A abordagem com características racistas sofrida por Vilma Nascimento, lendária porta-bandeira da Portela, na loja Dufry do Aeroporto de Brasília provocou manifestações de repúdio de famosos, políticos e escolas de samba. Conhecida como “Cisne da Passarela”, Vilma, de 85 anos, teve que abrir a bolsa e retirar seus pertences na frente de uma fiscal de segurança para provar que não havia furtado nenhum item do estabelecimento. O caso aconteceu nesta quinta-feira (23), e a família usou as redes sociais para apontar racismo na situação e vai à polícia para denunciar o caso.
+ Vilma Nascimento recebe homenagem no Congresso Nacional
Para o cantor e compositor portelense Paulinho da Viola, a porta-bandeira foi vítima de um ato inaceitável. “Foi com dor e indignação que vi o vídeo dessa cena lamentável, onde Vilma, constrangida, mostra seus pertences e se explica para uma funcionária”, desabafou, em uma rede social. “Apesar de todos os esforços que temos feito para combater esse preconceito, ele acontece diariamente toda vez que uma pessoa é agredida, humilhada, constrangida e ferida dessa maneira. Eu também me sinto ferido. Sinto muito, querida Vilma, sinto mesmo. Você é muito maior que tudo isso”, completou ele. Também portelense, a cantora Marisa Monte postou que “Vilma é um exemplo de dignidade. Nosso Cisne. Um símbolo de elegância e distinção. Isso fere a todos nós … no dia da consciência negra. Não podia ser pior. Que vergonha! Receba todo meu respeito e carinho“.
A primeira-dama Janja Lula Silva foi outra que usou as redes sociais para expressar sua indignação: “Inaceitável o que ocorreu com D. Vilma em uma loja no aeroporto de Brasília. Exatamente após ser homenageada no Dia da Consciência Negra. Atitudes racistas não podem mais ser toleradas. D. Vilma, sinta meu carinho, meu abraço e minhas desculpas por tanta ignorância e preconceito”, escreveu. “Inaceitável” também foi adjetivo usado pela ministra Anielle Franco para descrever a situação. Segundo ela, “o Ministério da Igualdade Racial está em desenvolvendo um acordo de cooperação técnica com a Anac, a Polícia Federal e os Ministérios dos Direitos Humanos e Porto e Aeroportos para medidas eficazes de combate ao racismo, envolvendo capacitação, preparo e formação antirracistas para servidores e bolsas para ampliar a diversidade na aviação”.
Em seu perfil numa rede social, a Portela postou que “A luta por uma sociedade mais justa e humana passa pelo combate ao racismo”, e repudiou a situação. “É uma sambista de destaque, que trás na pele a marca de nossa ancestralidade. O constrangimento, demonstrado nas imagens divulgadas, é sentido por todos que temos no samba parte importante de nossa identidade, e que enxergamos em Vilma uma de nossas grandes referências“, posicionou-se a agremiação, que pede rigor nas investigações do caso.
+ Os destaques da programação e os escritores confirmados na Flip 2023
Vilma estava voltando para o Rio com a filha Danielle Nascimento depois de receber uma homenagem na Câmara dos Deputados no Dia da Consciência Negra. Segundo parentes, as duas aguardavam o voo no aeroporto de Brasília quando decidiram comprar um refrigerante na loja Duty Free Shop. Elas já haviam estado no estabelecimento vendo perfumes, quando retornaram. Foi neste momento que Vilma foi abordada por uma segurança, que teria dito que precisava ver a bolsa dela em um lugar reservado. A filha já havia comprado chocolates, e conta que também chegou a ser abordada, mas que a fiscal queria que Vilma abrisse a bolsa. Vilma chegou a dizer que abriria a bolsa na presença da polícia, mas a filha começou a gravar e diz que insistiu que ela abrisse por causa da proximidade com a hora da decolagem.
Confira o diálogo de Danielle com a mãe:
Danielle: “Esqueceu de pagar algum produto, mãe?”
Vilma: “Eu? Não comprei nada. Como é que vou pagar?”
Danielle: “Mãe, não fala nada. Só faz o que ela está pedindo e depois a gente vê. Tira
tudo da bolsa, mãe”.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui
“Minha mãe ficou surpresa, revoltada e envergonhada porque a revista foi no meio da loja na frente de clientes e outras pessoas. Foi muito constrangedor”, contou Danielle ao G1, que cita a cor da pele como potencial motivo. ‘Nunca pensei, na minha vida, passar por isso’, disse Vilma Nascimento. Em nota a Dufry pediu desculpas pelo que considerou um “lamentável incidente” e informou que a profissional que abordou a porta-bandeira foi afastada de suas funções: “A abordagem feita pela fiscal de segurança da loja está absolutamente fora do nosso padrão. Em razão da falha nos procedimentos, a profissional foi afastada de suas funções. Este tipo de abordagem não reflete as políticas e valores da empresa. A Dufry está reforçando todos os seus procedimentos internos e treinamentos, em linha com as suas políticas, para impedir que situações assim se repitam.”