Tesouros na firma
Depois dos videogames e das salas para relaxamento, é a vez de as obras de arte entrarem em cena para estimular a criatividade e aumentar o desempenho dos funcionários
Em meio a um grande esforço para humanizar o ambiente de trabalho, empresas de todo o mundo têm apostado em recursos para arejar a atmosfera sisuda dos escritórios. Cantinhos com jogo de totó, máquinas de fliperama, videogames ou pufes e almofadas para a turma relaxar já se tornaram cenário comum em várias companhias. Em uma espécie de desdobramento desse fenômeno, corporações de diversos setores e tamanhos estão investindo na arte para proporcionar bem-estar e inspiração aos funcionários. Pesquisas internacionais comprovam que isso funciona. Segundo um estudo produzido na Inglaterra em 2011 com 1?500 executivos, 94% dos entrevistados disseram que pinturas, esculturas e fotografias tornam o ambiente mais acolhedor, enquanto para 54% uma boa coleção exposta no escritório pode ajudar a promover os valores da empresa. Por aqui ainda não existem levantamentos desse calibre, mas os profissionais que lidam com a compra e a venda de obras no Rio já detectaram a tendência, corroborada por um aumento na procura por parte de bancos, corretoras e escritórios de advocacia. “O número de interessados em adquirir peças para decorar escritórios dobrou do ano passado para cá”, contabiliza o marchand Jones Bergamin, da casa de leilões Bolsa de Arte. “A maioria começa um acervo com fotografias, que têm status de obra de arte mas são mais acessíveis”, diz ele. Para os que podem desembolsar um pouco mais, os preferidos são Vik Muniz, Gonçalo Ivo, Eduardo Sued e Frans Krajcberg.
Nos escritórios contemporâneos são comuns os espaços abertos dotados de estações de trabalho compartilhadas por muitos funcionários e desprovidos de qualquer charme. Decorá-los com obras de arte é uma boa solução para imprimir personalidade ao ambiente e quebrar a monotonia. Um estudo feito na Universidade de Exeter, no sudeste da Inglaterra, mostrou um significativo aumento de produtividade em ambientes onde a mesmice é atenuada com a ajuda de obras de arte. “Os funcionários se consideram valorizados ao trabalhar em um ambiente assim”, afirma Mark Catchlove, diretor da fabricante de móveis Herman Miller e especialista em escritórios. A sede da FSB Comunicações, em Ipanema, chama atenção pela quantidade de telas penduradas em todas as paredes, como se estivessem em um museu ou uma galeria de arte. Todas são identificadas com o nome do artista e o ano de produção. O responsável pela escolha e pelas aquisições é o sócio Chico Soares Brandão, dono de uma coleção de mais de 500 peças de arte contemporânea distribuídas entre as filiais da empresa em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte e sua nova unidade no centro do Rio. Os artistas Rubens Gerchman e Angelo de Aquino estão entre os preferidos do empresário, que era amigo dos dois. “Desde que inaugurei a primeira salinha, minha proposta sempre foi criar um bom ambiente para trabalhar. As pessoas se sentem bem e produzem mais”, resume ele.
Além de alavancar o moral dos funcionários, valorizar a imagem e reforçar a identidade de uma empresa, a introdução de obras de arte no universo corporativo é obviamente um ótimo negócio em si. Para o dono da construtora Carvalho Hosken, Carlos Carvalho, de 88 anos, sua coleção de esculturas, louças, mobília e pinturas é coisa seriíssima, a ponto de ser quase uma empresa, com uma equipe de treze museólogos e historiadores da arte contratados para administrá-la. O hábito de adquirir peças artísticas remonta aos anos 50. Desde então, ele construiu um acervo de 4?000 peças. Elas vão de exemplares do século XVI a nomes de peso da arte contemporânea. Na sede da construtora, na Barra da Tijuca, há cerca de 130 obras distribuídas pelas recepções, corredores e salas de reuniões. Em um rápido passeio, vislumbram-se quadros como a enorme natureza-morta em estilo barroco pintada pelo italiano Evaristo Baschenis há 350 anos, raras imagens sacras do século XVIII, art déco, estátuas do escultor mineiro Alfredo Ceschiatti, telas de Burle Marx e até uma edição de 1880 do clássico Os Lusíadas. Carvalho não se baseou em nenhum estudo para trabalhar cercado de arte, mas reconhece o efeito positivo que a convivência com tantos tesouros lhe traz. “A arte suaviza a rigidez do ambiente corporativo”, afirma. Animado, ele resolveu expandir o conceito para os prédios que constrói. Destinou noventa peças da coleção, entre elas Di Cavalcantis, Pancettis e um Rodin, a um condomínio que ergueu na Península, para que os moradores desfrutem o mesmo privilégio dos 250 funcionários que trabalham na sede da empresa.