‘Cometi o crime de ser preto?’, questiona estudante baleado por PM

Igor Carvalho e o mototaxista Thiago Marques Gonçalves, confundidos com assaltantes, contam como se jogaram de viaduto para escapar dos tiros

Por Da Redação
10 mar 2025, 13h05
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Igor Melo de Carvalho; 'Eu só quero voltar a ser feliz' (TV Globo/Reprodução)
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“Qual crime eu cometi? Crime de trabalhar? Crime de ser preto? Crime de estar em cima de uma moto de madrugada?”. São os questionamentos do estudante universitário Igor Melo de Carvalho, baleado por um policial militar reformado sob falsa acusação de ter roubado um celular. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibida neste domingo (9), o jovem se emocionou e mostrou perplexidade com o ataque que sofreu, na noite do dia 23 de fevereiro, quando voltava do trabalho na garupa do mototaxista Thiago Marques Gonçalves.

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Estudante de jornalismo e publicidade, Igor tem 31 anos e, além de trabalhar no setor administrativo da faculdade onde estuda, faz bico de garçom de uma casa de samba da Zona Norte. “Eu só quero voltar a ser feliz”, disse ele, ao contar detalhes do crime do qual foi vítima. Era 1h30 da madrugada quando o rapaz solicitou uma moto por aplicativo. O motorista que chegou foi Thiago, de 24 anos. Os dois foram confundidos por Carlos Alberto de Jesus, policial militar reformado, que baleou Igor. As vítimas chegaram a se jogar de um viaduto para escapar do ataque a tiros.

“Eu olhei pelo retrovisor e vi um carro vindo daquela direção em alta velocidade. Eu abri passagem para ele… Ele pareou do nosso lado e diminuiu a velocidade. Aí eu vi o momento em que ele botou o revólver para fora, eu falei: ‘Deve ser uma tentativa de assalto'”, lembrou Thiago. “Quando eu ouvi o disparo, eu me joguei no chão. Foi onde eu e o Igor caímos.” O universitário completou: “Ele tentou atirar mais de uma vez. Quando saiu esse tiro, eu senti uma queimação aqui atrás. O motoqueiro ficou desesperado, e a moto caiu. A gente percebeu que o farol do freio ligou e da marcha ré também. A gente falou: ‘Cara, ele vem atrás da gente. Vamos correr'”.

Thiago decidiu, então, pular do viaduto ao lado, que tem quatro metros de altura. Igor o acompanhou: “Falei: ‘Ô, Tiago, não me abandona. Não me abandona, não, porque senão eu vou morrer. Não me abandona. Por favor, não me deixa aqui’. E ele falou: ‘Não, cara, eu não vou te abandonar. Eu vou ficar contigo até o final’. E ficou também aquele clima de desconfiança. ‘O que tu fez para esse cara?’ ‘Po, Tiago, eu não fiz nada. Mas e tu? O que você fez?’. ‘Eu também não fiz nada'”. Ao perceber que Igor estava baleado, o jovem ligou para dois colegas de trabalho, que rapidamente chegaram para socorrê-lo. Enquanto isso, Thiago viu alguns carros de polícia e foi buscar ajuda. Nesse momento, reconheceu o autor dos disparos junto aos policiais.

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“Me levaram para a delegacia”, contou Thiago. Ele ficou preso por dois dias acusado de roubo. “Eu sou pai de duas crianças, trabalhador. Trabalho desde os meus 13 anos de idade. E eu sou isso aí. Sou trabalhador, sou sobrevivente, acima de tudo. A gente quer que o cara que causou isso tudo pague pelo que ele fez. Porque eu paguei por algo que ele fez. Eu fiquei preso”, disse o mototaxista, que está sem trabalhar porque a moto foi para o conserto e ele perdeu o celular no dia do ataque. Já Igor foi internado no Hospital Getúlio Vargas sob custódia de dois agentes policiais, também acusado de roubo. Ele perdeu um rim por causa do tiro, e chegou a ficar em estado grave. Ele passou por uma cirurgia para reparar o estômago e a musculatura das costas e está em tratamento psiquiátrico.

Ao Fantástico, o advogado de Carlos Alberto de Jesus, André Rios, O advogado afirmou que seu cliente estava atendendo a um pedido de ajuda de Josilene da Silva Souza, namorada dele, que teria sido assaltada na região. “Ele deu voz de parada: ‘Parem, é a polícia, parem’. Eles não obedeceram à voz de parada, fizeram o movimento brusco que leva a crer, que poderia sacar uma arma. Naquele momento, ele achou melhor agir para preservar a sua própria vida e a de terceiros”, disse o advogado, lembrando que o cliente é policial da reserva remunerada: “O policial da reserva remunerada responde como policial se fosse”.

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A Polícia Militar do Rio, em nota, esclareceu que Carlos Alberto está aposentado desde 2020 e não possui arma da corporação. Afirma ainda que o caso está em investigação na corregedoria. Já a Polícia Civil disse em nota que investiga a responsabilidade de Carlos Alberto Jesus e de Josilene da Silva Souza pela comunicação do crime e pelas inconsistências na prestação dos depoimentos.

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