Nos anos 60 do século passado, Brigitte Bardot, em seu auge, passou um tempo entre Rio e Búzios. Após a comoção inspirada por seus primeiros dias de visita, a estrela de cinema virou protagonista de anedota quando, ao entrar no bar Antonio’s, então o Q.G. da boemia na Zona Sul, foi saudada com um “lá vem a chata da Brigitte Bardot de novo”. Tão difícil de passar despercebido quanto a platinada diva francesa, lá vem o verde-oliva das Forças Armadas brasileiras. De novo. Sob o pretexto um tanto vago de apoiar a Polícia Militar no combate aos protestos diante da Alerj e dos quartéis da própria PM, o combalido governo do Rio pediu socorro. Na terça 14, chegaram à cidade 8 000 homens do Exército. Um contingente de 1 000 fuzileiros navais também foi incumbido de patrulhar a orla, entre outros pontos, aliando-se ao já presente efetivo da Força Nacional. Repete-se um roteiro conhecido dos cariocas: nas últimas décadas, as tropas foram convocadas inúmeras vezes — e por motivos diversos. Garantiram o vaivém de estadistas na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em 1992, na Copa do Mundo, em 2014, e na Olimpíada, no ano passado. Ocuparam os complexos do Alemão, em 2010, e da Maré, quatro anos depois. A banalização de recurso tão extremo traz efeito colateral. Soldados não têm treinamento para atuar como policiais, mas para dizimar inimigos em campo de batalha. Alguns episódios que envolveram a tropa no Rio evidenciam a falta de traquejo. Em 2008, militares no Morro da Providência sequestraram três jovens moradores e os entregaram para a morte, nas mãos de traficantes de uma favela vizinha. No ano passado, um integrante da Força Nacional foi executado por bandidos quando sua patrulha entrou, por engano, na Maré. Na quarta 15, fuzileiros abateram a tiros um suspeito de praticar assaltos na Avenida Brasil. Ante a exibição ostensiva de força, a melhor tática talvez seja a da moça aí da foto: abrir um sorriso, pedir licença e seguir em frente.