Para encerrar de vez o linchamento moral do malfalado 2016, o ano novo já começou sacudido por uma rebelião no complexo penitenciário de Manaus, seguida pela chacina de dezenas de presos com requintes de crueldade. Ainda sob o efeito dos episódios de horror na capital amazonense, a sociedade acompanhou outra tragédia do mesmo gênero em Roraima. Logo depois foi a vez de Natal, capital do Rio Grande do Norte, dar sua contribuição para a lista de mais de 120 assassinatos nos primeiros catorze dias de 2017, todos dentro de cadeias brasileiras. Os crimes são resultado de embates entre facções criminosas que, atrás das grades, dominam os presídios, desempenhando o papel do Estado. E o Rio, o que tem a ver com isso? Muita coisa. Desde o começo do ano, a movimentação no sistema penitenciário fluminense inspira preocupação. Foram registradas brigas e tentativas de fuga acima do número rotineiro, além de transferências em massa, de cerca de 600 presos, para evitar conflitos.
Na terça 17, a trama se complicou com o anúncio das greves de policiais civis e agentes penitenciários, em protesto contra salários atrasados e graves problemas de estrutura. Nas penitenciárias, a entrada de visitantes e advogados foi suspensa, o que não costuma melhorar o humor dos apenados. Dirigente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal, o inspetor Gutembergue de Oliveira dá detalhes do descalabro. Em sua exposição de motivos para a deflagração da paralisação de 48 horas, comenta que “a relação preso X inspetor chega a 200 para 1 em algumas unidades, quando a recomendação do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) é de 5 para 1”. Na cidade de Japeri, denuncia Gutembergue, profissionais vêm sendo revistados e assaltados no caminho entre a casa e o trabalho, em um dos três presídios do município. Infelizmente, o Rio tem muito a ver com o problema.