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Uma busca por autores da periferia

Mangueira recebe terceira edição do evento que se consolida como um grande projeto cultural para comunidades

Por Luna Vale
Atualizado em 2 jun 2017, 12h55 - Publicado em 11 nov 2014, 18h09
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  • Desde a inauguração da primeira Unidade de Polícia Pacificadora, em 2008, a ideia é repetida como um mantra: o inovador plano de combate à criminalidade deve ser associado a projetos de educação, saúde, cultura e emprego, para que se chegue à efetiva inclusão social das favelas cariocas. Em meio ao intenso debate inspirado por sucessos e tropeços na trajetória das UPPs, esse parece ser o único consenso a unir do secretário de segurança pública José Mariano Beltrame ao anônimo morador de um morro carioca. Entre um e outro, Ecio Salles, ex-secretário municipal de Cultura de Nova Iguaçu, e seu então adjunto no cargo, o jornalista e escritor Julio Ludemir, encontraram um caminho original e bem-sucedido. Inspirados por programas de leitura e trabalhos com jovens realizados no município da Baixada, eles criaram em 2012 a Flupp, batizada como Festa Literária Internacional das UPPs. A caminho da terceira edição, que começa na quinta (12), o evento manteve a abreviatura, transformada em marca conhecida, mas mudou de nome para ampliar seu alcance. A Mangueira abriga, até o domingo, dia 16, a Festa Literária Internacional das Periferias.

    + Confira a programação completa

     

    O público esperado, de 20 000 pessoas, não tem nada de exagerado ou otimista – é o mesmo mobilizado no ano passado, em Vigário Geral, e o dobro do número de pessoas reunido na edição de estreia, no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. Parte da programação é a de uma feira literária típica, composta de conversas com autores convidados, mesas-redondas e palestras. Homenageado da vez, Abdias do Nascimento (1914-2011), político, intelectual e militante do movimento negro, tem seu centenário celebrado este ano. O lado mais vibrante da agenda inclui shows do rapper francês D’de Kabal, na noite de abertura, e de sua colega americana Toni Blackman, no encerramento. Também prometem as sessões de slam poetry, uma espécie de desafio de poesia. Ludemir, idealizador das batalhas do passinho, duelos de dança que tornaram-se um fenômeno pela cidade, agora aposta nos versos para mobilizar a garotada. E não está sozinho. Entre os convidados há um especialista em slam poetry: o italiano Dome Bulfaro.

    Hugo Germano apresenta performance no Slam poetry
    Hugo Germano apresenta performance no Slam poetry ()
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    Outros dos convidados aguardados são o camaronês Boniface O’fogo, um respeitável griot, ou contador de histórias, a escritora sul-coreana Hwang Sun-mi e a inglesa Hannah Walker. São vozes da periferia mundial, personagens com uma biografia de superação ou um trabalho que questiona a sociedade contemporânea. No segundo time, Hannah Walker comandará o projeto Poemas para Viagem, em que versos serão criados em, no máximo, quinze minutos, a pedido dos visitantes. Esse lado surpreendente da Flupp busca incentivar autores e leitores em um universo, o das favelas, ou periferias, onde tudo conspira contra eles. “Em algum momento foi considerado delírio ter uma festa literária em uma favela. Como se a literatura nunca pudesse vencer essa nova fronteira”, diz Julio Ludemir.

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    Experiências de vida comprovam os bons resultados obtidos desde 2012. Um caso exemplar é o de Jessé Andarilho, jovem criado na favela de Antares, na Zona Oeste. Aluno com muitas faltas e reprovações no currículo, Jessé passou a escrever ficção – em viagens de trem, no bloco de notas de seu celular – depois de frequentar as oficinas literárias Flupp. Em julho, lançou Fiel, a história da ascensão e queda de um traficante carioca, livro editado em parceria entre a editora Objetiva e a Favela Holding, empresa de Celso Athayde, ex-presidente da Central Única das Favelas (Cufa). “Na Flupp eu pude ter contato com a galera mais renomada e fui aplicando o que eles falavam ao meu texto. Isso me fez ver que era possível, só precisava correr atrás”, conta o jovem autor. Em um processo preparatório para o evento, seus organizadores costumam percorrer favelas da cidade oferecendo palestras e oficinas. No primeiro ano, esse trabalho resultou em um livro de contos de 43 novos autores – Jessé Andarilho era um deles. Com o que será publicado este ano, a Flupp chega à marca de quatro obras reunindo 97 escritores iniciantes saídos da periferia brasileira.

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    Poetas se preparam para participar da terceira edição da FLUPP
    Poetas se preparam para participar da terceira edição da FLUPP ()

    “Buscamos vencer essa ideia de que as favelas são espaços de carência, e não de potência, e que, por isso, deveriam ser evitadas e não incluídas”, afirma Ecio Salles. Essa proposta de inclusão colaborou para a realização da edição 2014 na Mangueira, um espaço mais acessível a moradores que saem de outros bairros. Haverá transporte gratuito até o morro a partir das estações de metrô e trem do Maracanã. “Queremos que o evento fale para a cidade a partir da periferia”, explica Julio Ludemir.  “Essa juventude das favelas é a das pós-pacificação, é menos contaminada pela narrativa da violência, também curte Harry Potter, Tolkien, Crepúsculo”, explica. Com estímulos como o da Flupp, o processo de reconquista e inclusão avança efetivamente. 

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