Tudo começou com os emoticons e logo evoluiu para os emojis, símbolos que inundaram os celulares via aplicativos de mensagens e mudaram o jeito de as pessoas se comunicarem na virada para o século XXI. O recado dado de forma curta e intuitiva, na verdade, bebe de fonte muito anterior — é como o equivalente moderno da arte rupestre, cravada nas cavernas. Recentemente, deu-se início a uma nova era, somando-se às imagens frases rápidas, que dão toque cômico ou crítico, de espanto ou de alegria, a um mundo de símbolos. Não é preciso escrever nada.
As figurinhas — ou stickers, em inglês — estão à disposição no menu do WhatsApp ou do Telegram, já com dizeres casados a elas. A primeira leva foi de fotos no gênero bebês fofinhos e cães fantasiados, acompanhadas das onipresentes frases de autoajuda. Depois foi a vez dos atletas, políticos e celebridades. A roda seguiu girando, e as figurinhas caminharam para a personalização: qualquer um pode escolher uma fotografia do próprio rosto e produzir um sticker para chamar de seu.
E, como onde tem demanda a oferta floresce, uma indústria de aplicativos feitos sob medida para as pessoas criarem figurinhas com o próprio rosto apareceu e prosperou. Meia dúzia de cliques na tela do smartphone e, voilà, você virou um sticker. Basta compartilhar. “Sou capaz de manter uma conversa inteira só com eles”, conta a jornalista Ana Paula Araújo, apontada por amigos como “a rainha das figurinhas”. Dona de uma invejável coleção de cerca de 500 delas, com as mais variadas expressões, Ana Paula debutou nesse universo ao receber uma figurinha sua em um grupo de WhatsApp. “Morri de rir e passei adiante. Estou meio viciada na brincadeira”, diz.
A jornalista costuma ainda travar “batalhas”, coisa comum entre usuários de stickers. Tradução: trocas rápidas dessas imagens em um diálogo frenético. “É um humor cáustico em que muitas vezes não vence a razão, mas a melhor figurinha”, explica Ivana Bentes, da pós-graduação em comunicação da UFRJ. Uma boa medida da febre dos símbolos personalizados são os acessos a aplicativos especializados, como o Sticker.ly. Criado há menos de um ano, ele já foi baixado mais de 10 milhões de vezes apenas na versão para Android; na App Store, do iPhone, no início de janeiro chegou a figurar em primeiro lugar no ranking da categoria Utilidades, vencendo até o Google e o Google Chrome.
“Os stickers acabaram virando uma grande piada interna dentro dos grupos”, observa Dandara Magalhães, mestre em comunicação pela UFF e responsável pelo Museu de Memes. “A cultura digital brasileira é muito ligada aos memes, daí o sucesso das figurinhas. Fazem parte da nossa identidade on-line”, enfatiza. “Eu ainda não tenho essa habilidade de criar minhas figurinhas, mas adoro quando recebo as que fazem de mim”, diz a cantora Fafá de Belém, que deu origem ao bordão “kkk amada!” durante uma entrevista (no mundo digital, seria o equivalente a um “como assim?”). Não demorou muito e a figurinha com a interjeição já estava circulando por aí. “Comecei a compartilhar na mesma hora.”
Em uma conversa por mensagens com VEJA RIO (praticamente à base de figurinhas), o ex-prefeito Eduardo Paes deixou claro que gosta de acioná-las para cutucar o atual alcaide, Marcelo Crivella: “Sentindo minha falta, né?”, diz um dos stickers, sob uma foto sua recortada. Provável candidato à prefeitura no pleito deste ano, ele adora compartilhar imagens que reafirmam sua carioquice. Há, por exemplo, versões de Paes tocando agogô e segurando um galão de mate na praia. Outra muito usada por ele é a de Crivella fazendo o gesto de “joinha” emoldurado pela legenda: “Tudo sob controle”. Nesse ritmo, a história das eleições de 2020 tem tudo para ser contada em forma de figurinha