De quatro em quatro anos, o país do futebol tem sua atenção despertada para esportes com os quais nutre pouquíssima familiaridade. Em época de Olimpíada, como agora, vira e mexe o brasileiro depara na TV com modalidades um tanto estranhas a nossos olhos. É o caso do badminton, um jogo de raquetes e peteca que tem a China, a Coreia do Sul e a Indonésia como grandes potências olímpicas. Outro exemplo nessa linha é o hóquei na grama, praticado com um taco em formato de jota e presente na principal competição do planeta desde o começo do século passado. Para aqueles que querem se iniciar nessas ou em outras atividades pouco difundidas por aqui, destacamos sete esportes nada triviais que possuem escolinhas na cidade (veja o serviço na pág. 18). Entre eles, o tiro esportivo, que seduziu o estudante Andrey Braga, 17 anos, neto do atirador Alberto Braga, atleta brasileiro nos Jogos de Londres-1948 e Helsinque-1952. “É um esporte viciante e desafiador, que impõe metas cada vez mais difíceis. Não basta só chutar a gol”, diz ele. Qualquer maneira de suar a camisa e se divertir vale a pena.
Tiro
Há duas formas de praticá-lo: com armas de fogo (só para maiores de idade) ou de ar comprimido (a partir de 12 anos). O curso básico, no entanto, é o mesmo, com uma aula teórica e três práticas. Os calouros aprendem fundamentos como recarregar a arma e usar a mira. Em média, são feitos cinquenta disparos por sessão, a até 25 metros do alvo. Cumprido esse estágio, o novato escolhe seu treinamento. Ele pode ainda fazer um curso avançado, que o habilita a adquirir uma arma de fogo para fins esportivos. Apesar do preconceito associado à prática, o tiro é um esporte tradicional e democrático. Os Jogos de Pequim reuniram competidores de 17 a 61 anos. “É um esporte seguro e nada bruto. Violento é o UFC”, diz a professora de educação física e atiradora Patrícia Rosito. A modalidade, por sinal, deu o primeiro ouro ao Brasil, pelas mãos de Guilherme Paraense, em 1920.
Hóquei na grama
Comparada com sua vertente no gelo, esta modalidade disputada em gramado sintético parece até fácil. Tal qual o futebol, ela envolve em cada equipe um goleiro e dez atletas de linha, que têm como objetivo meter a pelota dentro das traves. Só que o instrumento de trabalho não são os pés nem a cabeça, mas, sim, um taco de fibra de carbono com uma curvatura na parte de baixo. No Rio, há escolinhas na Vila Militar, em Deodoro, e na Sociedade Germania, na Gávea, com o aluguel do equipamento incluído na mensalidade. No início, as aulas enfatizam exercícios de passes e controle de bola com o cajado. A fim de aprimorar a técnica dos alunos, os professores montam circuitos para que eles se desloquem em zigue-zague. No encerramento da atividade vem o melhor de tudo: há sempre uma animada pelada reunindo eles e elas.
Ginástica de trampolim
Dar saltos numa cama elástica é algo ao alcance de qualquer criança. Porém, esta modalidade que começou a valer medalha nos Jogos de Sydney, em 2000, envolve manobras de difícil execução, que chegam a alçar o corpo do atleta a dez metros do chão. Portanto, é preciso ter amplo domínio de técnicas acrobáticas para fazer as piruetas. O passo inicial pode ser dado nas escolinhas do Vasco, em São Januário, no Núcleo de Ginástica Olímpica Tatiana Figueiredo e no Colégio Alfa Cem, ambos em Jacarepaguá. As aulas se iniciam com um alongamento e corrida leve. Já na primeira semana, são transmitidos aos alunos alguns dos movimentos que podem ser realizados sobre o aparelho. “A sensação de liberdade é incrível”, ressalta a estudante Marcela Martins, 17 anos de idade e mais de dez de ginástica de trampolim.
Wrestling
As lutas livre e greco-romana envolvem muita agarração. Tudo para imobilizar o oponente no chão e assim ganhar o confronto, que é dividido em três rounds de dois minutos cada um. Uma vantagem em relação a outras atividades olímpicas é que o wrestling não exige equipamento extra. Para praticá-lo, bastam disposição e força nos membros e tronco. O aluno noviço não deve estranhar se o professor passar exercícios esdrúxulos, como derrubar o colega sem usar as mãos, ou propor uma partida de futebol americano, só que jogada de joelhos. “O mais difícil não é aprender os movimentos, mas, sim, as técnicas de respiração para aguentar firme até o fim do combate”, revela o estudante Guilherme Marinheiro, 18 anos, que se interessou pelo wrestling graças ao Ultimate Fighting Championship (UFC), que concentra vários atletas adeptos da modalidade.
Badminton
Muito disseminado em países altamente populosos, como China e Indonésia, este esporte pouco conhecido por aqui é o segundo mais praticado do planeta, atrás apenas do futebol. Semelhante à mecânica do tênis, o jogo é praticado com raquetes, e os adversários têm como meta fazer com que a peteca caia do outro lado da rede. As partidas são disputadas em melhor de três sets de 21 pontos cada um. “A peteca muda de velocidade facilmente e é muito traiçoeira. É preciso ter reflexo aguçado”, afirma o estudante de engenharia Bernardo Reis, 20 anos. Ele conheceu a modalidade por intermédio do professor de educação física Sebastião Oliveira, principal incentivador do badminton na cidade, à frente do Miratus Centro de Treinamento, em Jacarepaguá, onde as aulas são gratuitas.
Esgrima
Para quem quer se tornar um ás como Zorro e D?Artagnan, os clubes Militar da Lagoa e Ginástico Português oferecem aulas de florete, espada e sabre, as três vertentes em disputa em Londres. Inicialmente, os novatos ficam um mês na chamada “escola de passo”, para aprender os movimentos de recuo e ataque. A partir daí, começam a manusear a arma. O aluguel do equipamento – espada, uniforme e máscara ? está inserido na mensalidade. “É um esporte gostoso de praticar”, afirma o médico Saulo Rodrigues, 31 anos, que se encantou pela modalidade nos Jogos de Sydney, em 2000. O curso completo envolve sete etapas. Para passar de nível, o aluno é submetido a provas prática e escrita. Com cerca de 250 adeptos no Rio, a esgrima trabalha resistência aeróbica, coordenação, reflexo e equilíbrio. É um dos quatro esportes presentes na Olimpíada desde 1896.
Arco e flecha
Vamos deixar os índios de lado. O bom e velho arco e flecha virou esporte no Rio em 1955, quando ocorreu a primeira prova do gênero na Quinta da Boa Vista, vencida pelo comissário de bordo português Adolpho Porta, um personagem fundamental para o desenvolvimento da modalidade no Brasil. Trata-se de uma atividade que exige destreza e precisão. Até atingir o alvo, a 70 metros de distância, com pontuação crescente da borda para o meio, a flecha chega a atingir 240 quilômetros por hora. Na Olimpíada, são duas séries com um total de 72 disparos. “É um esporte dispendioso, mas que compensa cada centavo investido”, resume o estudante de ciência da computação Erick Moura, que pratica o esporte há quatro meses no Club Municipal da Tijuca. Ele desembolsou pouco mais de 1?000 reais para importar o equipamento da Holanda.