A desocupação e demolição de imóveis na Favela Metrô-Mangueira, na zona norte da cidade, nesta quinta (28), resultaram em confrontos generalizados entre policiais militares, moradores, comerciantes e estudantes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Os alunos da Uerj se juntaram às famílias desalojadas contra a ação da polícia.
As primeiras construções começaram a ser derrubadas no início da tarde, com a ajuda de tratores da prefeitura, com objetivo de reurbanizar o local, próximo ao Estádio Mario Filho, o Maracanã, onde ocorrerá a cerimônia de abertura das Olimpíadas no ano que vem.
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As demolições revoltaram os moradores, trabalhadores e comerciantes que vivem ou atuam no local, onde existem dezenas de pequenas oficinas mecânicas e lojas de autopeças. Eles diziam que a prefeitura descumpriu acordo de primeiro construir no terreno um polo automotivo, em substituição às antigas oficinas, e só depois demolir os imóveis. Também um grande galpão de reciclagem foi posto abaixo, deixando várias pessoas desempregadas e prejudicando o trabalho de dezenas de catadores, que vendiam os materiais recolhidos nas ruas.
No início da noite, estudantes da Uerj foram dar apoio aos moradores e comerciantes, ajudando a bloquear a Avenida Radial Oeste, uma das principais vias de ligação entre o centro e a zona norte, o que motivou a reação da Tropa de Choque da Polícia Militar (PM), que perseguiu os alunos até o campus da universidade, que fica próximo à Favela do Metrô-Mangeuira. Ao tentarem entrar no prédio, os estudantes encontraram as portas fechadas, o que gerou desespero no grupo, dando início a um confronto com os seguranças da universidade, que os repeliram com jatos de água.
A estudante de jornalismo Hara Flaeschen disse que os colegas que estavam com ela ficaram aterrorizados ao serem imprensados pelos policiais militares, impedidos de entrar no campus. “Nós fomos dar apoio aos moradores da comunidade e fechamos a Radial Oeste, em um ato pacífico, e de repente a Tropa de Choque veio correndo em nossa direção, jogando bombas de gás. Vários moradores também vieram fugindo e fomos nos refugiar na Uerj. Aí os seguranças fecharam as portas, o que gerou um confronto por causa do nosso desespero.”
Os comerciantes que perderam ou estão na iminência de perder seus negócios na favela também manifestaram revolta com a demolição dos imóveis. “Chegaram com os tratores quebrando tudo. Estão tratando pessoas de bem, que trabalham há mais de 30 anos aqui, como bandidos. O polo automotivo é um decreto de 2013, que os comerciantes aguardavam e até fizeram cursos no Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] para se qualificar. Mas a promessa de trabalho é isso aí, tudo jogado no chão com trator”, disse Gustavo Duarte, da associação de comerciantes do local.
Após a primeira série de protestos, os moradores e trabalhadores voltaram a fechar a avenida, por volta das 19h30, ateando fogo a pneus e pedaços de madeira, o que interrompeu o trânsito na via e causou a reação dos policiais militares para dispersar os manifestantes com uso de bombas de gás. Os bombeiros foram chamados e apagaram o fogo. Alguns carros foram apedrejados e um ônibus teve uma janela quebrada.
A prefeitura foi procurada pela reportagem por meio de e-mail e telefone para a assessoria de imprensa do gabinete do prefeito. Mas, até a publicação desta matéria, a prefeitura não havia se pronunciado sobre o protesto dos moradores contra a demolição dos imóveis. A Uerj foi contatada por e-mail e também não respondeu.