Quando as portas da ampla loja localizada na Avenida Ataulfo de Paiva foram abertas, há exatos dezessete anos, os cariocas se encantaram de imediato com o que viram. Em um amplo espaço de 1?400 metros quadrados, no coração do Leblon, surgia o Garcia & Rodrigues, um oásis para gourmets e amantes da boa mesa. A inspiração vinha de complexos gastronômicos europeus e oferecia, num mesmo espaço, delicatessen, rotisseria, padaria, confeitaria, restaurante, adega e loja de utensílios de cozinha. Ao redor do salão principal, vitrines de doces, pães, sorvetes, frios e embutidos importados eram um convite à gula e atraíam um sem-fim de artistas, celebridades e bem-nascidos. Já na estreia, tudo indicava que o Garcia, como o chamava a clientela mais fiel, faria história. E fez. “Nada igual surgiu depois dele, só vi lugares assim em Paris e Nova York. Meu sonho era ter dinheiro para comprá-lo e passar para alguém administrar”, conta o novelista Manoel Carlos, que frequentava o lugar diariamente e esboçou em meio a suas mesas muitos capítulos de suas tramas. Há três semanas, porém, depois de tornar-se uma pálida sombra do que foi no passado, o Garcia acabou de vez, com o fechamento simultâneo, e discreto, das últimas duas unidades que ainda havia na cidade, na Rua Dias Ferreira e no BarraShopping.
É verdade que, apesar do sucesso indiscutível entre os clientes, a ousada empreitada da dupla de restaurateurs João Luiz Garcia, hoje à frente do Lorenzo Bistrô e da Casa Carandaí, e Luiz Antônio Rodrigues, dono da Brasserie Rosário, nunca chegou a apresentar a mesma performance do ponto de vista econômico. “O projeto já saiu do papel cinco vezes maior do que o planejado”, recorda Garcia. Mesmo minada por problemas nos bastidores, como briga entre sócios e atropelos administrativos, a casa, com seu charme cosmopolita, se manteve de pé. O negócio, contudo, começou a desandar por completo em 2007, quando o controle da empresa passou às mãos de novos sócios, que hoje fazem parte da holding Brasil Foodservice Group (BFG). A ideia era promover uma espécie de lipoaspiração ? enxugar gastos e otimizar processos ? para pavimentar um ambicioso plano de expansão através de lojas menores. Dentro desse cenário, a matriz se tornou um elefante branco que foi fechado em 2011. Ainda assim, outras unidades foram espalhadas por cinco cidades brasileiras. Nenhuma prosperou. O mesmo destino acomete outros negócios do fundo, como a rede de churrascarias Porcão, que também vive uma crise financeira. Procurados, os executivos da BFG se limitaram a responder, por meio de sua assessoria de imprensa, que o Garcia continua em reestruturação (mesmo sem nenhuma loja aberta) e que negociam a entrada de novos investidores. A ideia é abrir uma central de produção na Penha e vender os produtos Garcia & Rodrigues em supermercados finos. Tal operação, acreditam eles, sustentará a abertura de novas lojas, entre elas o emblemático endereço do Leblon, onde tudo começou. Por enquanto, são apenas promessas. O que resta mesmo são as boas lembranças.