mundo cada vez mais digital em que vivemos ainda tem lugar para recortar e colar no velho modo analógico.

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