Militares na área: nem mesmo a ação das tropas reduziu a violência no RioAo longo de mais de cinco meses de intervenção federal, o número de crimes como furto de veículo, tentativa de homicídio e até estupro não parou de aumentar no Rio. Os dados são de um órgão público estadual, o Instituto de Segurança Pública (ISP). Motivados por esse cenário conhecido e aterrador, que não recuou nem sequer diante da ação das Forças Armadas, membros do Instituto Igarapé, dedicado à proposta de soluções nas áreas de segurança, justiça e desenvolvimento, iniciaram há oito meses estudos com o objetivo de elaborar um plano de segurança para a cidade. Batizado de Agenda Rio Seguro, o resultado desse esforço é um relatório dividido em 25 linhas estratégicas. A lista de profissionais envolvidos no trabalho vai de policiais a gestores da iniciativa privada, passando por acadêmicos e membros do Ministério Público. Debates e a análise dos dados disponíveis levaram a três desafios principais: letalidade violenta, corrupção policial e crime organizado. Se essas questões forem combatidas, os índices de criminalidade, assim como as suas causas, podem diminuir.
“Prisão e apreensão são consequências. A gente vê isso o tempo inteiro, mas algum índice de criminalidade abaixou? Não. Então tem algo errado”, resume Ilona Szabó, cientista política, cofundadora e diretora executiva do Instituto Igarapé. O documento, com as diretrizes de criação de um Plano Estadual de Segurança Pública, foi concebido para ser posto em prática pelo governador que será eleito em outubro. Não traz uma bala de prata para acabar com a violência, mas recomenda a implementação de quinze propostas nos primeiros 100 dias de mandato. As ações imediatas envolvem trabalho coordenado de órgãos administrativos, integração entre operações policiais, maior atenção à perícia, monitoramento de vídeo nas penitenciárias e implantação de chip em armas. Além das medidas urgentes, há questões de prevenção. São iniciativas como a redução da evasão escolar em territórios afetados pela violência e o fortalecimento da participação social — cujo oposto, como se sabe, é o atual reinado de pavor que leva moradores de regiões em estado de sítio a evitar fazer denúncias. “Nem sempre as pessoas sabem como funcionam, nem sequer que existem, as ouvidorias da Defensoria Pública e das polícias. Para que o cidadão confie, é preciso que essas instituições sejam transparentes. Isso aproxima polícia e morador”, explica Michelle Ramos, especialista em segurança internacional e coordenadora de programa do Instituto Igarapé.
Os candidatos Eduardo Paes (DEM), Índio da Costa (PSD), Marcelo Trindade (Novo) e Rubem Cesar (PPS) foram apresentados a partes da Agenda Rio Seguro durante seu processo de criação. Todos os interessados na sucessão de Luiz Fernando Pezão vão receber o documento final. As dificuldades para sua execução não são poucas, e isso é reconhecido dentro do próprio Instituto Igarapé. Falta dinheiro, a sensação geral é de descontrole e o moral da tropa anda baixo. “A saúde mental da PM está em frangalhos”, constata Ilona Szabó. “Sempre vi projetos assim, mas nada nunca acontece. Na maioria das vezes o conteúdo de obviedades foge da realidade da polícia, que hoje não tem condições de executar seu trabalho”, avalia Índio da Costa, um dos concorrentes ao gabinete mais importante do Palácio Guanabara. É preciso atacar o problema quanto antes, disso ninguém há de discordar. E o plano oferecido mostra um caminho. James Carville, marqueteiro do presidente americano Bill Clinton na vitoriosa campanha de 1992, cunhou um slogan histórico para apontar a economia como o principal assunto a ser tratado. No Rio, a vez agora é de adaptá-lo, gritando: “É a violência, estúpido!”.