Personagem da vida pública brasileira desde meados do século passado, o mineiro Francisco Dornelles assumiu, aos 81 anos e pela primeira vez, o papel de governador. O vice de Luiz Fernando Pezão começou a despachar em seu lugar na segunda, 28 de março, após o anúncio do afastamento do titular, por trinta dias, para o tratamento de linfoma não Hodgkin, um tipo de câncer que afeta o sistema de defesa do organismo. Ex-ministro da Fazenda no governo da redemocratização montado por seu tio Tancredo Neves, ocupante das pastas da Indústria, Comércio e Turismo e do Trabalho e Emprego, durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso, Dornelles (que também é primo de segundo grau de Getúlio Vargas) foi deputado federal por vinte anos, de 1987 a 2007, e senador entre 2007 e 2014. Hábil articulador, passou por um cordão de agremiações políticas e, hoje, engrossa as fileiras do Partido Progressista (PP), o campeão nacional de quadros investigados na Operação Lava-Jato.
O governador em exercício, respeitado por pares e rivais, vai precisar muito da experiência e do prestígio que conquistou. Franco, em entrevista ao jornal O Globo, ele mesmo definiu a situação do estado como “trágica”. Não há dinheiro para pagar salários. Na quarta-feira, dia 30, Dornelles visitou Pezão no hospital e seguiu para a Assembleia Legislativa, onde o aguardavam temas espinhosos como a liberação de um empréstimo de 1 bilhão de reais do BNDES para a conclusão da Linha 4 do metrô. Do lado de fora do Palácio Tiradentes, professores da rede estadual em greve manifestavam-se em meio a nuvens de spray de pimenta. Na Zona Norte, na mesma hora, Madureira vivia o terceiro dia de convulsão nas ruas, provocada pela trágica morte, por bala perdida, de uma criança de 4 anos no domingo de Páscoa. Não vai ser fácil, governador.