Fruto de uma campanha de ex-colegas do Colégio Santo Inácio, a internação de Carlos Eduardo Maranhão, 46 anos, na Clínica Revitalis, em Araras, teve um desfecho trágico menos de uma semana depois. Anunciada pelo amigo Carlos H. Moreira Junior em uma rede social na noite de quarta (7), a morte do carioca que vivia há 25 anos nas ruas e foi encontrado na Cracolância de São Paulo causou comoção. Procurado por VEJA RIO, o psiquiatra Sergio Rocha, diretor médico da unidade de reabilitação, explica a seguir como Maranhão chegou ao local para se tratar, em que circunstâncias ele passou mal e o que foi feito na tentativa de reanimá-lo.
1) Em que situação se encontrava o paciente Carlos Eduardo Maranhão quando chegou à Clinica Revitalis? Foi encaminhado ao local por amigos de colégio ou pela família?
Sergio Rocha – Carlos chegou à clínica deambulando, se comunicando coerentemente, voluntário, vindo de uma situação de rua. Estava com higiene pessoal precária e um pouco emagrecido. Por sigilo profissional, não podemos expor quem o estava acompanhando na ocasião.
2) Embora o paciente tenha sido localizado na Cracolândia de São Paulo, não ficou claro que tipo de drogas ele usava. Nesses primeiros dias de internação, a clínica já havia feito um diagnóstico do que era usuário? Falava-se de crack, cocaína e heroína.
Sergio Rocha – Sim. Conforme relatado na mídia, o paciente era dependente de drogas, com ênfase em heroína e crack.
3) Como é o processo de desintoxicação num caso como o dele? O paciente toma algum medicamento? Há riscos cardiovasculares?
Sergio Rocha – O processo de desintoxicação envolve cuidados clínicos, psiquiátricos, nutricionais e psicológicos. Todos foram contemplados em nossa clínica. A medicação é ministrada de acordo com a patologia apresentada pelo paciente. Sempre consideramos os riscos cardiovasculares em todos os pacientes internados.
4) Que horas exatamente Carlos Eduardo Maranhão morreu? Em que circunstância? Ele foi encontrado morto ou faleceu durante algum procedimento?
Sergio Rocha – Ele teve um mal súbito quando estava dormindo. Nossa equipe percebeu imediatamente que o paciente estava passando mal. Realizamos todos os procedimentos de ressuscitação cardio pulmonar. O óbito foi declarado as 17:21 do dia 07/06/2017.
5) Quais especialidades médicas estavam acompanhando o paciente?
Sergio Rocha – Clínica e psiquiátrica.
6) Ao dar entrada na clínica ele chegou a fazer algum check-up? Qual é o procedimento padrão?
Sergio Rocha – Todo paciente que chega à clínica com sinais de descompensação, após ser avaliado pela equipe de plantão, é encaminhado para uma emergência para avaliação mais pormenorizada. Na ocasião da admissão do paciente, não apresentava situação de emergência. Todos os exames e investigações estavam em curso dentro da rotina habitual.
7) O fato de Carlos Eduardo Maranhão ser usuário de drogas há mais de 30 anos o tornava um paciente mais vulnerável a intercorrências durante um tratamento?
Sergio Rocha – O tempo de uso de uma droga é um dos fatores que observamos ao tratar um paciente. No entanto, isoladamente, não tem um valor preditivo determinante para definição de vulnerabilidade clínica.
8) Há sempre o risco de um paciente vir a óbito durante um processo de desintoxicação mesmo com acompanhamento médico? Qual é a porcentagem de risco de morte num tratamento como este?
Sergio Rocha – Nossa clínica atende em média 250 pacientes por ano. Considerando que cada paciente possui um tempo médio de internação de 2 meses, desde a nossa fundação, nunca tivemos a experiência de óbito. Diríamos que esse risco é muito reduzido e o caso do Sr. Carlos Eduardo foi um evento fatídico espontâneo.