Atuar na assistência gratuita à saúde, no Brasil, é uma tarefa hercúlea. Com frequência, os profissionais se veem diante de dificuldades e carências desanimadoras sob qualquer ponto de vista. Para o psiquiatra carioca Fabio Barbirato, no entanto, elas funcionam como um estímulo. Há quase dezoito anos ele tomou para si a missão de criar o setor de psiquiatria infantil da Santa Casa da Misericórdia, no Centro. No início, cuidava de todos os pacientes com a ajuda de duas psicólogas. Aos poucos, atraiu mais colegas interessados em filantropia e atualmente conta com o reforço de 83 profissionais da área de saúde que cuidam gratuitamente de portadores de distúrbios como depressão, transtorno de ansiedade, hiperatividade, transtorno obsessivo-compulsivo e autismo. É desse último grupo, aliás, que vem um de seus maiores orgulhos: desde março o hospital oferece o tratamento da doença a pequenos pacientes em idade pré-escolar, ou seja, entre 2 e 5 anos. Trata-se de um serviço pioneiro em casas de saúde públicas brasileiras, um sonho perseguido há anos pelo especialista, que certa vez viu uma avó vender a televisão para poder pagar uma consulta com sua equipe para o neto de 4 anos, já que não conseguia assistência na rede pública. “Aquilo me tocou demais. Gostaria muito de poder proporcionar às crianças carentes o mesmo suporte que posso oferecer aos meus pacientes particulares”, conta. Até o fim de 2015, terão sido oitenta crianças com autismo atendidas pela turma.
Estima-se que entre 1998 e 2015 o serviço da Santa Casa tenha recebido cerca de 10 000 crianças e adolescentes entre 2 e 16 anos. O sucesso do trabalho deve-se, em parte, ao incansável esforço do médico e de sua equipe. Aos 45 anos e duas décadas dedicadas à medicina, o professor de psiquiatria infantil da PUC-Rio acumula a coordenação do departamento de psiquiatria infantil da Associação de Psiquiatria do Rio de Janeiro, além do expediente em três consultórios — na Barra, em Ipanema e em Niterói. Além de trabalhar cerca de catorze horas por dia, acaba de estrear como comentarista do quadro sobre bullying no programa Fantástico, da TV Globo, e prepara um livro sobre educação infantil, em parceria com a mulher e colega de profissão, Gabriela Dias. “Finalizo o ano com conquistas que sempre almejei. A medicina nos faz abdicar de muitas coisas, mas não há dinheiro que pague os resultados que colhemos”, diz o psiquiatra, pai de Bruno, de 5 anos.