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Google lança exposições on-line com acervo histórico de moda

Plataforma reúne 20 000 imagens de roupas e acessórios que contam a história da moda no Brasil e no mundo, de Salvatore Ferragamo a Carmen Miranda

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 jun 2017, 10h00 - Publicado em 10 jun 2017, 10h00
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  • Apreciar os maiores tesouros da humanidade nunca foi tão simples e, principalmente, barato. Separados por milhares de quilômetros, os acervos de templos da cultura como o Musée d’Orsay, em Paris, e o MoMA, em Nova York, hoje ficam a apenas alguns cliques de mouse de distância um do outro. Em um projeto que já dura seis anos, o Google vem digitalizando a herança cultural do planeta e disponibilizando todo o conteúdo gratuitamente na plataforma Arts & Culture. Ali estão imagens de obras e artefatos de museus, galerias e institutos culturais em mais de setenta países. Na quinta (8), o site ganhou um novo e importante departamento, voltado exclusivamente para a moda.

    Cerca de 20 000 peças de mais de 170 instituições podem ser apreciadas em exposições virtuais com imagens de altíssima resolução e experiências de realidade virtual. Há criações de Karl Lagerfeld para as grifes Chanel e Fendi, modelitos da espanhola Balenciaga e os sapatos de Salvatore Ferragamo usados por Marilyn Monroe e Audrey Hepburn. Em meio a essa coleção vultosa, o Rio está muito bem representado. Galerias virtuais do Museu Carmen Miranda, do Museu da Moda Brasileira, do Museu Imperial de Petrópolis e do Instituto Moreira Salles dão o tom da carioquice e brasilidade no mundo fashion. O Museu do Índio também foi incluído, com uma curiosa mostra sobre a origem e o misticismo das miçangas. “A ideia é mostrar que até mesmo o que nós vestimos é cultura”, afirma Alessandro Germano, diretor de parcerias do Google.

    Fechado para visitação há dois anos, o Museu Carmen Miranda, no Parque do Flamengo, disponibilizou cinco exposições on-line sobre o exótico vestuário da cantora. Colorido, repleto de balangandãs e encimado pelo indefectível turbante de frutas tropicais, o visual virou ícone do Brasil mundo afora em meados do século passado. Batizado como “Miranda Look”, foi inspirado nas vendedoras de quitutes que se vestiam de baiana na Praça XI, no Centro. Nos catorze filmes que rodou em Hollywood, Carmen envergou figurinos que podem ser comparados, em valor histórico, aos usados por Marlene Dietrich e Marilyn Monroe. Entre os itens imperdíveis da mostra estão a roupa usada na homenagem que recebeu na Calçada da Fama, em 1941; as do filme Copacabana (1946), que a alçou ao posto de ícone da moda, e a indumentária de seu último show, em 1955. “Nunca segui modismos. Acho que a mulher tem de vestir o que lhe cai bem. Por isso, criei meu estilo próprio”, disse, certa vez, em uma entrevista.

    Para realizar as novas imagens, o Google criou uma câmera especial, capaz de registrar objetos históricos e obras de arte em gigapixel, resolução maior do que a de qualquer câmera digital. A art camera, como é chamada, é equipada com laser, para guiar o foco, sonar, que se vale de ondas de alta frequência para medir distâncias, acelerômetro, para detectar vibrações, e um sistema robótico, para se movimentar. “A máquina tira várias fotos de detalhes de uma mesma peça. Em seguida, as fotografias são costuradas pelo nosso software até formar uma única imagem com qualidade de bilhões de pixels”, explica Tomás Nora, gerente de projetos da companhia. O recurso permite apreciar o traje do imperador Pedro II, do Museu Imperial de Petrópolis, por exemplo, com um grau inédito de precisão. O mesmo vale para as imagens de Otto Stupakoff (1935-2009), precursor da fotografia de moda no Brasil, em cartaz na exposição virtual na seção destinada ao Instituto Moreira Salles.

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    Museólogos e gestores de instituições culturais consideram a tecnologia desenvolvida pelo Google uma ferramenta poderosa no processo de democratização do acesso à arte. “Além de divulgar os museus, os tours e as galerias virtuais acabam estimulando as pessoas a visitar as exposições físicas”, avalia Marcelo Araújo, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Pouco conhecido, o Museu da Moda Brasileira, que há anos está para ser inaugurado na histórica Casa da Marquesa de Santos, em São Cristóvão, oferece aos internautas uma interessante mostra on-line sobre a origem dos leques, por exemplo. O artefato inseparável das damas da corte brasileira, além de ajudar a aplacar o calor, era um importante elemento nos códigos sociais do período imperial. Com o acessório, as mulheres sinalizavam se estavam disponíveis para um flerte ou se uma conversa estava encerrada.

    Igualmente curiosa, uma coleção de carnês de baile guardados nesse mesmo museu traz preciosidades como os registros do Baile da Ilha Fiscal, o último do império. Funcionavam como uma espécie de diário, onde as moças costumavam anotar o nome dos parceiros de dança em cada festa. Uma terceira exposição da casa revela a importância do ilustrador, estilista e designer Alceu Penna (1915-1980) para a moda brasileira. Seus croquis publicados em importantes revistas entre as décadas de 30 e 70 influenciaram a maneira de se vestir no país. Seus esboços estão todos lá, na internet, acessíveis por desktops, smartphones e tablets. É só clicar, navegar e curtir muito.

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