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Os superbarnabés

Escolhido como a elite do funcionalismo público, um seleto grupo de servidores tem a missão de mudar a imagem de ineficiência do setor

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 14h26 - Publicado em 8 ago 2012, 12h47
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funcionario-publico-01.jpg (Redação Veja rio/)
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Especialista em informática, Carlos Henrique da Silva é apaixonado pelos estudos, possui cinco pós-graduações, outros tantos certificados internacionais e um especial talento para projetos de tecnologia. Com tantas qualidades, seria o profissional dos sonhos de qualquer grande empresa. Mas Silva preferiu seguir por outro caminho, tornando-se funcionário público. Como milhares de colegas, ele cumpre horário das nove às cinco em um emprego imune a demissões. O analista de sistemas, no entanto, está longe de se enquadrar no estereótipo do barnabé, aquele servidor que pendura o paletó na cadeira e gasta o dia entre tarefas burocráticas e as rodinhas de conversa no cafezinho. Concursado em 1996, já capitaneou empreitadas notáveis como a centralização de todos os computadores de grande porte da prefeitura em um único local, a ampliação da rede de banda larga da Cidade Nova e – seu maior orgulho – uma pequena revolução que diminuiu o tempo de atendimento aos usuários da rede municipal de dados. Antes, uma solicitação feita nas repartições ao chamado help desk levava em média uma semana, hoje acontece em no máximo sete horas. “Já recebi inúmeras propostas da iniciativa privada, mas a possibilidade de fazer uma cidade melhor para os meus filhos não tem preço”, diz Silva, que ocupa o cargo de chefe de escritório de projetos da IplanRio e, desde junho, faz parte de uma espécie de esquadrão de elite entre os servidores.

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A ideia de formar um time de superfuncionários, no qual Silva está incluído, é uma forma que a prefeitura encontrou para acabar com a ineficiência e o desmazelo que sempre dominaram o serviço público. Por meio de provas, 149 servidores de todas as secretarias e empresas públicas cariocas foram selecionados para participar de um curso de gestão no Coppead, centro de referência em administração e finanças da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Batizado de Líderes Cariocas, o projeto tem como objetivo não apenas oferecer uma nova especialização profissional mas também realocar talentos de reconhecida competência em cargos-chave da administração pública, historicamente preenchidos por indicações políticas. Com o programa, a ser realizado anualmente, planeja-se ocupar 336 posições consideradas estratégicas para a cidade a médio prazo. “A proposta não é apenas treinar e qualificar um grupo de servidores, mas, sim, melhorar o serviço público como um todo”, diz o secretário da Casa Civil Guilherme Schelder. “Queremos não apenas melhorar o padrão das ações públicas como também garantir sua continuidade por meio de funcionários mais preparados para exercer suas funções, seja quem for o prefeito.”

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As ambições do programa, de fato, não são pequenas. Ao mesmo tempo em que se alinha com a tendência internacional de formar administradores públicos em instituições de primeiríssima linha, como a americana Kennedy School of Government, na Universidade Harvard, e a francesa École Nationale d?Administration (ENA), a especialização oferecida pela Coppead mantém firmes raízes na iniciativa privada. As diferenças do curso para o MBA tradicional da escola, muito procurado por executivos de todo país, são mínimas. A afinação com o universo empresarial é tamanha que o presidente da fundação criada especificamente para gerir o projeto, Rodolfo Coelho, fez carreira na AmBev, empresa criadora de um modelo de administração considerado lapidar, tanto no Brasil quanto no exterior. Entre os destaques do curso está o formato da avaliação, feita por meio de um trabalho em que os alunos, reunidos em grupos de três, desenvolvem uma proposta para a cidade ligada ao plano estratégico da prefeitura – e que não precisa estar necessariamente relacionada a suas áreas de atuação. A médica Betina Durovni, por exemplo, conduz um estudo de mobilidade urbana e uso de bicicletas. “É estimulante trabalhar em algo novo. Eu já me sentia meio desanimada depois de tantos anos de funcionalismo”, diz a médica, que foi responsável pela criação do programa de atendimento a pacientes com aids e das clínicas de atendimento primário do município. Cética, em princípio, ela nem acreditava muito que o trabalho acadêmico era a sério. “É surpreendente, mas a nossa proposta pode mesmo sair do papel. Temos reuniões com as secretarias envolvidas e tudo leva a crer que será implantada”, acredita Betina.

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Queixa comum entre os funcionários públicos, a falta de motivação é apontada como uma das principais causas para o desempenho sofrível de boa parte dos servidores. É um sentimento particularmente nefasto entre aqueles que esperam desenvolver uma carreira e projetos de longo prazo na esfera governamental. Para reverter esse cenário, o programa Líderes Cariocas prevê que, ao saírem das salas de aula, os recém-formados passem a ter metas individuais com recompensa de até dois salários para quem alcançá-las. Entretanto, mais do que compensação financeira, o que enche os olhos dos participantes é o reconhecimento de seu talento entre os colegas. “As pessoas ficam admiradas, me perguntam como é o curso, quem mais está fazendo e, principalmente, quando é a próxima seleção”, conta Sandra Matheus, coordenadora do programa de alunos atrasados da Secretaria de Educação. No comando de um esquadrão de 1?000 professores que formaram 15?000 alunos no ano passado, ela vive uma experiência única desde que passou a frequentar as aulas na Coppead. Pela primeira vez em 26 anos de magistério, Sandra se sente uma celebridade.

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