A estudante Julia Forasteiro tinha 9 anos quando sentiu fortes dores no peito e na nuca durante uma aula de educação física. O incômodo foi atribuído a uma alta de pressão, problema que se agravou com o tempo. Aos 11, durante uma crise de bronquite, nova medição deu o alerta: a máxima e a mínima estavam batendo na perigosa casa dos 20 por 12. Após uma semana internada na UTI, ela ganhou alta e um sério dever de casa. Com 95 quilos e 1,70 metro de altura, Julia precisava emagrecer urgentemente — caso contrário, o quadro de hipertensão tinha tudo para piorar. A menina aboliu o sal das refeições, cortou os biscoitos ricos em sódio do dia a dia e aderiu a uma dieta com baixa ingestão de carboidratos. Incentivada pela mãe, a professora Vanessa Forasteiro, de 36 anos, que também passou por um processo de reeducação alimentar nesse período, a garota eliminou quase 9 quilos em um ano e viu sua pressão se estabilizar. “É uma luta diária controlar a alimentação dela, em meio a tanta oferta de comida calórica e gordurosa, mas a gente não desiste”, conta Vanessa. “Hoje, ela está mais consciente da sua condição e sabe que precisa andar na linha”, completa.
Infelizmente, a situação da pré-adolescente Julia está longe de ser um episódio isolado. Um estudo comparativo feito por uma dezena de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) com 1 892 alunos entre 10 e 15 anos matriculados em onze escolas públicas do Rio mostrou que o índice de sobrepeso e obesidade nessa faixa etária saltou de 31,9% para 45,2% em trinta anos. Quando se fala em obesidade grave, então, o número pula de 6,7%, em 1987, para 17%, atualmente. Outra razão para preocupação: a elevação da pressão arterial está diretamente associada ao excesso de peso. O problema que acomete Julia atinge 29,1% dos gordinhos, e sua frequência é ainda maior entre os mais rechonchudos. “A obesidade é reconhecidamente uma condição que traz um conjunto de fatores que apontam numa direção muito ruim e preocupante para o futuro das crianças”, alerta a médica Andréa Araujo Brandão, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) e uma das autoras do levantamento. “Hoje, a doença cardiovascular, representada pelo infarto e pelo derrame, é a principal causa de morte no nosso país. Daí a importância de identificar essas alterações e corrigir esses hábitos ainda na infância e na adolescência, senão haverá cada vez mais adultos jovens com problemas no coração numa fase extremamente precoce da vida”, reforça.
Os dados das organizações internacionais de saúde mostram que tem morrido mais gente no mundo em decorrência da obesidade do que da desnutrição. Não à toa, governantes e autoridades de vários países, entre eles o Brasil, preocupam-se com o assunto. No início do ano foi sancionada uma lei estadual que determina a presença do nutricionista em tempo integral nas escolas, para analisar os alimentos comercializados e elaborar o plano de refeições dos alunos. Outro projeto de lei, aprovado no Senado em meados de abril, determina a inclusão de educação alimentar e nutricional no currículo dos ensinos fundamental e médio, nas disciplinas de ciências e biologia, respectivamente. De olho nas mudanças, a Escola Parque, com unidades na Gávea e na Barra, implementou no começo deste ano uma medida com o objetivo de conscientizar a garotada. Comandada por duas nutricionistas — entre elas Cynthia Howlett —, a iniciativa abarca procedimentos como a sinalização dos itens da cantina com as cores do semáforo e a realização de palestras, oficinas, degustações e aulas sobre conservantes e leitura de rótulos. “Até os 7 anos, a criança tem o paladar neutro, que pode ser lapidado, se educado corretamente”, alerta Cynthia. É como diz o ditado: melhor prevenir do que remediar.