Estudante brasileiros buscam ingresso em faculdades portuguesas
Depois que o Enem passou a ser aceito nas universidades portuguesas, o número de estudantes brasileiros na terrinha cresceu 31%
Sonho que não morre — e ganha força em momentos de crise —, o projeto de viver e estudar no exterior tornou-se mais acessível para quem tem Portugal como destino. Em 2014, as principais instituições lusitanas passaram a aceitar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como critério de seleção. Resultado: nos últimos três anos, houve um crescimento de 31% no ingresso de brasileiros nos cursos de mestrado integrado oferecidos por lá, o equivalente à nossa graduação. Os dados são da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, órgão do governo português. Arthur Garcia, 18 anos, é um dos estudantes que pretendem aproveitar a chance. Formado pelo colégio Pensi, ele foi aprovado em primeiro lugar no curso de engenharia e gestão industrial da Universidade do Porto e embarca para a terrinha no próximo ano. “O resultado saiu em fevereiro, um pouco antes de eu começar a cursar engenharia de produção na UFRJ”, conta o jovem, que pretende usar o diploma internacional como credencial para buscar emprego em outros países europeus.
Além de servir como porta de entrada para o continente, a experiência portuguesa tem outros pontos a seu favor. Qualidade de vida superior e chance de mergulhar em uma nova cultura, os atrativos mais lembrados, dividem as atenções com o custo da mensalidade, mais baixo que os salgados valores praticados nos câmpus particulares do Brasil. A mudança, radical, não deve ser tratada com a leveza de uma viagem turística. “O fato de haver vantagens não significa que vai ser tudo fácil”, deixa claro Fernanda Miguel de Barros, mestre em literatura portuguesa e professora do Colégio Pinheiro Guimarães, dedicada à preparação de candidatos ao Enem. Muitas vezes, o processo de adaptação não é tão simples, como descobriu Gabriela Lima Rodrigues, 21 anos. “A cultura é muito semelhante à brasileira, mas os pontos de divergência exigem esforço. Apesar de ser a mesma língua, é difícil entender o que dizem. Há termos e expressões diferentes e o sotaque dificulta a compreensão”, conta a estudante carioca, ex-aluna do Cefet, que está cursando o 2º período de engenharia civil na Universidade de Coimbra. Ficar longe da família também é complicado. “Precisei de algumas noites de choro para aceitar que estava sozinha”, confessa Gabriela, que, hoje, vê a volta ao Brasil como “uma probabilidade pequena”.
Joana de Almeida Machado, 20 anos, planeja partir em maio do ano que vem, mas o retorno é praticamente certo. “Quero ter uma experiência maravilhosa em Portugal e trazer novidades para o Brasil, que, principalmente em cirurgia, tem muito que evoluir”, avalia a estudante do 7º período de medicina da UFRJ. Formada pelo Colégio Militar, ela fará na Universidade de Coimbra os dois últimos anos da graduação. Não importa a motivação, a experiência em geral compensa. Portugal possui dez das 100 melhores universidades do mundo, segundo o QS World University Ranking by Subject, que avalia o ensino superior global. “Mas os jovens precisam ter um objetivo muito bem estabelecido para que as novidades não os desviem do plano inicial: a formação acadêmica”, alerta a professora Fernanda Miguel de Barros.
As mais cobiçadas
Universidade de Coimbra: A mais antiga universidade de Portugal, criada em 1290, foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco em 2013. Engenharia, medicina e direito são os destaques.
Universidade de Lisboa: Na capital lusitana, a maior universidade do país, a primeira a aceitar a nota do Enem, recebe anualmente cerca de 7 000 estudantes estrangeiros.
Universidade do Porto: Conhecida como “o berço científico de Portugal”, possui catorze faculdades. Arquitetura e engenharia
têm grande procura.
Universidade Nova Lisboa: Com menos de cinquenta anos — foi fundada em 1973 —, está entre as melhores universidades do mundo. As áreas de artes e humanas se destacam.
Universidade do Minho: Possui oito bibliotecas, 32 graduações e um parque de ciências e tecnologia. Entre os cursos mais disputados estão os de ciências e medicina.