Ele está bombando no Youtube, nos mp3 players, na noite da cidade e até em competições como a Batalha do Passinho. Expressões como “ah lelek” e “quadradinho de oito”, extraídas de letras do funk, viraram memes na internet e bordão entre amigos. O pancadão foi parar até no meio acadêmico, seja como tema de monografias ou formaturas. Recentemente, a funkeira Valesca Popozuda foi escolhida para ser a patronesse da turma de formandos do curso de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF). O ritmo está, definitivamente, na moda. E repaginado. Se antes as boates reservavam parte de sua eclética programação musical ao estilo, hoje há uma penca de festas comandadas exclusivamente pelo batidão, que teve origem nas favelas cariocas e está se tornando cada vez mais pop.
Nascido sob influência da música negra americana da década de 80, o funk conquistou o Rio através de seu compasso frenético e letras ora politizadas, ora sensuais. Entre os precursores deste estilo musical brasileiríssimo está o miami bass, tipo de hip hop com batida contínua e acelerada que chegou à cidade direto da Flórida, com teor sexual muitas vezes explícito, e se tornou a base do funk carioca. Na década de 90, já popular entre os moradores de regiões carentes do Rio, as letras retratavam o cotidiano dos favelados, abordando temas como violência e pobreza. Feira de Acari, música sobre a famosa Robauto, feira de peças de carro roubadas, é um dos raps (ou melôs) que marcaram época neste período. Enquanto isso, o “proibidão”, normalmente com temas vinculados ao tráfico de drogas, começou a fazer sucesso nos bailes dos morros, tornando o funk alvo de preconceito e marginalização. Em paralelo surgia ainda o funk melody, vertente inspirada no freestyle (“estilo livre”) dos Estados Unidos, uma mistura de gêneros como club, dance music, blues e house music, com músicas mais melódicas e temas românticos cantados por artistas como Naldo (sim, ele vem dessa época), Latino, Copacabana Beat, MC Marcinho e Claudinho e Buchecha.
Após a pacificação das favelas, os cariocas começaram a subir o morro em busca de novidade e diversão. No lugar do medo, o funk voltou a despertar curiosidade e foi amadurecendo enquanto estilo musical. Resgatado com uma pegada ainda mais pop, o funk melody faz sucesso, hoje, na noite do Rio. Até o Rei Roberto Carlos se rendeu à batida e gravou, no ano passado, Furdúncio. Além do meteórico Naldo, criador do bordão “vodca ou água de coco”, que se prepara para alçar carreira no exterior, a princesinha do funk Mc Anitta faz parte dessa nova geração do funk carioca com mulheres também dominando o microfone. Se no início dos anos 2000 o funk foi à feira, fazendo despontar um sem número de mulheres frutas que dançavam e depois passaram a cantar músicas erotizadas repletas de duplo sentido, o movimento agora se fortalece com novas artistas que mantêm o tom sensual, porém menos vulgar, como MC Beyoncé, o Bonde das Maravilhas e a própria Anitta, que gravou o clipe Meiga e Abusada em Las Vegas com o diretor Blake Farber, o mesmo de vídeos da cantora Beyoncé. “O pancadão entrou de vez nos estúdios de gravação, se refinou e, com isso, ficou mais comercial”, afirma Jorginho DJ, especialista em funk melody. Agora o funk é pop.
ANOTE NA AGENDA
Listamos a seguir os bailes funk mais badalados da cidade, que acontecem de tempos em tempos de forma itinerante. Fique de olho na programação e divirta-se.
Baile da Favorita. Sucesso entre famosos, o baile aconteceu no Clube Monte Líbano, na Lagoa, no início de abril, em sua primeira vez fora da Rocinha. O segredo do sucesso? São dois: caixas de som capazes de fazer o chão tremer tocando funks cariocas e uma mulher, a promoter Carol Sampaio, dona de uma das listas de convidados mais badaladas do Rio. Clique para ver a programação.
Eu Amo Baile Funk. Com mais de 100 edições já realizadas no asfalto e no morro desde 2005, a festa aposta no funk das antigas com a reunião de DJs e MCs de várias gerações. Entre os convidados que já passaram pelo evento, que já aconteceu na Rocinha, na Ladeira dos Tabajaras e no Fogueteiro, em Santa Teresa, destacam-se Mr. Catra, Tati Quebra-Barraco, MC Sabrina e Stevie B. Clique para ver a programação.
Sambar & Love. O som de Buchecha invade a pista. Ele, que é um dos maiores ídolos do funk carioca, apresenta sucessos novos como Beyoncezinha e Hot-dog, e coloca a galera para dançar ao som de canções antigas como Nosso Sonho e Só Love. A festa itinerante conta ainda com apresentações de outras bandas e artistas convidados. Durante os intervalos, DJs comandam as pick-ups. Clique para ver a programação.
Nosso Sonho Nunca Vai Terminar. A festa que percorre o Brasil todo e, no Rio, aterrissa na Ladeira dos Tabajaras e outras favelas, tem o nome inspirado na canção Nosso Sonho, do cantor Buchecha. Ele é residente do evento ao lado do DJ Bernardo Malta. Clique para ver a programação.
Shake your Quadra. Localizada dentro da favela do Tabajaras, em Copacabana, a Quadra da Vila Rica recebe este evento dedicado ao eletro funk e ao miami bass. Clique para ver a programação.
Baile do Bené. A festa recria o clima dos antigos bailes de morros, favelas e periferias com diferentes expressões artísticas do movimento black, de intervenções visuais de grafite a vídeo-projeções e breakdance. O evento acontece a cada dois meses, promovendo uma mistura musical com clássicos do soul americano dos anos 70, funk carioca dos anos 80 e 90, além de hip hop e rap de todas as épocas. Clique para ver a programação.
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Para ficar de olho: o grupo Carrossel de Emoções, primeiro bloco de carnaval dedicado ao funk, resgata hits do funk e arrasta legiões de cariocas em festas pela cidade ao som de clássicos como Rap da Felicidade, Nosso Sonho, Estrada da Posse, Endereço dos Bailes, Rap do Salgueiro, To Tranquilão, Rap do Silva, Corpo Nu, e claro, Carrossel de Emoções.