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Fechado, teleférico é símbolo do abandono do Complexo do Alemão

Ícone do modelo de combate à violência e inclusão social nas favelas do Rio, o sistema de transporte por cabos está parado há sete meses

Por Luna Vale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 abr 2017, 09h37 - Publicado em 8 abr 2017, 09h37
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  • Inaugurado com pompa e circunstância em julho de 2011, o teleférico do Alemão se tornou um símbolo da vitória contra o crime em um dos pontos mais violentos da cidade. O sistema formado por seis estações, 25 torres que sustentam 84 toneladas de cabos de aço, 152 gôndolas de tecnologia francesa e um total de 3,5 quilômetros de extensão custou mais de 200 milhões de reais ao governo do estado e encantou moradores e visitantes do Brasil e do exterior. Em uma visita realizada em 2015, a então diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a francesa Christine Lagarde, confidenciou à ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, que a acompanhava, que só havia visto algo parecido nos Alpes. No dia 14, a obra que prometia mudar a vida dos 120 000 moradores do conjunto de treze favelas completa sete meses de total abandono, incluindo quase a totalidade das instalações públicas anexas, como bibliotecas, centros de juventude, núcleos de atendimento jurídico e complexos de lazer.

    A decrepitude precoce do teleférico é parte de um cenário de desolação visível por todo o complexo. Alçado à condição de vitrine do modelo carioca de combate à violência, o imenso conglomerado de favelas assistiu a um aumento maciço na atuação dos órgãos públicos e empresas privadas, desde a ocupação pela polícia e pelas Forças Armadas, em 2010. Hoje, as salas dedicadas a cursos de formação profissional na estação Itararé servem de dormitório aos PMs da UPP vizinha. Do lado de fora, a fachada da 45ª DP, que também funciona no local, ostenta inúmeras marcas das balas disparadas pelos traficantes. Os bancos que instalaram agências nas proximidades baixaram as portas. A Clínica da Família da Estação das Palmeiras encerrou os atendimentos “devido à inviabilidade de prosseguir de forma segura na localidade”, como informa em nota a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Segundo levantamento da plataforma colaborativa Fogo Cruzado, foram contabilizadas 47 trocas de tiros entre janeiro e março deste ano na região. Somando-se os dados do vizinho Complexo da Penha, os confrontos sobem para oitenta em noventa dias.

    Entre as consequências do fechamento do sistema de bondinhos, chamam atenção o fim ou o encolhimento de projetos sociais que ficavam sediados nas estações. Retirar correndo os alunos do campo de futebol para protegê-los dos tiros tornou-se algo tão frequente que o Espaço Democrático de União, Convivência, Aprendizagem e Prevenção (Educap) encerrou seu programa de esportes. Lúcia Cabral, uma das coordenadoras do projeto, lamenta a dificuldade para conseguir patrocínio e o fim de parcerias. “Ninguém quer vincular uma marca a um lugar com esse nível de violência. Perdemos vários interessados em desenvolver projetos, além de professores e alunos”, comenta. O projeto Favela É Fashion, que oferece aulas de moda, deixou a Estação das Palmeiras depois de três anos de funcionamento. “Com o fechamento do teleférico, os alunos não conseguiam chegar e, ao tentar ir a pé, eram surpreendidos por tiroteios”, conta Juliana Henrik, criadora do programa. Procurada, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora informou que o efetivo policial na região se mantém igual desde 2012, com 1 230 homens. O governo estadual, por sua vez, respondeu por meio de nota que o teleférico está parado preventivamente para a substituição de um equipamento que apresentou desgaste. A previsão, segundo o Palácio Guanabara, é que ele volte a operar no segundo semestre.

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